Pingo de Gente

Quantos milhões de gotinhas devem cair de uma só nuvem? Em meio a tantos milhões delas, o gotinho avistou aquela que seria a gotinha de sua chuva; pediu que o vento assoviasse pra ela. Ela escutou e brilhou por conta daquele feixe de luz do sol atrevido, xeretando por entre as nuvens. Foi amor à primeira chuva. Não tiveram muito tempo de trocar uma humidade, pois se espatifaram na janela. Por sorte, na mesma. Entre eles ficaram várias outras gotas, o que já estava deixando o gotinho mau-humorado. Ele conseguiu pingar até ela. Deram-se as mãos e se tornaram uma só gota, uma só água. As mini gotinhas levadas, escorregando na janela embaçada, trombaram-se todas e empurraram nosso casal gota pra baixo. Passaram do limite e se espatifaram no chão, dividindo-se em milhares de gotículas. O coração deles se partiu, umas partes se perderam. Fizeram tempestade em copo d’água e nunca mais se entenderam. Foi cada um para o seu bueiro.

A gotinha secou. O gotinho virou lágrima.