OSSOS GELADOS

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Maria Lúcia · Campo Grande, MS
7/2/2009 · 161 · 19
 

É como se eu carregasse um frio tão grande, semelhante a cubos de gelo que me fragmentam e aprisionam num imenso iceberg antártico.
Um frio como aquele que sopra na esquina da Dr. Bozano com a Niderauer numa das noites mais frias que a velha Santa Maria da Boca do Monte já pôde agüentar. Um frio tão vento, um vento tão frio que tornam meus ossos gelados.
A noite vem, o silêncio reina, os corpos adormecem e descansam menos o meu. Embora seja corriqueira a minha cabeça quente e separada do meu corpo antônimo, quero entender, significar a insônia e este gelo que me percorre e mantém em vigília intensa e sem um pregar de olhos.
Todos os sons que me cercam são perceptíveis a minha audição diurna tão prejudicada. O dia, as alegrias, os débitos, créditos, sonhos, amores, perdas, raivas, saudades, sabores e dissabores bailam em cores fortes para uma noite tão escura e um frio que me tira a possibilidade de aquecer e dormir. Desejo que melhores emoções habitem meu pensamento fértil e capaz de criar coisas inenarráveis, retirando relíquias e misérias inconfessáveis ao meu consciente tão em busca do inconsciente que habita em mim.
Escrevo no escuro, aproveito a fraca luminosidade da tela do computador, se acender a luz tudo será visível ao meu olho invisível e indiscreto.
Talvez compreenda meus ossos gelados e traga à tona meu amor sem utilidade, a minha pele macia, a minha intensa luz, meus desejos inconfessáveis, a nitidez da minha fragilidade, a minha alma tão só que não descansa de tanto medo de ficar muito e mais sozinha.
No escuro da noite, no silêncio das bocas, na imobilidade dos corpos que dormem, sinto o gelo dos meus ossos e a solidão da minha alma inquieta e desejante de encontro, de toque, de afeto, carinho, prazer e alegria.
O dia desponta, da minha janela um leve raio de luz, aos meus olhos a claridade do dia, na minha alma o engano da vigília permitida, dos encontros superficiais e insuficientes ao meu ser que se esfria diante de um mundo ainda mais frio.
Espero então o astro rei que radiante desponta em mais um dia em que trabalho com sono, disfarçando minhas profundas olheiras, minha pele cansada, minha beleza prejudicada.
E declaro então mais uma vez, que sou movida a sol, que sou do dia e que ninguém me pergunte o que fiz ontem à noite para eu poder esquecer por algumas horas a tortura da insônia, os meus ossos gelados e a minha incessante solidão.
Abro a gaveta, visto um pijama de pelúcia como aquele que vestia quando criança, me enfio inteira no meu velho par de meias de lã e adormeço aliviada pela ilusão de que não sou o único ser humano acordado na face da terra.











Sobre a obra

O texto nos fala de um frio interno, intenso e gélido que congela os ossos, mas não consegue imobilizar o pensamento, as sensações, os desejos e a lucidez de uma mulher que se fragiliza diante da insônia.


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informações

Autoria
Maria Lúcia Medeiros Teixeira
Ficha técnica
Psicóloga Clínica - Pós Graduada em Psicoterapia de Orientação Analítica - UNIDERP -IPD.
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crispinga
 

Querida Malu,
Benditas sejam as palavras, que exorcizam nossa dor e transmutam nossa solidão...Você não está só e nunca estará. Almas pequeninas, crianças, a rodeiam e amam e precisam do seu calor.
O clube da insônia tem muitos adeptos. Felizes os que conseguem driblá-la com poesia!

crispinga · Nova Friburgo, RJ 5/2/2009 20:14
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Cláudia Campello
 

Um sentimento perdido en universo de emoçoes; sempre consciente de que ainda existe muito a sentir, a viver.
Viu ? ! vc tem cia... eu!

belo texto.

bjssssssssss ;)

Cláudia Campello · Várzea Grande, MT 6/2/2009 02:51
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Rangel Castilho
 

Salve, Maria Lucia!

Essa tal de insônia escreve bem, não?

Abraço Pantaneiro.

Rangel Castilho · Anastácio, MS 6/2/2009 23:05
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raphaelreys
 

Completei a votação! Um abraço e um beijo!

raphaelreys · Montes Claros, MG 7/2/2009 05:50
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O NOVO POETA.(W.Marques).
 

publicado seu texto maravilhoso.

O NOVO POETA.(W.Marques). · Franca, SP 7/2/2009 20:30
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Juscelino Mendes
 

Belo e interessante texto... abs.

Juscelino Mendes · Campinas, SP 7/2/2009 21:47
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Ailuj
 

Eu não sou uma pessoa insone,mas qdo as vezes perco o sono por algum motivo,sei como é ruim ficar uma noite sem dormir por falta de sono

Ailuj · Niterói, RJ 7/2/2009 23:45
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Maria Lúcia
 

Cris querida,
A palavra é o meu instrumento de trabalho e sei o quanto podemos fazer por nós mesmos através delas. Grata por Gabriela, uma destas crianças maravilhosas que fazem minha vida cada dia melhor e com mais sentido. e, que se vá a insônia. Beijo

Maria Lúcia · Campo Grande, MS 8/2/2009 00:01
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Maria Lúcia
 

Seja bem - vinda Claúdia Campelo, acho que infelizmente vc é uma daquelas a qual me refiro no último paragrafo do texto . . . e adormeço aliviada pela ilusão de que não sou o único ser humano acordado na face da terra . . . grata pela companhia. Beijo e volte sempre.

Maria Lúcia · Campo Grande, MS 8/2/2009 00:06
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Maria Lúcia
 

Rangel queridissimo,

Tá vendo tudo na vida tem seu lado bom!!!

Beijo carinhoso

Maria Lúcia · Campo Grande, MS 8/2/2009 00:08
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Maria Lúcia
 

Raphael,
Que bom que vc veio!
Beijão

Maria Lúcia · Campo Grande, MS 8/2/2009 00:09
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Maria Lúcia
 

Meu caro Novo Poeta,

Que bom que vc gostou e veio ler e votar. Fica de olho já tem outro " quase" em edição.
Um forte abraço.

Maria Lúcia · Campo Grande, MS 8/2/2009 00:11
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Maria Lúcia
 

Jucelino bem vindo,
Este texto me agrada muito, pois me mostro num momento um tanto difícil como este quando o sono não chega . . . e a cabeça não pára.
Gostei da tua presença, volte sempre.

Maria Lúcia · Campo Grande, MS 8/2/2009 00:14
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Maria Lúcia
 

Ailuj, tomara que nunca fique sem dormir . . . e muito obrigada pela presença, voto e comentário. Retorne sempre.
Beijo.

Maria Lúcia · Campo Grande, MS 8/2/2009 00:16
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Bia Marques
 

criatura de mente desperta e alerta, o frio fica mais aconchegado no pijama e meias da infância, a insônia vira musa e o sono chega manso. abraço

Bia Marques · Campo Grande, MS 8/2/2009 15:35
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Maria Lúcia
 

Olá Bia Marques, velha amiga da família Teixeira, muito bem- vinda !
Seu comentário cheio de poesia me agradou muito, obrigada.
Beijo

Maria Lúcia · Campo Grande, MS 8/2/2009 23:32
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ayruman
 

Muito bom e oprtuno yema.
Luz e Paz. jbconrado

ayruman · Cuiabá, MT 10/2/2009 11:26
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Maria Lúcia
 

Olá meu caro quase vizinho,
As agraruras da insônia, só os insones compreendem.
Mui grata pela presença.
Abraço.

Maria Lúcia · Campo Grande, MS 10/2/2009 17:29
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Tania Velázquez
 

Benditas insônias que fazem produzir belos textos, Maria Lúcia!
Não tenho insônia, mas sempre fui notívaga e minhas inspirações são sempre melhores, à noite. Talvez porque à noite podemos pensar e criar sem sermos incomodados.
Adorei seu texto e não achei pesado, como você disse que eu poderia achar. Você fala da realidade de muitas pessoas, inclusive da minha, quando provoco uma insônia para poder escrever o que tenho vontade no momento. O sono pode esperar. A inspiração, jamais!
Desnudar a alma, fazer um streap teaseinterior faz tão bem, que todos deveriam aderir a essa prática. Ganhamos nós, que nos desnudamos e ganham as pessoas que lêem e aprendem a viver com mais liberdade, doando um pouco de sua criatividade, talento e troca de sentimentos.
Beijos, amiga.

Tania Velázquez · Curitiba, PR 20/4/2009 20:23
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