O Circo Normalista

Vejo o curso normal como um palco de teatro onde a arte tenta imitar a vida, mas falha e muito, sendo salva somente pelos estágios que dão aos alunos(as) certa noção de realidade. As encenações que se dá em sala de aula cada vez mais se distanciam da realidade e dos objetivos reais da educação; muito se fala de Paulo freire, e pouco se segue seus ensinamentos, muito se critica a metodologia tradicional, e no entanto é ela que reina em nossas escolas, muito se sabe dos problemas e como resolve-los, mas nada se faz.
Criamos ilusões em nossa rotina escolar, esquecemos do mundo a nossa volta, pois não tratamos dele na sala de aula, não discutimos nem os acontecimentos mais relevantes de nossa sociedade, quanto menos outras notícias igualmente importantes, mas menosprezadas pelos jornais publicadas nos espaços de entrelinhas e notas ínfimas de informação. Aliais não há o menor incentivo para que leiamos jornais, revistas, livros desconhecidos, etc... Alguns professores até falam da importância desse hábito, mas não passa de um comentário banal, não dão ênfase a isso.
Apresentamos nossos seminários sempre em grupo, ou no máximo em trio ou dupla, não temos em todo o decorrer do curso nenhum seminário individual, oras, acaso algum professor mesmo que primário, dá aulas em grupo, trio ou dupla? A resposta é simples, curta e grossa: Não!
Levamos também para estes mesmos seminários diversos materiais ilustrativos do assunto apresentado, cartazes, aquários, etc. isso quando não encenamos alguma coisa e levamos figurinos diversos e às vezes criamos até cenários. Para tanto despendemos tempo e dinheiro na confecção dos artefatos utilizados nesses seminários de poucos minutos, apresentando temas a uma turma que já os conhece, e que devido à atividade deve simular serem crianças as quais daríamos aula. Bem, agora comparando a realidade dos(as) professores(as) primários; quando é que em nosso futuro trabalho, teremos tempo, dinheiro e mesmo disposição de em um ambiente real dar uma aula utópica como estas que encenamos? Com o salário de fome de nossa categoria, salário esse indigno da responsabilidade da profissão, do esforço do profissional, e que envergonha nosso País, - mas até agora não ainda o bastante a ponto de acontecer uma mudança para melhor –, que nos obriga a trabalhar em mais de uma escola para sobreviver, tirando assim nosso tempo de nos dedicar as necessidades de nossos alunos e ao planejamento de nossas aulas. Somado a falta de recursos das escolas públicas que não dispõem de material didático adequado em variedade, quantidade e qualidade. Como é que poderíamos realizar isso? Resposta: Inconcebível.
Ainda na temática ilusões do Normal, pergunto, quantos professores do curso, e quantos alunos(as) dele realmente se importam com a qualidade do ensino, tanto no Curso Normal, quanto nas escolas primárias onde os futuros professores irão lecionar? Quem realmente pensa, e mais, quem vai agir para formar alunos com pensamentos críticos, verdadeiros cidadãos que expressem plenamente seus direitos, assim como seja fiel cumpridor de seus deveres sociais?