Corilow foi dormir naquela noite pensando no dia seguinte. Pensava nos parentes, cujos cumprimentos iam e vinham em sua mente, numa recordação de outros tempos iguais. Alguns, distantes, estariam em seu coração. Não pensava em tristeza, porquanto o Natal é tempo de alegria, de confraternização, pela lembrança doce da chegada do Menino Deus.
O dia se lhe apresentou ensolarado e prenunciando momentos de Ãntima comunhão com tudo e todos ao seu redor. Levantou-se, falou com Deus em oração, tomou o seu café como de costume, falou pouco e olhou o céu, mirando-o numa compreensão de infinita doçura.
As folhas das árvores pareciam aflitas à espera da chuva que se avizinhava, não obstante o brilho do sol de verão. Os pássaros, por seu turno, cantavam sem encantar.
Ele continuou seus passos sentido uma alegria em branco e preto, mas sem o brilho das velhas fotos antigas. Ligou a televisão para sentir o clima exterior de sua casa, de sua vida familiar, para alcançar a comemoração dos outros, através daquele espaço diminuto na forma, mas cheio de luzes na essência, para a verificação de um dia quieto, calmo e de aparência de velório.
Não desejava, quem sabe, um dia assim tão morno, tão passivo, por ter sido aquele dia escolhido pelos homens para a comemoração do nascimento mais importante da humanidade. Os três reis magos deram magnÃfico exemplo de alegria. Por que não pessoas buscando o Menino-Deus, como aqueles três reis, buscando-O como a última esperança? Pensava assim em seu desejo de vida; desejo de rio corrente, de árvores frondosas, de cheiro de mato em dia de chuva...
Aguardou o almoço com avidez de um adolescente. Sentou-se à mesa e começou a fazer a refeição, degustando o alimento como se fosse a última vez. Em poucos segundos não estava mais a ouvir os pássaros, o soar do vento nas folhas das árvores, nem a contemplar o brilho do sol, o céu, pois já estava lá sem saber que estávamos todos mergulhados na escuridão da chuva iminente, cujas gotas se antecipavam brotando do olhos de sua mulher, dos filhos, dos irmãos, quem sabe em unÃssono pensando:
A Porta da Mansão Celestial devia estar cerrada no dia de Natal.
Eu estava em minha biblioteca lendo Nabokov, naquele dia 25 de dezembro de 2000, e olhando pela janela as nuvens escuras, grávidas da chuva, quando o telefone tocou e recebi a notÃcia de que meu amigo Pedro Corilow havia morrido. Moreu logo após o almoço. Parei, agradeci a Deus por sua vida profÃcua, enquanto viveu aqui neste mundo e escrevi este conto poético em sua homenagem e, também, para todos aqueles que se foram num dia de Natal. E chorei. As despedidas causam tristeza. Aquelas definivas ainda mais. Aquelas em alguns dias especiais, muitÃssimo mais.
Juscelino, menino de Deus-menino: se este relato é realidade parece um conto; se é um conto parece realidade. Faz tempo mesmo que eu li um texto assim, cheio de doçura e encantamento. Você trata do tema com delicadeza, elegância e tempera com uma esperança solidária. Teu belo texto nos convida a refletir esse tempo em que muitos se aproveitam para mascarar a falsidade. Seu texto nos convida a fazer mais a cada dia, pelo outro, quer seja ou não Natal. Nhande Rú cubra de luz os teus caminhos pela vida. Bjos, Grauninha.
graça grauna · Recife, PE 6/12/2008 12:43
Graça,
esse relato é realidade pura. Aconteceu com meu irmão de fé, Pedro Corilow, cujos filhos Flávio e Ivan, bem como o seu neto, Vinicius Corilow são excelentes músicos aqui em Campinas. Tentei, com meu conto poético tornar aquele dia um menos triste.
Obrigado por sua bela mensagem.
Um beijo.
Tentei, com meu conto poético, tornar aquele dia menos triste.
Juscelino Mendes · Campinas, SP 6/12/2008 19:41
Juscelino,
Belo conto, cheio de emoção. O Natal deveria ser um dia apenas de felicidade, de confraternização e paz. Mas nem sempre é assim. A vida por vezes nos surpreende com momentos de pesar e tristeza. E o Natal fica também marcado por dolorosas, mas saudosas lembranças. Como, com certeza, as suas lembranças e dos familiares do seu amigo Corilow.
Parabéns !
Um abraço
QRDO JUS,
Que conto triste!
Quando os pássaros cantam,
Com monotonia,sem encantos,
É porque pressentem as brumas,
Do outono da vida...
Do crepúsculo da noite!!!
De repende,um vazio ensurdecedor...
E as mãos, de um veludo macio,
Seca o tempo terreno,
Mas é hora da HARMONIA,
Momento sublime,do vôo...
Impácto da solidão,
Onde o SALVADOR,
Ergueu-se para:
PEDRO CORILOW
Para juntos flutuarem
Sobre o mar,
Da eternidade...
Em todos os NATAIS
Sua ausência,
Deposita
Gotas de orvalhos,
Nos olhos,
Da famÃlia
E amigos...
(Desejo-te um Natal,com nuvens claras,
grávidas de luz e alegrias)
BJS!
Na fonte serena,
Onde adormeçe
SEU ESPÃRITO...
(Adormece)
Teus sonhos,
Em leitos macios
Com lençóis,
De fé e bondade...
Partir no dis dO Nascimento é muito triste. Quando algo assim acontece, me vem à mente a famÃlia do partinte. Essa nunca mais verá a data com a alegria que merece.
Marcos Pontes · Eunápolis, BA 7/12/2008 09:19
Gustavo,
e a tônica deve ser manter as boas lembranças de quem parte. Abraços.
Ja,
a partir de um conto real, você, com sua delicadeza, faz brotar esse belo poema. Beijos.
Marcos,
essa famÃlia amiga, dada à fé que professa, agradece ao Criador pelos momentos que foram permitidos viver com o partinte e comemoram o Natal com Cristo. Sou testemunha desses fatos. Obrigado por sua mensagem. Abraço.
... mas no geral, o que você disse é o que acontece e independente de crença, a data entristece àqueles que passam por isso.
Juscelino Mendes · Campinas, SP 8/12/2008 11:24
Belissima homenagem ao seu amigo morto querido poeta!
Há que se falar nesse momento numa frase que usaste que achei MARAVILHOSA:
"e olhando pela janela as nuvens escuras, grávidas da chuva, "
FANTÃSTICA!
DE UMA POESIA !!!!!!!!!!
beijo
Obrigado, Celina. Bom que apareceu...
Beijo.
As folhas das árvores pareciam aflitas à espera da chuva que se avizinhava, não obstante o brilho do sol de verão. Os pássaros, por seu turno, cantavam sem encantar.
adoro ler seu trabalhos é bom de ler, me faz bem.(ótimo texto).
votado.
Uma correção a destempo?
sentindo uma alegria
dos olhos de sua mulher
Gustavo, obrigado. Marques, fico feliz mesmo que goste de ler os meus textos. A recÃproca é verdadeira. Grande abraço.
Juscelino Mendes · Campinas, SP 8/12/2008 14:27
Querido Jusc..que conto mais emocionante!
Sua sensibilidade é incrÃvel ao transformar um momento tão triste numa história que toca nossos corações!
O Natal realmente não combina muito com 'morte', visto que comemoramos o nascimentoo do Cristo. Mas como vejo a morte como passagem e renascimento...entendo que tudo é apenas uma continuidade,contudo é sempre difÃcil lidar com a saudade que fica em nós em cada detalhe...
Muito linda sua narrativa, envolvente!
Parabéns,querido!
Bluebeijos...e uma semana luminosa!!!
Blue_Chips...rs
Juscelino, também eu fiquei emocionada lendo
o seu texto. Só depois é que soube que se referia
ao seu amigo. Realmente muito triste.
A gente não se conforma com a perda.
Sofremos como se perdêssemos uma parte de nós.
Muito lindo, apesar de triste, o seu texto.
Apropriado para a época. Nem só de alegrias é
feito o Natal.
Votando.
Beijos
"A morte não é a maior perda da vida. A maior perda da vida é o que morre dentro de nós enquanto vivemos"
(Norman Cuisins)
Enquanto houver poesias, mesmo em momentos tristes, ha vida.
Tenho certeza que se eu fosse esse teu amigo, estaria feliz em partir com tão comovida homenagem...
Tbm perdi alguém muito especial na vespera do natal, na madrugada do dia 23. Jovem, 22 anos, em um acidente de carro.
...
Beijão
Juscelino Mendes · Campinas (SP)
O NATAL E A PORTA DA MANSÃO CELESTE
Um texto extraordinário que encanta qualquer um que fica querendo a continuidade porque é o tema mais importante do Mundo.
Ficou muito bom de ler e profético nos resolvendo uma porcáo de questóes .
Parabéns por táo elevado sucesso.
Abracáo Amigo
Eae meu querido Jusça, na pazzz??
BelÃssimo texto cara!
Daqui há 10 dez dias fazem dois anos que meu velho se foi. São datas que realmente marcam demais!!
O tempo em que vivemos e o que fazemos de útil ao nosso crescimento e, consequentemente ao planeta, no final de tudo, é o que mais vale!
Abração!
Um trabalho diferente
em época pertinente !
Parabéns,
meu querido colega !
Blue-Chips,
grato por suas palavras carinhosas. Bjs.
Walnizia, o Natal não é mesmo só um diade comemorações. Nós que o selecionamos, mas a vida a morte correm sem tréguas. Abraços.
Rute,
obrigado por sua mensgem e presença aqui. Meu conto-poema homenageia a todos que se foram nesse perÃodo, incluindo o eu amigo. Um grande abraço e paz.
Meu caro Azuir unicampiano,
grato pela gentileza de sempre. Fico feliz com o seu encantamento. Abraços.
Meu caro Jota! Na paz.
Suas palavras são sábias. Alguém já disse, que não importa quanto tempo vou viver, mas o que vou fazer no tempo que eu viver aqui. Obrigado, J. Abraços.
Caro colega Ivan,
obrigado e fique na paz. Abraços.
Meu abraço carinhoso a todos que retornaram para votar. Muito obrigado.
Juscelino Mendes · Campinas, SP 9/12/2008 12:13
Juscelino,
Um texto de muita fé, é um convite a pensar sobre os valores da famÃla ,amizade , vida e morte ,perfeito quando você reduz na telinha a realidade de muitos simplesmente lindo e sempre bem escrito,parabéns,bjs.
Ju
muito lindo esse texto, pelo visto faz jus à pessoa maravilhosa que era seu amigo, e à sua famÃlia....
Um tio-avô meu, que todo Dia dos Namorados dava flores, jóia e bom bom à esposa, morreu dia 12 de junho. Sua esposa, inconformada, faleceu 6 meses depois, dia 25 de dezembro.... Poderia pensar que são apenas datas, mas é "coincidência" ele falecer no dia em que costumava relembrar à esposa seu amor, e a viúva falecer no dia do nascimento do Salvador...????
beijocas com carinho....
MonyBlue,
obrigado por seu comentário sensÃvel. E sua história é mesmo impressionante! Algo incrÃvel sobre o qual não podemos sequer tecer comentários, sob pena de dminuÃrmos os mistérios da vida.
Um beijo.
Cláudia,
você acertou no alvo: um convite à reflexão da famÃlia, amidade, vida e morte. E a homenagem a conhecidos e desconhecidos. Excelente e precisa a sua análise.
Beijo.
Essa porta está sempre aberta no nosso interiro! Beleza de postado meu caro. Uma mensagem de prima! Parabéns! Feliz Natal!!!
raphaelreys · Montes Claros, MG 9/12/2008 18:21
Juscelino, triste e lindo o seu relato.
A morte não escolhe o dia e nem a hora.
A época do Natal deve ser um tempo para reflexão e o seu relato nos ajuda a fazer isso.
bjs
A morte é passagem, como o nascimento.Transmutam-se energias em matéria e vice-versa.E assim segue a cadeia evolutiva na transcendência.O próprio Cristo veio pra mostrar isso !
Seu querido amiginho estava ao seu lado, quando vc escreveu essas lindas, sobrias e comoventes palavras de carinho a ele !
Emocionou, Juscelino...Deveras !
Feliz Natal pra vc e os seus próximos !
abraço fraterno
Raphael, Sônia, big Joe e Esdras, agradeço a gentileza de seus comentários e lhes desejo um Feliz Natal e paz.
Grande e afetuoso abraço.
Juscelino...
Que narração triste e ao mesmo tempo bela. Quando a morte se faz presente em datas especiais dificilmente passamos por elas sem um reflexão maior. Comovente como conseguiu captar e nos doar tantos sentimentos.
Beijo.
Juscelino,
Lendo e relendo, fico a pensar naqueles que tem partida trágica, lenta ou dolorosa, este seu amigo, partiu vivendo um momento cotidiano, num dia especial em que deveria haver folga geral, até mesmo para condutores e retirantes.
A vida não para
Grande Abraço
Almirante,
tem razão. Obrigado pela presença. Abraços.
CHÉRI,
L`poésie c`est comme une hache
qui casse la mer glacé de
notre existence...
Avec tendance
et fascine!
Poésie, unique montée des hommes, que le soleil des morts ne peut assombrir dans l´infini parfait et burlesque.
Juscelino,
Muito lindo, triste e comovente.
Abraços
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