Saà para a consulta com o dermatologista e, como era muito cedo resolvi dar uma olhada nas lojas que ficavam ao lado. Quando saà de uma das lojas, encontrei um morador de rua que veio sorrindo em minha direção e falou:
-Você é muito elegante! Posso te conhecer?
Sorri e ele colocou só as pontas dos dedos na minha mão, dizendo que era doublé, mas não estava gravando porque tinha sofrido um acidente e não podia trabalhar.
Sem esperar resposta, já foi dizendo que Deus está só na BÃblia e Deusas estão na terra.
Aquela conversa me fez ver que eu estava diante de um louco desesperançado.
Ele chamava a si mesmo de “elaâ€, dizia que era uma louca e como louca podia fazer qualquer coisa. Concordei com ele e como estava chovendo um pouco, coloquei meu guarda-chuvas gigante sobre sua cabeça, para protegê-lo.
Essa criatura de rua me chamava de mona prá cá e mona pra lá e, lembrando que essa é a linguagem dos travestÃs quando se dirigem a uma mulher, sentÃ-me a prória Mona...lisa. Porque na verdade, o que ele queria era pedir-me algum dinheiro.
O pessoal passava e olhava, talvez sem entender por que eu dava atenção àquela criatura.
Pensando bem, até que ele falava de coisas bem interessantes para questionar, não fosse a mudança frenética de assuntos. A cabeça dele(a) estava a mil.
Quando me pediu dinheiro, eu não soube o que fazer. Estava chovendo, e, como não costumo abrir a bolsa na rua, propus voltar do médico e dar-lhe as moedas que ele queria. Afinal, eu estava quase na porta de entrada da clÃnica e ele poderia esperar-me.
Mas essa pessoa de hoje não gostou, não quis me esperar ou não acreditou em mim. Ele simplesmente tirou uma moeda de cinco centavos do bolso e me deu...
Achei que ele foi irônico, debochado e com humor negro. E como sou uma pessoa comum, sentà como os comuns.
Fiquei com vergonha e até me senti culpada, porque mesmo que digam que não se deve dar esmolas, eu queria dar algum dinheiro para aquela pessoa que estava do outro lado; do lado da loucura.
Quando voltava para casa, ainda pensando no que tinha acontecido, lembrei que há muito tempo, no mesmo ponto de ônibus que estava hoje, passou um rapazinho (doente mental) pela fila, dizendo a todos:
-me dá 10 centavos?
Ele era bem conhecido e eu já o tinha visto naquele ponto de ônibus, algumas vezes.
Algumas pessoas, quando viam que ele estava passando, viravam de costas, porque ele não insistia. Só passava de um em um, com as palmas da mão em concha, pedindo 10 centavos.
Quando ele passou por mim, coloquei 50 centavos na sua mão e ele raivoso, atirou a moeda no chão e falou bravo:
-Eu pedi 10 centavos!
Tânia, de perto nionguém é normal, não se assuste com a pseudo lucidez de alguém, no memomento crÃtico todo mundo pode vir a ter uma reação das mais espevitadas, ao passo que um "louco" pode vir a nos surpreender...
Um presente surpreendente pra você:
http://www.youtube.com/watch?v=S0XQYzf_h40
depoi me diga se gostou ...
Um beijo !
Maravilhosa interpretação do Rick Valley! Esse cara é um grande artista. Espero que tenha feito sucesso, porque realmente merece!
É um show man!
E obrigada pelo link. Eu vi esse programa e fiquei extasiada, quando ele cantou.
Um beijo
Com chuva ou sem chuva que venham mais loucuras tão bem narradas como esta, Tania.
Eu tenho, confesso, medo de loucos, embora sinta por eles certa compaixão e curiosidade. Talvez minha compaixão seja tolice, pois muitos deles criam mundos que parecem mais encantadores que este em que vivemos. E minha curiosidade é entender como é este mundo deles. Enfim, não sei quem vive melhor ou pior, se eles, os insanos, ou nós os... hã.... os "lúcidos".
Gostei de "os lúcidos". Como bem falou Alcanu, todos nós podemos dar um piti de vez em quando.
A mim também encantam os que estão no lado da loucura. Adoro conversar com eles e por isso mesmo as pessoas passavam e me olhavam com ar de "por que será que essa mulher com cara de normal dá atenção a uma pessoa tão estranha?"
O mundo deles não é tão bom, quando têm alucinações e manias persecutórias, mas em alguns momentos, vivem melhor do que nós.
Existem muitas pessoas cultas, inteligentes e sensÃveis, que não conseguem se adaptar ao nosso sistema. O grau de sensibilidade delas vai além dos parâmetros ditos normais e por alguma razão, talvez inconsciente, passam para o outro lado.
As doenças mentais estão tão subdivididas, que só mesmo um profissional pode avaliá-las, mas desses alegrinhos que andam pela rua, eu não tenho medo. Tenho mais medo dos psicopatas que ficam escondidos atrás de ternos e gravatas, tÃtulos e aqueles que estão em BrasÃlia.
Obrigada por comentar. Vou ler sobre o que gosta de escrever, também.
Um abraço
A História é muito interessante. Dá a cada um, conforme sua experiência e sua percepção do que é o SER humano, a chances diversas de conclusão, ou não...
Abraços Guaicuru.
Obrigada, mineiro!
Volte sempre que eu tiver alguma novidade para contar.
Um abraço
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