Pezão.
Pezão era caboclo rude. Gostava muito de uma viola, de por o pé na estrada e sem lenço nem documento, sempre que podia, viajar mundo afora... Sentir a terra no chão. Sentir a brisa no ar. Sentir nas solas dos pés, as quatro estações do ano. Vivia com Joaquina e seus cinco bacurizinhos, na sua tapera lá no fundo grotão.
Sua parentaia até que era grande, mas todos tinham abandonado o sertão em busca de vida decente nas cidades grandes... Os anos passaram. Seu povo foi engolido pela a floresta de concreto e ferro, na busca insana de enricarem. Nunca mais pro sertão voltaram.
Mas Pezão nunca se iludiu com o canto da sereia. Entre o brilho falso das promessas do mundo tecnológico dito “civilizadoâ€, Pezão nem assuntava duas vezes. Quem quiser ir embora daqui, que vá. A mim me basta a consciência tranqüila, a terra molhada pra plantar, água fresquinha na bica pra saciar a sede e uma noite de céu estrelado onde eu possa cismar meus escritos arrebatados.
Não nasci pra me iludir com bonitezas. Ser escravo do relógio. Prestações. Carnês de contas a pagar e da correria demente que escraviza, subjuga e te consome. Muito menos viver correndo que nem barata tonta, cego em tiroteio, atrás de falsos tesouros e ser fantoche manipulado, pra simplesmente se sentir importante e aceito na sociedade.
Não meu amigo. Se isto é vida prefiro por aqui mesmo me arranjar. Nada destas invencionices modernas vai me fazer dobrar. Me tirar do meu centro, nem meu coração amofinar.
Aqui não tenho a tão idolatrada "coca-chola", hambúrguer e coisa e tal. Mas tem caldo de cana com limão, laranja no pé, jabuticabeira pretinha, leite fresquinho na hora e no fogão a lenha, linguiça defumada ... Na prateleira da dispensa, carne de porco enlatada. E pra queimar as gorduras; o colesterol bravo, muita terra pra carpir!
Tenho só o necessário seu moço, tudo é muito simples e sem firulas, mas vivo feliz vendo o dia correr solto. Vendo a chuva cair, o rio sonhando com o mar. Vendo os passarinhos cantar e lá na floresta, na hora do crepúsculo, com o coração contrito, junto com os anjos; com Joaquina e meus bacurizinhos, a Ave Maria rezar.
Texto, pintura a óleo e fotocomposição: jbconrado*
na hora do crepúsculo, com o coração contrito, junto com os anjos; com Joaquina e meus bacurizinhos, a Ave Maria rezar.
na hora do crepúsculo, com o coração contrito, junto com os anjos; com Joaquina e meus bacurizinhos, a Ave Maria rezar.
tags
Ayruman... muito bom!!! Apareça no meu novo perfil pra me visitar...
Lelé Alves · Diamantina, MG 19/12/2015 08:42Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
Você conhece a Revista Overmundo? Baixe já no seu iPad ou em formato PDF -- é grátis!
+conheça agora
No Overmixter você encontra samples, vocais e remixes em licenças livres. Confira os mais votados, ou envie seu próprio remix!