Pequeno Planetinha

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Giulia Tadaki · Biguaçu, SC
4/6/2011 · 4 · 8
 

Rodando, rodando. Girando ao redor da própria órbita – seria um planeta, um astro. Um astro girando em volta de uma estrela cansada. Junto a tantos outros, cansados como ela. Prosseguindo suas existências, nas mesmas rotas, no mesmo sentido, toda a vida… Toda a vida. Voltando sempre a rodar em volta de si, do próprio umbigo. Pois assim são as estrelas, os planetas, e todas as coisas que existem no espaço – egocêntricas. Batendo-se uns nos outros, sem se importar. Se puderem continuar andando no mesmo sentido, não importa o que tenha no caminho. Não mesmo.

Portanto passava esse tempo todo girando, e girando. Diferente dos demais, observava esse movimento. Analisava cada volta que dava, e todas as voltas dos outros astros ao seu redor. Olhava atentamente também os menorzinhos, tão pequenos, girando em torno de seus planetas – e ainda assim, em torno deles mesmos, antes de fazer o movimento em volta do outro. E era engraçado de ver, a idolatria desses, aparentemente aos outros, e essencialmente apenas a eles mesmos, e só – como podia?

Pois continuava sozinha, sem nenhum outro por perto, desviando de tudo que poderia vir ao seu encontro. Fugia – sim, fugia – como se fosse a própria morte ver outro rosto estampado em matéria. Corria para cumprir sua estrada, sem que precisasse de alguma intercessão. Por mais que dentro de si, os dias fossem quentes demais, e as noites cruelmente frias, devido ao distúrbio de sua rota. Não importava – simplesmente isso – não importava o desconforto enquanto pudesse se esconder. Sempre que se sentia triste, sempre que se sentia incompleta, impura ou amaldiçoada, mudava seu olhar – encarava com todas as suas forças a estrela em volta da qual girava. E buscava ali toda a ilusão de que precisava. Ilusões, sonhos, esperanças. Era ali que ela via tudo isso. Apenas ali.

Mas aquela estrela também lhe trazia dor. Brilhava muito longe. Era um brilho cruel. O cruel brilho da distância. A ardente luz do impossível, que enchia os olhos de emoção e de desgraça. No entanto, de que importava a desgraça? Que desgraça poderia ser maior que o destino que já havia se impregnado em seu caminho? Por isso se lançava ao destino daquela estrela – daquele brilhar – daquele olhar que ameaçava seus dias desde que surgira, lhe roubando de sua estrada original. E sua luz era tão forte, tão intensa, que não lhe deixava em paz o suficiente. Observava os outros, mas sempre tinha como obrigação lhe dirigir uma olhada – só mais uma vez, uma breve olhada. Um pouco, um pouco mais.

Aquela era sua estrela, seu vício, seu centro, a causa de suas voltas. E por ali giraria sempre. Por quê? Porque tinha esperança, que sua estrela se explodisse, indo embora e levando-a junto. Ou então, que sua estrela gentilmente a depositasse em outro rumo – afim de que pudesse seguir caminho na imensidão, sem perder tempo em falsa esperança. Só que aquele pequeno astro, era apenas um planeta, dependente de mil probabilidades estranhas em um universo tão vasto quanto seu vazio, sua solidão, e o seu coração… Pobre coração.

[Larissa C. S]

Sobre a obra

By Larissa C.S. - 17 Anos


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Autoria
Escrito originalmente por Larissa C.S. , tenho autorização e permissão da autora para divulgação de suas obras.
Ficha técnica
http://edisetisoppo.wordpress.com/ & http://blogsemasas.blogspot.com/
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Selva Rodrigues
 

Bela representação do egocentrismo e de uma certa atração que isso, seja em nos ou em outro, nos causa.
É como na obra de La Boitie, Discurso da Servidão Voluntaria. Precisamos de referencias, pensamos e agimos por analogias.
Gostei do texto e obrigado pela sua publicação.

Selva Rodrigues · Cuiabá, MT 2/6/2011 03:12
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Cau Santana
 

Gostei do muito do texto! bem escrito e com vasta sugestão interpretativa.
Parabéns a Larissa e obrigado pelo convite.
Abraçosss

Cau Santana · Barreiras, BA 2/6/2011 10:03
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Sihmoneh Maia
 

Parabéns, Larissa!

Tens futuro na Literatura.
Segue em frente e leia bastante, pesquise, busque, mas - essencialmente - leia!
Escrever vai ser apenas uma consequência natural, uma extensão de todo conhecimento por você adquirido e de seu natural dom para a escrita.

Beijinhos!

: ]

Sihmoneh Maia · Santo André, SP 2/6/2011 18:47
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DECRÉPITA BÚSSOLA
 

OLà BOA TARDE...VENHO (um pouco atrasado) A TEU CONVITE rsss!!! E DIZER QUE É UM TEXTO MUITO BONITO!!! GOSTEI!!! GRATO PELA VISITA...ATÉ MAIS...

DECRÉPITA BÚSSOLA · Caçapava, SP 3/6/2011 12:31
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ayruman
 

Planeta e mais Planetas. Não sabemos mas cada um cumpre sua missão e na ordem cósmica expressão equilíbrio, harmonia. Também fazemos parte desta magnífica Orquestra e aqui na Terra estamos apenas para afinar nossos instrumentos...
Luz e Paz. Sempre!

ayruman · Cuiabá, MT 4/6/2011 09:37
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ayruman
 

Corrigindo...
Na ordem cósmica expressam equilíbrio, harmonia.

ayruman · Cuiabá, MT 4/6/2011 09:39
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Vasqs
 

É isso, você tem talento, vontade.
Que bom, 17 anos, é? Minha nossa,
eu na sua idade queimava meu tempo
jogando bolinha de gude. O que
será de você aos 30? Tá na cara,
uma escritora. Siga escrevendo
bastante - mas pode jogar
bolinha de gude vez em quando.

Vasqs · São Paulo, SP 8/6/2011 19:46
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Charlot
 

Jovem amiga. Creio que somos como as estrelas. Temos nosso próprio brilho e nosso p´roprio espaço. Desejo que o seu ou o brilho das pessoas sempre ilume outras. bjs. Charlot

Charlot · Recife, PE 11/10/2011 09:33
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