O CABECEIRA FL�VIO BADARÓ

O CABECEIRA FL�VIO BADARÓ

Raphael Reys

O Boa Praça Flavão Andrade, O Flávio Badaró, nos deixa aos 49 anos de idade e vai para os mundos súperos. Phisique du role de lutador de sumô, pose de sheik na mesquita tropical. Natureza sensível e emocional aderia ao metal do blues.
Sacando o som do saxofone de Armando Barros que, segregado à mística de Chet Baker, vagava na trilha sonora de My Funny Valentine.
Juntamente com seus amigos fieis e diletantes, Rogério Borges, Estevinho e Armando companheiros som e de cruz fazem pousada no Bar Buraco Quente do Zezinho, no bairro do Melo. Lá patrocinam a segunda sem lei e a quarta com lei.
Embora fosse solteirão convicto e abstêmio, frequentava a noite com amigos, sempre abraçado a uma garrafa de Coca Cola. Sorriso largo, epidérmico e expressivo. Aonde chegava era alegria na certa.
Lembra-me uma tarde em que conversávamos, na sua Rádio Metrópole, entrevistados por Estevinho. Falávamos da saudade provocada pela ausência da cantora Aline Mendonça.
Toda vez que o encontrava me vinha à mente um trecho de El Tango de JL Borges:
¿Dónde estarán aquellos que pasaron,
dejando a la epopeya un episodio,
una fábula al tiempo, y que sin odio,
lucro o pasión de amor se acuchillaron?
Taurino encorpado, objetivo, direto no diálogo. Sendo emocional, reagia na hora e dava a sua opinião. Embora a dinâmica da sua expressão, seja uma alma sensível e espiritualizada. Capaz de perdoar e compreender os que o cercam.
Na cidade maravilhosa e por longos anos lidou profissionalmente com sua empresa de marketing. Aqui na terra do pequi e da curraleiragem, criou a Rádio Metrópole e a Rádio Pequistação.
Chorando mágoas, sobre a rusticidade da vida moderna e a falta de fraternidade, reinante entre os seres. Debruçado sobre o alvo ombro do seu gordinho anjo-de-guarda. Com sua camisa de malha em estampados surrealistas, sapatilha pampa com o solado crepe e os olhos faiscando a moda Jackie Coogan.
Um guerreiro urbano em sua homenagem fecho a crônica com uma citação de San Juan de La Cruz:
1ª. Que voe ao ponto mais alto;
2ª. Que não tenha uma cor definida;
3ª. Que não anseie por companhia, na sua jornada;
4ª. Que mantenha o bico sempre voltado para o céu;
5ª. Que tenha um canto suave.