Poesia pode nascer d’um espanto, do susto ou então por algum tipo de interrupção naquele ‘curso natural’ das coisas, e incontrolável como um espirro (ou um peido, se preferir), se transforma numa espécie de conhecimento. basta um leve desvio do olhar e novos caminhos são apresentados... estes escritos são sobre um poeta vivendo tranquilamente todas as horas do fim.
‘Desviantes’ são estigmatizados pela comunidade, afinal o terreno comum da sociedade é a norma, ou o normal. A existência de tais normas e regras deixa explÃcito a obrigação do indivÃduo em ser inocente de cometer práticas desviantes, como a loucura e a imagem da morte no suicÃdio. A modernidade impõe a sanidade mental e a condenação do indivÃduo na escolha do suicÃdio. No perÃodo mais duro da ditadura militar, percebi saliente uma recorrência dos temas “morte†e “loucura†figurando como cruciais na obra e na vida de Torquato Neto.
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Torquato, um trágico desmedido, utiliza através do jornal uma forma de escrita – desesperada e agressiva – experimental, numa linguagem cinematográfica, poética e (de)cifrada, revelando acontecimentos, anunciando-criticando-defendendo os abalos culturais, driblando a censura na época. É possÃvel encontrar as temáticas da loucura e da morte nas poesias e canções de Torquato, nos filmes e basicamente em tudo escrito por ele sobrevivendo até agora. A produção artÃstica do compositor integra essencialmente o material existente nos dias de hoje do panorama cultural e polÃtico no perÃodo da ditadura militar.
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Justo num dos momentos mais sangrentos até hoje por aqui, a loucura e a morte soam como expressões reveladoras do perÃodo, usadas incessantemente pelos artistas e escritores na época. Por quais motivos a morte e a loucura estariam presentes com tanta evidência e vivacidade na produção cultural da virada dos anos 1960/1970?
Tal problemática seria analisada perfeitamente no embalo dos filmes da Bel Air, vertendo loucura e morte d’ 1a maneira violenta nas cenas, ou então por intermédio das poesias marginais escritas no filete de sangue da época, ou até inserir na discussão as músicas de Macalé e Sérgio Sampaio. Fiquei (SÓ) com o anjo torto, nos apontando como a geleia geral brasileira,
e vivendo intensamente a cultura subterrânea nas margens d' um paÃs regido pela crueldade da ditadura militar, ocupando espaços e rompendo os limites estabelecidos entre a arte e a própria existência. n’1a época onde o indivÃduo se encontra em desagregação, abnegado por mecanismos impiedosos de repressão, e esmagado por vontades inalcançáveis, e é possÃvel se perceber desesperadamente arruinado e sem possibilidades, na sarjeta sentindo como quem perdeu algo, mas já nem consegue ao certo identificar o quê, quem sabe apenas a loucura nos presentearia com alguma sensatez. A busca pela esperança na liberdade, mesmo sendo no (ou através do) caos.
Este trabalho é fruto de alguns anos de pesquisa sobre a vida e a obra de Torquato Neto. Um dia foi monografia, lá no curso de ciências sociais da UFMA...
Depois tentou respirar fundo e... quem sabe, uma chance ao experimental?
Bom, desde então, o projeto gráfico do manuscrito foi lentamente aprimorado, assim como o texto, na tentativa surda de homenagear a Torquato através d' um artesanato de palavras e imagens...
De repente, o "monstro", como diz o poeta, se transformou num livro:
O RISCO DO BERRO
Torquato Neto, Morte e Loucura.
Esta é uma oportunidade de difundir o nome do poeta da Tropicália, Torquato, com visibilidade apagada até então.
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