Ser tartaruga não é mole.
Mole é a carnadura,
Por leve que seja,
No baixo fica o de cima,
Como peso a contemplar,
Com olhos miúdos, o comprido da vida.
Cumprir promessas é essa moleza,
Do sol que escalda o deserto do Saara
(Que me desertou).
Foi só por essa razão
Que o ser,
Do tamanho do tempo, eterno divertimento,
Inverteu em mim o amplexo.
Minha complexidade é a de ser tartaruga,
Na rosa do tempo, ser eterno...
Ser moderno.
Quando tudo em mim se rebela, um alguém diz:
– seja pós-moderno.
Denise, essas vozes frenéticas desses tempos modernos subvertem nosso silêncio, nosso olhar, nosso sentir, nosso caminhar e, sobretudo, o nosso voltar para a mais Ãntima verdade do que pensamos ser a nossa natureza. Viver no tempo e na velocidade da máquina do mundo não é fácil, conviver com os homens grávidos de tanta máquina, dificÃlimo. DifÃcil a sÃntese de caminhar na intempérie de tanta aridez, esses desertos que nos desertam. E mesmo assim, acalentar a rosa, a sublime rosa. Às vezes é sabedoria pura o casco da tartaruga para a perene caminhada. Noutras, ah... A única saÃda é nos entregarmos à sÃntese da flor despetalada, aos embates aflitivos dessas vozes da modernidade que nos empurram para a urgência e a angústia do pós alguma coisa. Mas aà vem o poeta, brinca com as nossas aflições e nos repõe ao conforto de ouvir um sopro lÃrico. E cansados de modernidade, queremos mesmo é ser eternos na perenidade dos passos e do olhar, esquecidos de tantos paradoxos. Belo conflito sacudindo a gente na enigmática flor do seu poema. Em outras palavras, beleza de poema! Adorei a força das imagens.
Beijo grande.
Cida, obrigada pelas palavras poéticas ditas sobre o poema "O paradoxo de Zenón". Sua leitura é profundamente instigante e devolve ao meu olhar o que me escapa no poema que já não me pertence - como bem sabes, escrever é quase sempre se deixar levar pela máquina da escrita, a mais oculta, que nos delibera e nos coloca para fora do centro de gravidade do nosso ambÃguo umbigo! E você, Cida, é escritora e leitora (como se fosse possÃvel separar o bom leitor do escritor) refinada, que dá gosto ler. Sem esquecer que a edição do texto, neste espaço, pertence a você. Grata! Beijo enorme!
Denise Sampaio Ferraz · São José do Rio Preto, SP 26/9/2007 12:16Impressionante como, na aridez do deserto, você consegue organizar imagens como quem constrói um buquê com flores do campo.
Tacilda Aquino · Goiânia, GO 27/9/2007 15:36
Nossa! Que beleza de inspiração.
Profundo e bem construÃdo. Amei seu poema Denise.
Foi bom conhecer sua poesia. Meu voto e um abraço.
Goestei muito de todos os comentários enviados, acho que os comentários ajudam a reler e rever o poema com olhos novos. Obrigada! Abraços.
Denise Sampaio Ferraz · São José do Rio Preto, SP 29/9/2007 13:21Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
Você conhece a Revista Overmundo? Baixe já no seu iPad ou em formato PDF -- é grátis!
+conheça agora
No Overmixter você encontra samples, vocais e remixes em licenças livres. Confira os mais votados, ou envie seu próprio remix!