Procura-se Dona Cora, uma Doce Bandida!

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Carlos Parrini · Rio de Janeiro, RJ
5/4/2008 · 104 · 24
 

Amostra do texto

Procura-se Dona Cora, uma doce bandida


Uma lufada de vento quente engoliu meu ônibus, e em vez de São Gabriel, eu apareci em outro lugar. Eu estava de pé no meio de uma rua de paralelepípedos, o sol forte incidindo no rosto ressecando a pele. Meus olhos se fecharam por causa da luz, e por um instante tateei o ar às cegas, tentando me localizar.
- Aqui não é o sul - pensei, sentindo a boca secar. Passei a língua seca nos lábios, notei-os quebradiços, pedaços de peles grossas se soltando deles.
Protegendo os olhos com a mão, tomei coragem para abri-los outra vez. Olhei em volta. Num primeiro instante, apenas pontinhos luminosos a brincar no espaço. Depois, casinhas de alvenaria em fila, dos dois lados da rua, todas cercadas por muros baixos, a maioria dos muros descascados, os tijolos aparecendo, um portãozinho pequeno de ferro dando entrada à pequena propriedade, alguns poucos carros sujos de terra estacionados no meio fio.
A incidência da luz do sol do meio dia fazia as sombras projetarem-se diretamente abaixo dos objetos. Até os postes elétricos não produziam sombras. Toda a rua era iluminada pelo sol, e brilhava.
Estou no Nordeste, pensei. No Maranhão, acho que em Balsas. E se eu estava de pé na rua logo ao meio dia, com certeza este era um sábado ou domingo.
Até a brisa aqui sofria com o clima. Era comum encontrá-la nas ruas, se abanando contra o próprio mormaço, a pobre coitada sendo aquecida pelo calor que emanava do chão, das pedras, das casas e dos carros. Tudo a aquecia, e só iríamos encontrá-la fresca de novo quando a mesma se escondia do sol abaixo duma tenda de bar ou lanchonete, refrescando aos clientes enquanto eles tomavam um gole de suco gelado ou chupavam um sorvete.
Mas, sem tendas, na rua ela era quente, quente demais. E foi assim que ela me soprou a nuca, seu bafo me instigando a seguir em frente pela rua. Ao mesmo tempo, reconheci aquela rua pacata e percebi que eu estava voltando pra casa, a pensão onde morei enquanto estive em Balsas, provavelmente atrás de um copo de água.
A pensão de Dona Flora ficava uma centena de metros adiante, sendo esta a única casa da rua que tinha uma extensão de fundo considerável e dois andares. As outras casas eram pequenas em profundidade, muitas delas até em largura, algumas geminadas. As cores variavam do vermelho desgastado de sol até o amarelo sujo de poeira. Nenhuma cor ou tinta resiste por muito tempo à ação do calor do nordeste.
Caminhei pela rua até chegar na pensão, onde entrei sem bater. Passei o pequeno portão de ferro, que rangia, caminhei os cinco passos que separavam este da porta da casa e entrei.
Ah, que alívio estar num lugar sem sol, para variar. Para celebrar, a brisa soprou-me a nuca uma última vez, dentro da casa, antes de eu fechar a porta, e ela estava gelada. Com um sorriso, ela se despediu.

Sobre a obra

Procura-se Dona Cora, uma doce bandida.
Mulher Sempre prestativa e muito atenciosa.
Estudiosa de solos, ajudava todos sem medida.
Mal sabíamos do que era capaz essa maldosa.

Por que fizestes isto comigo Cora querida?
Você que sempre fazia o bem e era amistosa.
Jamais te esquecerei em toda minha vida,
Pelo amor, conselhos e sua ajuda valiosa.


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informações

Autoria
Carlos Parrini
Ficha técnica
A Obra leva o leitor a uma viagem cheia de emoções e perigos mas, acima de tudo, provocam uma reflexão sobre o real significado de nossa existência. A vida o ensinou a árdua arte de viver e da resistência: a arte do sonho e da conquista, voltando ao Planeta Vida, após ter passado pelo Planeta Morte.
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Ailuj
 

Independente de estar ou nao,sempre faço um passeio pelas filas e voto nos que gosto
Abrindo seus votos
http://www.overmundo.com.br/banco/entre-presencas-e-ausencias

Ailuj · Niterói, RJ 3/4/2008 23:02
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Carlos Parrini
 

Grato pelo Apoio Júlia. Boa sorte em suas votações. Bjs.

Carlos Parrini · Rio de Janeiro, RJ 3/4/2008 23:59
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clara arruda
 

Adorei o texto,rico nos detalhes que até me pareceu ficção.Deixo meus votos e meu carinho

clara arruda · Rio de Janeiro, RJ 4/4/2008 12:27
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Carlos Parrini
 

Adorei seus comentários Júlia. Vc vai gostar desse tb, de uma olhadinha: http://www.overmundo.com.br/banco/a-ajuda-do-ceu-para-a-mamae-e-o-bebe

Isso tudo é baseado em minhas experiencias pessoais e que vc tb pode ver em meu site: www.voltaaoplanetavida.com.br

Um grande abraço.

Carlos Parrini · Rio de Janeiro, RJ 4/4/2008 13:37
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Elio Cândido de Oliveira
 

BELO TEXTO. VOTADO ..
http://www.overmundo.com.br/banco/matando-saudades
estou em votação
Visite-nos.

Elio Cândido de Oliveira · Ibiracatu, MG 4/4/2008 20:10
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Carlos Parrini
 

Obrigado candido, boa sorte.

Carlos Parrini · Rio de Janeiro, RJ 4/4/2008 21:15
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Falcão S.R
 

Belo trabalho meu amigo, parabéns! Abraço

Falcão S.R · Rio de Janeiro, RJ 5/4/2008 03:47
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Carlos Parrini
 

Grato Falcão. Abs.

Carlos Parrini · Rio de Janeiro, RJ 5/4/2008 09:35
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ayruman
 

"Lá longe, fora de mim, na mata verde e ouro, entre os galhos trêmulos, canta o desconhecido. Ele chama por mim"... (Otávio Paz)

Muito bom. E viva a Vida. E viva as pessoas que passam pela Vida procurando, procurando...

Estou no Link: http://www.overmundo.com.br/banco/linguagem-do-coracao-enfim-somos-todos-um

ayruman · Cuiabá, MT 5/4/2008 10:22
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Carlos Parrini
 

Valeu ayruman. Um grande abraço.

Carlos Parrini · Rio de Janeiro, RJ 5/4/2008 10:25
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Náthima Danel
 

... senti-me intrometida em seu sonho... Confesso que gostei; e depois?... Deixou-me curiosa...

Náthima Danel · Boa Vista, RR 5/4/2008 11:07
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Flávio Cardoso Reis
 

excelente! meus parabéns....abraços

Flávio Cardoso Reis · Luziânia, GO 5/4/2008 11:35
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Juliaura
 

Suei em bicas, mas refresquei ao saber que retornarás à vida.

Juliaura · Porto Alegre, RS 5/4/2008 12:03
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Civana
 

Que belo texto Carlos, rico em detalhes, prendendo a atenção até o fim, gostoso de ler. Parabéns poeta!

Bjos, e deixo meu voto com carinho. :)

Civana · Rio de Janeiro, RJ 5/4/2008 13:32
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Aepan
 

Valeu amigo, grande abraço e boa sorte... Você merece...
Airton Engster dos Santos
Estrela-RS

Aepan · Estrela, RS 5/4/2008 14:49
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Kasinsk
 

Não opino quando não gosto do texto, e se o faço aqui, é porq

Kasinsk · Embu, SP 5/4/2008 19:20
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Kasinsk
 

é porque seu texto é de uma riqueza de detalhes impressionante. Parabéns! Gostei muito mesmo!

Kasinsk · Embu, SP 5/4/2008 19:22
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Zingara RJ
 

passeando pela fila de votação, vim te visitar, adorei o texto, muito bom, parabéns...

beijos no coração...

Zingara RJ · Rio de Janeiro, RJ 6/4/2008 01:41
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Roberto Girard
 

Carlos,
Deliciosa leitura, texto rico em imagens e devaneios, destaco:

Mas, sem tendas, na rua ela era quente, quente demais. E foi assim que ela me soprou a nuca, seu bafo me instigando a seguir em frente pela rua. Ao mesmo tempo, reconheci aquela rua pacata e percebi que eu estava voltando pra casa, a pensão onde morei enquanto estive em Balsas, provavelmente atrás de um copo de água.
Votos com louvor.

Belíssimo!
Abs
Beto

Roberto Girard · Rio de Janeiro, RJ 6/4/2008 11:03
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Carlos Parrini
 

Grato Nathima. Só esclarecendo, isso td aconteceu comigo realmente, não foi um sonho, rs. Bjs.

Carlos Parrini · Rio de Janeiro, RJ 6/4/2008 11:20
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Marcus Prado
 

Deliciosas palavras . . . meus parabéns !

Marcus Prado · São José dos Campos, SP 9/4/2008 09:17
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carlos magno
 

Muito interessante este teu conto , amigo Parrini. Um texto muito bem elaborado. Meus sinceros aplausos e abraços.
Carlos Magno.

carlos magno · Rio de Janeiro, RJ 16/4/2008 19:38
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Cintia Thome
 

narrativa ímpar. Parabens. votado

Cintia Thome · São Paulo, SP 17/4/2008 18:43
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azuirfilho
 


Carlos Parrini · Rio de Janeiro (RJ) ·
Procura-se Dona Cora, uma Doce Bandida!

Com todo carinho e consideração ao Amigo Carlos Barrini, que foi da Escola Técnica Celso Sukow da Fonseca no Rio de Janeiro, sendo mais um destaque de Técnico de Qualidade, uma caracteristica do Pessoal da Telefonia de todo Brasil.
Parabéns pelo Belo Trabalho.
Um orgulho pra gente.

azuirfilho · Campinas, SP 2/2/2010 17:36
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