Os Quatro "José"
José Geraldo, 67 anos, o mais desconfiado.
José Antônio, 66 anos, o ranzinsa.
José Valentino, 63 anos, o mais conversado.
José Paulo, 61 anos, o mais alegre.
Quatro irmãos, todos solteiros. Bem que José Valentino chegou a ficar noivo, mas não teve sorte, sua noiva fugiu com outro.
Dona Marieta ficava toda orgulhosa quando via seus filhos chegarem do trabalho. Não sabiam abraçar, muito menos beijar sua velha mãe. O carinho ficava por conta de duas palavras fortes: Bença, mãe!
Nasceram num pedaço de terra, herança dos avós, num lugarejo chamado Quati, que pertence ao MunÃcipio de Alvinópolis, Zona leste de Minas Gerais.
A casa, bem pequenina, era feita de tijolos e telhas de barro. Dona Marieta gostava de contar para todo mundo que fora presente dos quatro filhos. Antes, quando seu marido era vivo, a casa era de pau-a-pique.
Trabalhavam numa pequena fábrica de tecidos na cidade, como tecelões, profissão da qual muito se orgulhavam. E que, de certa forma, sentiam-se seguros com as carteiras profissionais devidamente assinadas.
José Geraldo, o mais velho, aposentou por invalidez, depois de quinze anos de serviço. Ficou com uma lesão cerebral, consequência de uma febre que não teve diagnóstico certo.
Saiam de casa para o trabalho por volta das quatro horas da madrugada, tomavam o café com broa que Dona Marieta não deixava faltar, pegavam as marmitas, pé na estrada, pois andavam dez km até a fábrica.
Nada disso tinha importância. Não sentiam preguiça ou desânimo. A felicidade estava alojada nos corações desses quatro guerreiros. Tristeza mesmo foi só na morte súbita de Dona Marieta.
De criança até a puberdade ajudavam seus pais na rocinha de milho e feijão. Cuidavam também do pomar onde a mesa era farta de manga, carambola, laranja, mexirica candongueira, jabuticaba e até um pé de Canela que era famoso em toda região. Sempre tinha uma amostrinha da casca da Canela, que José Antonio, muito ranzinsa pegava e esfregava no nariz de quem duvidava.
Dificilmente os "José" apareciam na rua, mas quando tinha novena de São Sebastião e a festa de Nossa Senhora do Rosário, lá estavam eles. Cabelinho cortadinho, sapato lustrado e trazendo uma prenda para o leilão. Ora uma galinha, ora um galo e até um bode que foi arrematado por um bom dinheiro, para alegria do padre.
Trabalharam até aposentar. Mais de trinta anos e se pudessem continuariam na fábrica de tecidos por mais tempo.
Foi bom a aposentadoria, deu para colocar energia elétrica no sÃtio, comprar geladeira, som, televisao, e até uma antena parabólica. Depois de tantos anos mereciam tudo isso, inclusive comer e beber do bom e do melhor.
Mas...
Nem sempre ter uma vida feliz e em paz depende de nós.
Esta semana, assistindo o jornal da tarde ouvi essa notÃcia:
Na cidade de Alvinópolis, num lugarejo denominado Quati, foi encontrado os corpos de três irmãos, assassinados com um revolver calibre 38. Um estava na cozinha, outro no quarto e outro na sala. Segundo os vizinhos, eles eram aposentados e recebiam um total de 1.500,00 reais mensais. Acredita-se que o assassino deve ser alguém que conhecia a vida dos irmãos e sabia que eles guardavam o dinheiro em casa. O quarto "Jose", por algum motivo, não se encontrava no momento do roubo e, era justamente o José Geraldo, que tinha problemas mentais. E a�
A violência está por todos os lados, inclusive no interior.
Viver em paz, como?
Ô texto que me deixou arrinado, sôr!
BelÃssimo.
Benny.
hUM...JOSES...JOSES...bOM TEXTO. BÃRBARO, APAIXONEI-ME. BJUBJU
Cintia Thome · São Paulo, SP 27/10/2007 07:37
Li cheio de boa-vontade e gostei dos josés.
Senti muito com a perda dos Trabalhadores de toda uma vida.
Literatura é isso ai. O Autor ou a Autora que tem inspiração e genialidade, faz o que quer com o coração dos leitores.
Gostei muito do texto.
Sensibiliza qualquer um.
Parabéns pela sua capacidade.
Receba um grande abraço.
ANA,
que pena, uma história tão simples(é real?) acabar de modo tão cruel!
Que mundo o nosso.
Abçs de Betha.
Queria tanto um final clichê... Que pena!
Muito bem contado. Gostei.
Bjs.
Ana,
Real ou não, sua história é comovente. Nos deixa pasmos, com uma sensação de impotência, um nó na garganta...
Vai para o banco, com certeza.
Abçs.
Benny, Cintya, Azuir, Betha, Robert e Nydia, agradecida pelos comentários e por me levar até a publicação com seus preciosos votos.
Esta história é verÃdica e aconteceu há poucos dias. Espalhou tristeza e medo por toda a região. Não temos mais segurança nem no interior.
Um forte abraço, com as mãos lá nas costas, atravessada em vocês.
Ana.
Excelente. Um conta da vida real que retalha nossos corações pela insanidade dos homens.
Beijos
Noélio
Noélio, se a gente pensar muito como caminha a humanidade, dá arrepios. É melhor arrepiar com os afagos dos amigos. Então...
Meus afagos.
Obrigada pela visita. Venha sempre.
Muito bom! Deixa o questionamento e a reflexão. 10!
Paulo Esdras · Brumado, BA 6/11/2007 18:57
Cá com os meus botões fiquei intrigado se vc realmente escreveu uma verdade ou uma ficção. Contudo, a vida anda a copiar a ficção, infelizmente, antes o único lugar onde fatos como esse se manifestavam.
abcs
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