Jovens em pose após desfile de 7 de setembro
O babaçu (Orbignya phalerata) foi a tal ponto importante para a consolidação do municÃpio de Babaçulândia que lhe legou o topônimo. Nas décadas de 1940 e 1950 a cidade viveu o auge da exploração do coco dessa palmeira, atraindo migrantes de várias cidades próximas e de estados como Maranhão, Piauà e Ceará empregados na atividade extrativa da amêndoa e posterior negociação com outros centros do PaÃs, principalmente Belém do Pará.
Antes disso Babaçulândia chamava-se Nova Aurora do Coco¹, também uma referência ao babaçu abundante na região. Tinha contudo, desde a sua fundação como núcleo populacional à margem esquerda do Rio Tocantins por volta de 1926² até inÃcios da década de 1950³, seus 3.161 km² ocupados por fazendas de criação de gado, acentuada população rural e uma economia baseada na agricultura de subsistência. Nada que fosse diferente da maioria dos municÃpios brasileiros. Reproduziria tardiamente com o babaçu o que fora comum no Brasil colonial: o agroextrativismo exportador.
Babaçu: uma riqueza a espera de sua vez
O babaçu não era um desconhecido das populações do norte tocantinense. ConstituÃa componente da dieta alimentar, utilizado na produção do óleo comestÃvel, e fornecia material para produção de utensÃlios e moradia das populações pobres. Um aprendizado que remontava ao contato do português com os indÃgenas nos tempos coloniais. “Câmara Cascudo nos conta que, já em 1612, o frei viajante Claude d'Abbeville informava sobre a importância dos ‘frutos da palmeira’ na alimentação dos indÃgenas do nordeste do Brasil, ‘lá nas bandas de Pernambuco e Potiú’. Tal palmeira era, provavelmente, o babaçu, batizada na lÃngua tupi de uauaçu.â€4
O processo de industrialização do babaçu no Brasil teve inÃcio no primeiro quartel do século XX5, mas só atingiu economicamente Babaçulândia a partir da década de 1940, determinado por fatores de ordem internacional como veremos adiante.
O desenvolvimento da quÃmica orgânica no final do século XIX foi fundamental para o avanço da cosmética e com ela o aproveitamento da amêndoa do babaçu na produção do ácido láurico6 nas décadas seguintes, matéria-prima importante nessa atividade industrial.
No Maranhão, no intervalo das duas guerras mundiais, o interventor do Estado, Paulo Ramos (1936/45), lutou incansavelmente para que a iniciativa privada desse o tratamento que o babaçu merecia como fonte de recurso natural7.
Embora não sendo a fonte principal de produção do óleo láurico8, perdendo para o coqueiro e o dendezeiro, o babaçu foi valorizado pelo crescimento do consumo do produto no mercado internacional desde a década de 1930 e pela dominação japonesa no Sudeste Asiático durante a Segunda Guerra Mundial9.
Estavam criadas as condições para a consolidação de Babaçulândia como municÃpio e o auge da atividade econômica de exploração do babaçu.
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O tÃtulo está muito bom. Você conjuga com propriedade Poesia e Historiografia (talento de poucos), sem misturar as coisas.
Texto muito importante para o Arquivo Histórico Nacional, sobretudo por tratar-se de tema deveras importante para o próximo advento da revolução tecnológica: a redescoberta dos recursos naturais.
Destaque também para o resgate da história ribeirinha, da navegação e da velha omissão do Estado no desenvolvimento dos povoados e cidades que ele insistentemente estimulou serem criadas. Aqui, com certeza, encontraremos a economia de mercado assumindo o papel do Estado. Este, por sua vez, só demonstrará interesse pela região à vista de auferir lucros com os impostos. É o que costumo chamar de "O Estado como braço da economia de mercado".
Mas, para mim, o mais interessante em seu trabalho é poder comparar que em quase todo o paÃs a economia do Brasil República sempre seguiu os parâmetros do endocolonialismo (1). Explico, o "revés do Babaçu" é o memso revés da erva-mate, do quebracho e de tantos outros prósperos ciclos econômicos de caráter meramente extrativista e de organização desordenada (reservadas as particularidades).
É o revés das economias cujo alicerce não tem vÃnculo com a identidade local, nem preocupação com o desenvolvimento da economia regional. Neste caso, o lastro geralmente está amarrado ao capital especulativo internacionalizado.
O resultado sempre é o mesmo, mudam os ventos e uma próspera cidadezinha entra em declÃnio vertiginoso por décadas. Muitas vezes para numca mais.
E o que é pior, a população continua crescendo porque o excedente populacional (geralmente sem qualificação) criado na cidade em função da demanda econômica anterior, fica por ali mesmo, se multiplicando como fazem os coelhinhos. Sem qualquer atenção. Nem de governo, nem do mercado.
Porém, a redescoberta dos recursos naturais e a crescente onda pelo resgate e afirmação da identidade cultural do interior brasileiro podem fazer ressurgir um novo momento de desenvolvimento, quiçá, desta vez, sustentável.
(1) Endocolonialismo: "Colonização das camadas dominantes sobre a população colonizada" (Sevcenko, 2000), ou anteriormente colonizada. É a perpetuação do antigo padrão colonizador (despótico e excludente) sobre um povo sem identidade cultural firmada, de baixo nÃvel educacional e sem qualificação profissional.
Parabéns meu caro amigo, seu material merece publicação! Você é um daqueles dos quais André Pessêgo disse "reescreverão a História do Brasil".
Abraços e desculpa o devaneio, fiquei empolgado.
JJ,
gostei muito do resgate histórico enviado. Pude identificar na foto muitas pessoas que conheço, inclusive parentes. Continue com este belo trabalho, pois acredito que pessoas como você oferecem uma contribuição inestimável para a história do nosso paÃs, sobretudo no que se refere aos valores culturais que são muitas vezes massacrados, e que precisam ser resgatados.
Um abraço,
JRN
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