Fotografia: Anilson Teixeira
I
Perdoem-me a espada da fala
— o sal de cada dia —,
ás do não-insosso, barro que emoldura a palavra
e que repousa irrequietamente
nos bolorentos poemas
de mim.
Protejam-se do vômito!
Desviem os olhos da mesmice verborrágica.
Ah! Cuidado com as falsas sombras poéticas,
que se apresentam como árvores de descanso,
mas por dentro são ferinos verdugos...
Tomem cuidado!... Afastem-se de mim
todos vocês que amam o açúcar!
Os poemas que continuamente vos deflagro,
são lâminas e não partilhas, são cortes e não harmonia;
porque sabe o dia, que não arredarei um palmo de mim
até que meu canto saia da pecaminosa
clausura do silêncio.
II
Perdoem-me as mãos calejadas
— ânsia do tempo, calefação da poesia —,
perdoem-me a falta de inspiração: ternura, poeticidade, piedade,
saimento, mansidão... Ai! Que vontade de ser compreendido!
Se vós sois órfãos da ávida inspiração,
afastai-vos então deste instante redivivo.
Removê-los do inconsciente não vos afastará
da masturbação das feridas,
dos não-beijos – escoras das palavras.
Perdoem-me o corpo prostituÃdo...
Perdoem-me o olhar tão soluçante...
Perdoem-me a ganância que coagula o poema...
Contudo... Se vós sois órfãos do papel,
revê-los cintilantes ante as sobras
das famintas palavras...
Ai... Bem sabe a flor,
não vos afastará do vazio e nem da injustificada fome
que assola gavetas e laudas marginalizadas
— crueza nua da esperança que aparta...
Ai... Vida! Vida!
Quer afável, quer abominável;
quer eloqüente, quer insuportável,
a chama não se moverá iludida ao eterno cansaço,
e não me afastará (jamais!) daquilo que penso.
III
Perdoem-me as frases destroçadas,
as estrofes defenestradas.
Perdoem-me os versos descartados,
perdoem-me os poemas inacabados...
Mas... Tomem cuidado! Afastem-se de mim
todos vocês que não perdoam as letras ejaculadas!
Os poemas entretêm-me e agem pela força da palavra:
quer indizÃvel, quer Intolerável...
quer indigente, quer sistemática...
Ai... Perdoem-me os acentos bestiais,
inexoráveis e trôpegos...
Não tentar esmiuçá-los na solidão do poeta
e na cólera dos vendavais humanos não deserdá-los,
requer certeira retaliação
a florir nos remelosos olhos do instante,
urro irrequieto da Paranatinga inspiração,
Max/Age/Rubeniana do sêmen-verbo.
IV
Perdoem-me a parca grafia,
o rebolo afiado da véspera...
Perdoem-me o insosso tão suntuoso e desusado,
e por sabê-los “gumes†da nossa errante poesia.
Perdoem-me...
São tantos os poetas que admiro
(velhos e novos),
E crer nas suas nÃtidas parições
É crer nas suas fodas, porque são como gozos poéticos
que desvirginam a madrugada!
Ademais,
Perdoem-me, se, neste momento,
a emoção toma-me conta por inteiro...
Perdoem-me, se, escrevendo a vocês neste instante,
eu não consigo deixar de salgá-los...
Perdoem-me!
Sob um céu de doidas nuvens
vivo do que cunho e galo.
O dia está livre,
mas preferi a solidão.
Benny Franklin
Nota do Autor
a) Paranatinga – do poeta paraense “Rui Paranatinga Barataâ€;
b) Max - do poeta paraense “Max Martinsâ€;
c) Age – do poeta paraense “Age de Carvalhoâ€;
d) Rubeniana – do poeta sulmatogrossense “Rubenio Marceloâ€.
Concordo Poeta Benny...Suas palavras bennyanas tem a navalha que delata a verdade de nós, mas outros Poetas as têm, como Rubenio Marcelo. Fico encantada com esta parceria, este rol de amigos e viva estes , todos como você diz de "fina estampa" ; Max, Age e Rui!Salve!
Protejam-se do vômito!
Desviem os olhos da mesmice verborrágica.
Ah! Cuidado com as falsas sombras poéticas,
que se apresentam como árvores de descanso,
mas por dentro são ferinos verdugos...
Tomem cuidado!... Afastem-se de mim
todos vocês que amam o açúcar!
Os poemas que continuamente vos deflagro,
são lâminas e não partilhas, são cortes e não harmonia;
"São cortes e não harmonia"
Quero merecer toda essa leitura! OS HF
Emocionas caro poeta!!!
De sua palavras colho verdades que, muitas vezes, vestem-me sentimentos e aflições... dos teus 'bolorentos poemas' tentar um fungo alucinógeno que se apresentam nas nossas idéias, agora incendiadas.
GRANDE abraço!!!
Benny,
Poema que traça o desegano com palavras, gestos...
Poema que reflete a desmotivação do ser humano.
Poema que grita e clama.
Parabens!
".....
Contudo... Se vós sois órfãos do papel,
revê-los cintilantes ante as sobras
das famintas palavras...
....."
Grande abraço,
Regina
Mais uma joia bennyana... Verde, frita e salgada...
bjo.
Joia nem um pouco rara para Benny. Abraços amigo
Paulo Esdras · Brumado, BA 18/2/2008 16:49
maravilhoso sal nosso de cada dia...
Perfeito e mais que perfeito sempre
OS HF
Tomem cuidado!... Afastem-se de mim
todos vocês que amam o açúcar!
Os poemas que continuamente vos deflagro,
são lâminas e não partilhas, são cortes e não harmonia;
porque sabe o dia, que não arredarei um palmo de mim
até que meu canto saia da pecaminosa
clausura do silêncio.
Poeta decidido, Tipo: Eu aconteço!
Fera Benny!
Amado Benny, a tua poesia é impar e eu te amo por isso.
Bj
O dia está livre,
mas preferi a solidão.
MagnÃfico, Benny, como sempre!
Beijos e flores perenes @>--
PS: Rui Paranatinga Barata, Age de Carvalho, Max Martins (amoooooo), poetas que conheci a obra na nossa terrinha e Rubenio Marcelo: merecida homenagem a mestres @>--
Adriana Costa · BrasÃlia, DF 19/2/2008 21:59
Querido Benny:
"O Sal de cada Dia..."
Muito bom!
Beijos_Meus*
*
Benny prazer enorme conhecer este poeta de extrema profundidade, uau quando crescer quero ser igual a vc, belos poemas!
Benny, grato deveras por teu comentário sobre a III margem da vida; li esse poema e o declaro puro, no sentido de haver nele a angústia própria dos que buscam nas palavras a essência dos sentimentos. Se tens um blog, manda o endereço pra mim e adiciona o meu http://poesiamarginal-osapodavizinha.blogspot.com/.
Desculpe-me a falta de clareza. Li o teu poema (é o quis dizer quando afirmei: li esse poema. Abraços fraternos.
Clóvis Luz · Ananindeua, PA 3/12/2008 10:32Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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