A explosão das tecnologias digitais da informação alterou dramaticamente a forma como as pessoas compreendem e se relacionam com o mundo. As comunidades virtuais são hoje meios poderosos de mobilização social e polÃtica, estudo, trabalho, relacionamentos e lazer.
Praticamente qualquer aspecto da vida moderna que possa ser analisado já sofreu em alguma medida os impactos dessas tecnologias. Governo, escolas, instituições sociais e empresas de todos os tipos têm na Internet seu instrumento básico de
trabalho para chegar aos mais remotos confins do planeta, ensinar de uma forma mais rica ou aumentar sua produtividade. Isto se deve principalmente ao fato de que
grande parte do que fazemos no dia-a-dia tem como ingrediente básico a informação.
A Internet é uma mÃdia que quebra todos os antigos paradigmas da cultura industrializada. Criada para ser descentralizada e continuar operando com segurança, mesmo sob ataques em sua estrutura fÃsica, a Internet se tornou o único meio de comunicação capaz de dar, potencialmente, a mesma oportunidade de voz a uma grande empresa ou a uma única pessoa. Tornou-se também o lugar onde praticamente não existe censura, por falta de meios viáveis para isso, e onde seus usuários podem trocar os bens culturais que durante centenas de anos foram privilégio de quem podia pagar por eles. Historicamente estimulados pela mÃdia
tradicional a consumir os produtos desta indústria cultural, os novos consumidores podem acessar – de graça – não somente os arrasa-quarteirões, mas também todo um universo de bens culturais que nunca foram para as prateleiras, para a televisão
e que jamais saÃram nos jornais.
Enquanto vemos a popularização do acesso à mÃdia digital devido à redução dos custos dos equipamentos, a chegada da Internet à s escolas de todo o paÃs e o surgimento dos telecentros de acesso público à rede, somos obrigados a reconhecer a falência do governo em prover sua população com as ferramentas tradicionais de inclusão cultural, como as bibliotecas, o tema de estudo deste trabalho de conclusão
de curso, na plataforma digital.
Ao brasileiro, faltam bibliotecas públicas de qualidade, cinemas e teatros com preços acessÃveis e todo o suporte informacional capaz de formar um cidadão mais crÃtico,
consciente e apto a competir no mercado de trabalho. A média de leitura de um brasileiro é pÃfia, e a maioria só tem contato com os livros didáticos do perÃodo escolar. Sabemos que no paÃs não existe uma cultura de leitura, e se as escolas
falham em introduzir seus alunos neste universo e as crianças não tem estÃmulo na famÃlia, em grande parte é pela precariedade das bibliotecas públicas e escolares e
pela baixa renda da maioria da população. Segundo estudo da Unesco (FIORE,1998), o preço do livro e o acesso ao mesmo ocupam respectivamente a terceira e a quarta posição em uma lista de cinco fatores crÃticos para o estabelecimento do
hábito de leitura de uma pessoa ou povo, sendo o primeiro e segundo lugares ter nascido em uma famÃlia de leitores e estudado em um sistema escolar preocupado com o hábito da leitura.
Se, como observou Darcy Ribeiro, o livro é a maior invenção da história e a base de todas as outras conquistas da civilização, e considerando que a informação é o bem
mais precioso de nossa era, um estudo sobre formas de democratizar o acesso aos mesmos e possÃveis alternativas para vencer décadas de atraso em uma sociedade
desigual como a brasileira, mostra-se justificável. Partimos da hipótese de que as bibliotecas digitais têm o potencial de provocar mudanças no hábito de leitura e ampliar o acesso a livros.
Muito se tem falado sobre os benefÃcios e potencialidades das bibliotecas virtuais, tomando-se como premissas os recursos básicos da tecnologia. Potencialmente, é presumÃvel que um recurso que possibilite acesso a uma informação de qualquer
parte do mundo fatalmente democratizará o acesso a ela. Podemos, com poucos conhecimentos técnicos sobre o assunto, discorrer sobre as possibilidades de reduzir os custos em relação a uma biblioteca convencional. Qualquer pessoa tem idéia sobre o que os computadores domésticos podem armazenar, como eles podem ajudar na educação, vencer barreiras geográficas, culturais e financeiras.
Mas isto realmente está acontecendo? As nossas bibliotecas virtuais têm possibilitado melhorar o nÃvel de leitura de seus usuários? Estariam elas, como acreditamos, estimulando a procura por novos escritores, ajudando na leitura e no estudo, na medida em que podem oferecer um conteúdo muito mais amplo, em um espaço livre da ditadura da rentabilidade e do lucro?
Este estudo tem como objetivo entender como é essa sociedade em que a informação é o combustÃvel de todas as relações do dia-a-dia, fazer um breve histórico sobre a evolução da produção e distribuição gratuita de livros na Internet e sistematizar as potencialidades desse tipo de conteúdo. Mas, acima de tudo, tem como objetivo traçar um perfil do usuário de bibliotecas virtuais no Brasil, e os
impactos reais das mesmas sobre este público e como elas estão ou não contribuindo para seus hábitos de leitura e estudo.
Utilizaremos como objeto de estudo um tipo muito especial de biblioteca virtual, que chamaremos de biblioteca colaborativa. Trata-se de um tipo de biblioteca que possui
na liberdade da Internet sua principal arma. A escolha não é por acaso. Ao buscarmos saber dos benefÃcios que o meio digital pode trazer aos hábitos de leitura e estudo, precisamos analisar um tipo de biblioteca em que realmente seja possÃvel aplicar todas as vantagens do acesso irrestrito e descentralizado, da pluralidade de autores, do espaço ilimitado, da liberdade de escolha. Em nenhuma outra iniciativa
isso poderá ser mais bem demonstrado do que na biblioteca colaborativa feita de usuários para usuários. A grande questão não é quantas pessoas poderão ler Dom Casmurro, que, sob domÃnio público, está disponÃvel na Internet e em qualquer
biblioteca fÃsica do paÃs. Desejamos saber como a oportunidade de ter J.K. Rowling, Paulo Coelho, Dostoievisk, Tolkien, Saramago, ou qualquer outro autor a um clique
do mouse pode afetar a vida das pessoas. Para isso, tomamos como objeto de estudo a Biblioteca Virtual “Projeto
Democratização da Leitura – PDL†que existe desde 2002 e é hoje um grande depósito de muito do que se produz em livros virtuais em português na Internet.
Tendo mais de 50 mil usuários cadastrados, o PDL é espaço de troca. Não hospeda nenhum livro, mas os usuários podem usar o fórum para enviar seus livros digitalizados ou baixar os que já foram para o acervo. Com a colaboração da equipe de moderadores do site, adicionamos durante os meses de outubro a dezembro de 2007 um questionário que podia ser respondido on-line. A pesquisa tinha como principal objetivo traçar o perfil do público freqüentador do PDL, suas preferências e hábitos. As perguntas fechadas proveriam
dados gerais estatÃsticos, e os visitantes tinham oportunidade de expressar suas próprias opiniões através de perguntas abertas, como, por exemplo, dar algum depoimento de como o site teria ou não afetados seu trabalho, seus estudos ou seu
hábito de leitura.
O questionário foi elaborado tomando como base o questionário da dissertação de Mestrado de Luciana Maria Allan Salgado, um estudo dos usuários e da estrutura da
Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro da USP, com adaptações para a nossa realidade e para as questões que desejamos responder. Seu questionário levou em consideração a necessidade de uma abordagem que desloque a análise do sistema para a ótica do usuário, seus problemas pessoais e os resultados alcançados pelo sistema ao pretender mudar aquela realidade individual. É uma abordagem em que o usuário fornece sua própria visão, que leva em consideração toda sua experiência
anterior e suas necessidades particulares. Esta é a abordagem Sense-Making, proposta por Dervin. Salgado utiliza ainda um segundo modelo, denominado ACTIONS e proposto por Bates. Com esse modelo, Bates defende que é possÃvel analisar “as resistências que podem ser apresentadas por futuros usuários e os pontos fracos de cada tecnologia, oferecendo compreensão do uso da tecnologia para fins educacionais, custos comparativos e análise de cada um deles†(SALGADO, 2002).
Deste modelo, temos sete pontos de referência para elaboração das questões. O Acesso (Access), que consiste em conhecer quem acessa o site e saber o quanto é democrático este acesso; os Custos (Costs), que se relaciona com quanto o usuário precisa gastar por este acesso; Funções de Aprendizagem (Teaching Functions),
que responde que tipo de informação o usuário está procurando e que uso fará dela;
Interatividade e uso amigável, que diz respeito à facilidade que o usuário tem em encontrar e usar o que procura; Assuntos Organzacionais (Organizational Issues), que questiona como a estrutura do suporte midiático pode se adaptar para melhor atender o usuário; Originalidade (Novelty), que mede o quanto o suporte é realmente
original e inovador; e, por fim, Velocidade (Speed), que diz respeito a o quanto é rápido todo o processo.
Para efeitos de estudos, também foi feito um mapeamento do acervo do PDL, a freqüência com que o acervo era atualizado, sua estrutura organizacional e solicitamos à equipe dados estatÃsticos, como quantidade de visitantes por dia, número de downloads etc.
Organizamos nossas reflexões e estudos da seguinte maneira: o capÃtulo 1 traçará um breve panorama sobre a sociedade da informação, que gera fenômenos como as bibliotecas virtuais. Abordaremos como a informação ocupa um papel central em
nossa sociedade, na formação polÃtica e cultural dos indivÃduos, na estruturação dos valores, na construção da democracia e na competitividade de mercado. Veremos
como as tecnologias web permitem a construção de um novo capitalismo, que fecha antigas portas e abre outras tantas, e o novo papel das pessoas neste contexto.
Utilizaremos como referência base os estudos de Castells, em especial seu conceito de Cultura da Virtualidade Real, os conceitos de Sodré sobre a Sociedade Midiatizada, entre outros atores que contribuÃram para o tema, como Kellner, Moraes e Ramonet. Para analisar como os produtos culturais e como suas antigas formas de comercialização são afetadas pela democratização das ferramentas de produção,
usamos o pensamento de Chris Anderson e seu conceito de Cauda Longa.
No capÃtulo 2, resgatamos o histórico das bibliotecas presenciais à s virtuais, seus principais fatos ao longo do tempo, seus precursores e as idéias visionárias que se
materializaram nas possibilidades que temos hoje. Estabelecemos o conceito de biblioteca virtual, seus principais tipos e suas vantagens em relação às bibliotecas
presenciais. Para ilustrar essas vantagens, sempre que possÃvel, oferecemos um exemplo prático, extraÃdo de nosso objeto de estudo ou da experiência empÃrica com
a questão. Neste capÃtulo, contaremos com a contribuição de diversos autores que escreveram sobre o assunto, alguns deles antes mesmo delas se tornarem uma possibilidade real. Tendo como objetivo retomar as potencialidades dessa via antes mesmo de analisar seu real impacto, concluÃmos o capÃtulo com um breve panorama sobre o mercado editorial, e o papel de leitores, escritores, editores, editoras e
livrarias dentro dele.
O capÃtulo 3 contém uma descrição sobre a estrutura e funcionamento do nosso objeto de estudo. No quarto e último capÃtulo, apresentamos a análise dos dados obtidos nesta pesquisa, que servirão para comprovar ou não as hipóteses levantadas sobre tema. Além dos dados estatÃsticos, selecionaremos o que de melhor encontramos nos depoimentos espontâneos dos visitantes, dando voz a
quem de fato constitui a maior preocupação deste trabalho.
Depois de termos a oportunidade de freqüentar e participar das discussões do PDL, e de nos beneficiarmos de muitos livros e conhecermos muitas pessoas que da mesma forma encontraram no compartilhamento a melhor maneira de ter acesso a uma cultura que lhes era vetada, acreditamos que esta pesquisa possa revelar uma história inspiradora. Inspiradora de futuros trabalhos e discussões sobre o assunto,
além de promover iniciativas semelhantes. A este pesquisador, a experiência foi estimulante. Após conhecer a simplicidade do projeto pude desenvolver a biblioteca virtual do Projeto CoCa, que apesar de pequena atende a demanda pela qual foi
criada, possibilitando o acesso irrestrito a uma coleção que estaria limitada pelas deficiências na tiragem e na distribuição.
O meio virtual é farto e promissor, tanto para novos negócios quanto para novas formas de combate à desigualdade. Mesmo sabendo que ainda há muito o que evoluir para criar um sistema educacional coerente e uma distribuição do
conhecimento mais justa, acreditamos que nunca houve na história uma oportunidade melhor do que esta que está a pleno vapor. Por fim, este trabalho é sobre o pouco que tem sido feito por usuários anônimos, com poucos recursos,
escanners domésticos e conexões ainda precárias, para que se imagine o que os grandes gigantes da informática poderiam oferecer caso seja encontrada uma solução viável para substituir o ultrapassado modelo de direito autoral, que sufoca a população, os escritores e restringe a produção de novos conhecimentos.
"Este trabalho tem como objetivo avaliar como uma Biblioteca Virtual Gratuita pode interferir nos hábitos de leitura e estudo de seus usuários, servindo como referência para medir o potencial dessa ferramenta como democratizadora de conhecimentos.
Partindo de um panorama geral sobre a Sociedade da Informação, suas tiranias e potencialidades, que geram fenômenos como as bibliotecas virtuais, mergulhamos na história das primeiras bibliotecas presenciais, passando pelos principais fatos, personagens e idéias que as trouxeram até aqui..."
"...Mapeia o perfil do consumidor de livros digitais, seus hábitos e preferências de leitura e estudo e o papel do livro digital em tais processos. Através de dados quantitativos, faz um levantamento dessas tendências e, por meio de depoimentos dos mesmos usuários
identifica impactos em comum, sem deixar de apontar idiossincrasias de relevo."
vc poderia colocar a tags palavras tb como biblioteconomia, ciencia da informação, paradigmas.
vou ler seu trabalho depois, com tempo, assim q o meu estiver pronto tb vou posta-lo aqui,e espero que leia-o.
abraço e boa sorte.avise quando for a votação!
PH.
Parabéns pela pesquisa, pelo artigo e pela iniciativa. Leio tudo o que posso sobre Bibliotecas e democratização do livro. Abraços.
Regina - poesia em volta · Volta Redonda, RJ 29/10/2008 08:58maravilha de texto, bem estruturado, parabéns.votado.
O NOVO POETA.(W.Marques). · Franca, SP 29/10/2008 10:46
Marcus Vinicius, só agora tive oportunidade de ler teu postado. Muito interessante tudo isso que você estudou em relação às bibliotecas virtuais. Estou baixando a monografia e vou dar uma olhada atenta nela.
Mesmo antes de ler, acho que posso deixar um pitaco na pergunta que você faz: "As nossas bibliotecas virtuais têm possibilitado melhorar o nÃvel de leitura de seus usuários?" Acho que sim, mas ainda me parece ser muito cedo para avaliar isso. Quem sabe lendo teu trabalho vou ter novos elementos para a resposta. Abraço!
Um bom assunto em um ambiente que promove democratização da produção literária. Parabéns.
A Veroneze · Rio de Janeiro, RJ 30/10/2008 15:35Bacana! mais uma pesquisa interessante pra gente consultar aqui. Valeu, Marcus VinÃcius
Ilhandarilha · Vitória, ES 30/10/2008 19:21
Vinicius
Grande trabalho, intenso e extenso em um novo despertar.Pesquisa séria e correta para pensarmos. Acredito que podderá ser um grande passo para a literatura. Esperemos a resposta.
Abraços
Noélio
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