É como se eu carregasse um frio tão grande, semelhante a cubos de gelo que me fragmentam e aprisionam num imenso iceberg antártico.
Um frio como aquele que sopra na esquina da Dr. Bozano com a Niderauer numa das noites mais frias que a velha Santa Maria da Boca do Monte já pôde agüentar. Um frio tão vento, um vento tão frio que tornam meus ossos gelados.
A noite vem, o silêncio reina, os corpos adormecem e descansam menos o meu. Embora seja corriqueira a minha cabeça quente e separada do meu corpo antônimo, quero entender, significar a insônia e este gelo que me percorre e mantém em vigÃlia intensa e sem um pregar de olhos.
Todos os sons que me cercam são perceptÃveis a minha audição diurna tão prejudicada. O dia, as alegrias, os débitos, créditos, sonhos, amores, perdas, raivas, saudades, sabores e dissabores bailam em cores fortes para uma noite tão escura e um frio que me tira a possibilidade de aquecer e dormir. Desejo que melhores emoções habitem meu pensamento fértil e capaz de criar coisas inenarráveis, retirando relÃquias e misérias inconfessáveis ao meu consciente tão em busca do inconsciente que habita em mim.
Escrevo no escuro, aproveito a fraca luminosidade da tela do computador, se acender a luz tudo será visÃvel ao meu olho invisÃvel e indiscreto.
Talvez compreenda meus ossos gelados e traga à tona meu amor sem utilidade, a minha pele macia, a minha intensa luz, meus desejos inconfessáveis, a nitidez da minha fragilidade, a minha alma tão só que não descansa de tanto medo de ficar muito e mais sozinha.
No escuro da noite, no silêncio das bocas, na imobilidade dos corpos que dormem, sinto o gelo dos meus ossos e a solidão da minha alma inquieta e desejante de encontro, de toque, de afeto, carinho, prazer e alegria.
O dia desponta, da minha janela um leve raio de luz, aos meus olhos a claridade do dia, na minha alma o engano da vigÃlia permitida, dos encontros superficiais e insuficientes ao meu ser que se esfria diante de um mundo ainda mais frio.
Espero então o astro rei que radiante desponta em mais um dia em que trabalho com sono, disfarçando minhas profundas olheiras, minha pele cansada, minha beleza prejudicada.
E declaro então mais uma vez, que sou movida a sol, que sou do dia e que ninguém me pergunte o que fiz ontem à noite para eu poder esquecer por algumas horas a tortura da insônia, os meus ossos gelados e a minha incessante solidão.
Abro a gaveta, visto um pijama de pelúcia como aquele que vestia quando criança, me enfio inteira no meu velho par de meias de lã e adormeço aliviada pela ilusão de que não sou o único ser humano acordado na face da terra.
O texto nos fala de um frio interno, intenso e gélido que congela os ossos, mas não consegue imobilizar o pensamento, as sensações, os desejos e a lucidez de uma mulher que se fragiliza diante da insônia.
Querida Malu,
Benditas sejam as palavras, que exorcizam nossa dor e transmutam nossa solidão...Você não está só e nunca estará. Almas pequeninas, crianças, a rodeiam e amam e precisam do seu calor.
O clube da insônia tem muitos adeptos. Felizes os que conseguem driblá-la com poesia!
Um sentimento perdido en universo de emoçoes; sempre consciente de que ainda existe muito a sentir, a viver.
Viu ? ! vc tem cia... eu!
belo texto.
bjssssssssss ;)
Salve, Maria Lucia!
Essa tal de insônia escreve bem, não?
Abraço Pantaneiro.
Completei a votação! Um abraço e um beijo!
raphaelreys · Montes Claros, MG 7/2/2009 05:50Eu não sou uma pessoa insone,mas qdo as vezes perco o sono por algum motivo,sei como é ruim ficar uma noite sem dormir por falta de sono
Ailuj · Niterói, RJ 7/2/2009 23:45
Cris querida,
A palavra é o meu instrumento de trabalho e sei o quanto podemos fazer por nós mesmos através delas. Grata por Gabriela, uma destas crianças maravilhosas que fazem minha vida cada dia melhor e com mais sentido. e, que se vá a insônia. Beijo
Seja bem - vinda Claúdia Campelo, acho que infelizmente vc é uma daquelas a qual me refiro no último paragrafo do texto . . . e adormeço aliviada pela ilusão de que não sou o único ser humano acordado na face da terra . . . grata pela companhia. Beijo e volte sempre.
Maria Lúcia · Campo Grande, MS 8/2/2009 00:06
Rangel queridissimo,
Tá vendo tudo na vida tem seu lado bom!!!
Beijo carinhoso
Meu caro Novo Poeta,
Que bom que vc gostou e veio ler e votar. Fica de olho já tem outro " quase" em edição.
Um forte abraço.
Jucelino bem vindo,
Este texto me agrada muito, pois me mostro num momento um tanto difÃcil como este quando o sono não chega . . . e a cabeça não pára.
Gostei da tua presença, volte sempre.
Ailuj, tomara que nunca fique sem dormir . . . e muito obrigada pela presença, voto e comentário. Retorne sempre.
Beijo.
criatura de mente desperta e alerta, o frio fica mais aconchegado no pijama e meias da infância, a insônia vira musa e o sono chega manso. abraço
Bia Marques · Campo Grande, MS 8/2/2009 15:35
Olá Bia Marques, velha amiga da famÃlia Teixeira, muito bem- vinda !
Seu comentário cheio de poesia me agradou muito, obrigada.
Beijo
Olá meu caro quase vizinho,
As agraruras da insônia, só os insones compreendem.
Mui grata pela presença.
Abraço.
Benditas insônias que fazem produzir belos textos, Maria Lúcia!
Não tenho insônia, mas sempre fui notÃvaga e minhas inspirações são sempre melhores, à noite. Talvez porque à noite podemos pensar e criar sem sermos incomodados.
Adorei seu texto e não achei pesado, como você disse que eu poderia achar. Você fala da realidade de muitas pessoas, inclusive da minha, quando provoco uma insônia para poder escrever o que tenho vontade no momento. O sono pode esperar. A inspiração, jamais!
Desnudar a alma, fazer um streap teaseinterior faz tão bem, que todos deveriam aderir a essa prática. Ganhamos nós, que nos desnudamos e ganham as pessoas que lêem e aprendem a viver com mais liberdade, doando um pouco de sua criatividade, talento e troca de sentimentos.
Beijos, amiga.
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