PROCURA-SE
Fátima Venutti
Inda ontem fiz faxina em minha vida.
A rolha de um tão guardado cabernet chileno foi quebrada pelo sacarrolha. Brindei a mim, foi-se o primeiro gole. Abri o armário dos anos e busquei, em cada prateleira, os planos não concretizados. Alguns amores não resolvidos saltaram da quina da gaveta. Novamente o amargo das lágrimas subiu pela garganta. Fiz um nó bem bolado com cada um deles, abri o saco plástico de cem litros e joguei dentro, bem ao fundo.
Foi quando meu braço esbarrou na caixa de fotografias. Infância, parentes, valores e descobertas se confundiram com adolescência. Em meio a amigos de escola, desaparecidos pelo traço da vida, momentos de desencontro comigo mesma desfilaram pelas sombras de versos amassados desprezados no auge dos hormônios. Destilando imagens, filtrei poucas gravuras, rasguei algumas paisagens e ateei fogo nos rostos indefinidos. Mais um tanto pro saco de cem litros.
Avistei os cabides com meus dias positivos e de glória, meus desejos irreais personificados perpetuando no espaço de um imenso rolo compressor de histórias, mentiras e verdades estudadas. Hoje, a maioria não me é mais necessária. Outros tantos valores escolhi e me esqueci de abrir espaço nessa caixa. Outros nós e mais calor das labaredas a consumir o que conquistei. Tornado pó, engolido pelo saco de cem litros.
Prateleiras de vidro vazias. Armei fogueira com meu conhecimento das artes, literatura, cinema, esporte e tudo o mais que com orgulho organizei e adquiri; nela vomitei a bílis de minhas noites de boemia e minhas solitárias manhãs de ressaca cultural. Minha mente ferveu e fedeu a soberba da hipocrisia social. Tudo pro saco.
Horas passadas, o cabernet está quase no fim. Ainda falta o pior: o hoje.
Cores cítricas para os amigos; tom pastel para família (ou o que restou dela); os de tom terra acolhem-se nas barreiras, dificuldades e projetos frustrados. Vista e viva, a magenta toma toda a forma de minha mente: restou-me somente o verbo amar. Sons, odores, sabores e cores. Banhei-me na fuccia dos orgasmos escondidos, aspirei todo o ar aparente, bati as portas do armário da minha vida. Deslizei as costas e sentei-me no chão, enquanto o cabernet era sorvido até a última gota. Então chorei toda minha infância pobre.
Mês passado fiz faxina em minha vida. Ao trancar o armário, esqueci a chave da memória dentro. Inda olho o saco de cem litros e recordo o quanto eu respiro pra me manter só.
um texto impecável, parabéns.
depois eu volto.
Belodia, breve dia precisará tão somente de um saquinho de 20 litros, de meio litro ou de nenhum. Que maravilha.
Bjo, volto para votar
Um senhor 'housekeeping íntimo', né, mocinha, que beleza, quem me dera eu conseguisse fazer um, tão apegado que sou a certas coisinhas...
Hajam sacos de cem litros !
Um beijo !
Fantástico seu texto, dá um nó na garganta. Bem escrito e uma belíssima faxina.
Angélica T. Almstadter · Campinas, SP 30/1/2009 18:42
Meus respeito poeta maravilhosa!
beijos de depois eu volto com alegria para votar,
Parabens pelo retorno com este belo texto que vem valorizar este espaco,
beijos
Grande texto,Fátima, muito intimista nos levando para o mais profundo
de nós...Ahh...essas faxinas...tão necessárias e tão difíceis muitas vezes...
Muito bom, gostei demais!!
Bluebjks
Blue
De volta e arrebentando com sempre heim. Parabéns pelo texto. Eu voltarei... pois na volta ninguém se perde. rs
José Cycero · Aurora, CE 30/1/2009 23:35
Fátima,
A mulher e seus arquivos para todos os tempos,fino texto.
Parabéns
Fátima,
Nem mil sacos plásticos, poderiam abrigar tudo que existe bem guardadinho no santuário de afeição que você edificou, com muito amor e carinho, onde as lembranças resistem a todas turbulências.
Lindo demais!
Beijos
Beleza de texto. Quanto de nós precisamos fazer isso.. uma faxina na mente e de coisas que só ficam atrapalhando. Parabéns por esse belo retorno
Omar Costa de Umbro · São Paulo, SP 1/2/2009 17:03
Sabe, vez ou outra faço faxina no sotão de minhas lembranças e o q é foda .é que aquilo que eu mais gostaria de remover, reciclar ou atiçar fogo, fica lá, irremovivel... pesadooooooo, ufa !!!
Mas como minha mae sempre diz:- é preciso sacudir a poeira e dar a volta por cima.
gostei... votei !
bjsssss (um tanto mais leve, rs)
Estava sentindo falta de seus ótimos textos
Parabéns
Lendo seus sonhos e palavras, vendo suas fotos, não como você vê, mas com uma leve percepção do seu grande significado, percebo esta dependência que temos de imaginar e querer continuar sonhando, sempre, com alegrias ou tristezas. Nossas vidas às vezes ficam assim como um vinho que ficou azedo com sua rolha boiando e destilando seu verdadeiro sabor, mas como sempre digo, no final restam as letras, e podemos aproveitá-las.
Belo texto Fátima, aos poucos retorno ao over, por enquanto como leitor.
abç
Aut!
Que lindo menina!
As coisas ganharam vida, as sensações se tornaram palpáveis...
Beleza!
Beijo!
Prosa poética maravilhosa ! Votando ... bjs
André Calazans · Rio de Janeiro, RJ 3/2/2009 22:40
Emocionante, Fátima...
Junto ao seu texto, minhas lembranças foram surgindo, suas palavras me tocando...
Beijo
E que retorno!!!....belo texto....fala d'alma de todos nós....um dia recordaremos e seremos felizes, nos "arquivos da memória" apagar-se-áo os que náo sáo bons...voltaremos á ESSENCIA....DEUS...
Chabudé · Tarumirim, MG 4/2/2009 07:30
gostei do teu texto, bem escrito!
E quem de nós não precisa vez por outra fazer uma faxina das gavetas e da alma?
imagens poéticas ... lindas!
A fazina é preciso sim... mas que ela não te deixe cotinuar só!
A vida é pra ser vivida, e amar traz um novo viver!
"Mês passado fiz faxina em minha vida. Ao trancar o armário, esqueci a chave da memória dentro. Inda olho o saco de cem litros e recordo o quanto eu respiro pra me manter só."
Nota máxima pra vc poeta!
bjss
Banhei-me na fuccia dos orgasmos escondidos, aspirei todo o ar aparente, bati as portas do armário da minha vida.
Menina, que luxo, adorei isso.
Quisera eu poder arrancar da memória o que não me serve mais, bater a porta e esquecer tudo...
Belo retorno, sejas bem vinda!
Ganhaste meu voto e minha admiração.
beijos
Passando para conhecer teu trabalho e gostei muito!
votado! Beijos!
Impecável seu texto; falar mais alguma coisa, seria redundante!
Aplausos, abços e ..votos!!
saquinho de 100L !? sorte...
cores cítricas pros amigos sabor caipirinha...
bbelo texto,
beijo,
Oi. Desculpe o tempo rápido... Bom estar aqui apreciando e marcando presença.
Luz e Paz . jbconrado
De vez enquando é bom fazer esse tipo de faxina.Pena que nem sempre a gente concorde muito com o tipo de lixo extraído do nosso ser.Você teve coragem,ou pelo menos tentou.Que bom!
camuccelli · Rio de Janeiro, RJ 4/2/2009 14:36Estou precisando fazer uma faxina na minha vida também! Eu achei belissimo o seu texto, eu amei.... parabens, bjus com votos
Fatima Merigue de Mendonça · Itu, SP 4/2/2009 16:51
Oi Fátima!
Tudo bem!
Que faxina espiritual forte e profunda
nós todos sempre estamos jogando para fora
nossas emoções e escolhas diárias
a transformação espiritual acontece o tempo inteiro,
mas é necessário não sentir culpa pelo passado,
mas guardar as melhores impressões digitais
para o amanhã com gosto de ternura e prazer
de tempos bem vividos é assim o trajeto de todos
nós meros mortais que procuram amor e alegria,
nestas maravilhosas andanças da vida.
Adorei seu texto bem reflesivo e positivo.Votei!
Tudo de bom!
Fique com Deus!
Dalila
Maravilhoso texto sobre a memória de tempos que vivemos
su angelote · Jaboatão dos Guararapes, PE 4/2/2009 21:40
O tempo não pára...
Beleza, querida Fátima.
sorry darling,,cheguei atrasada prá votoção...
mas li ...
gostei
votei e
chorei
lindo...lindo!!!
beijo
Doce
"Abri o armário dos anos e busquei, em cada prateleira, os planos não concretizados. Alguns amores não resolvidos saltaram da quina da gaveta. Novamente o amargo das lágrimas subiu pela garganta. Fiz um nó bem bolado com cada um deles, abri o saco plástico de cem litros e joguei dentro, bem ao fundo."
Este é um momento crucial na vida de todos nós: enxugarmos as lágrimas do nosso passado e jogar no lixo os piores momentos de nossas vidas. Pena que a alegria teima sempre em convidar a tristeza durante seus momentos de reflexão...
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