CAP IV
Tocava “Tema de Lara†naquela noite. Era um baile. Nunca o vira tão bravo! O moço apenas se encostara no ombro dela! Lá de onde ele estava, ele viu e veio. Houve em Lindaura um misto de medo e excitação. Brigariam por sua causa!
Briga, escândalo, copos quebrados, mesas derrubadas... Gente apartando, gente mandando bater. Gente tentando escapar, gente querendo entrar na briga. Não era para que temesse ser alvo duma disputa, mas o seu pudor a deixou mole como geléia, e branca como a lua! Tão diferente aquele tempo em que as mães estavam por ali, sempre vigilantes, e os pais, sempre carrancudos! Estivesse sozinha, entre amigas, seria, tinha certeza, mais audaz e mostraria a todos que era por ela que brigavam. Não ousou, no entanto. O mais que fez foi recuperar a cor e se ruborizar quando o olhar daquele moço, inocente?, nunca soube, caiu sobre ela, olhos negros, um jeito de olhar comprido como estiletes, como raios, não os do sol, mas aqueles misteriosos da lua. Ai! O rapaz tinha um olhar sombrio e mergulhador que remexeram em seu Ãntimo, desmoronando o muro onde abrigava sua valiosa virgindade! Nunca vira aqueles olhos, nunca vira aquele moço. E nunca o esquecera, dava-se conta agora! Era um poeta, contaram as amigas. “Gente doidaâ€, fora a qualificação que lhe deram. Nunca mais o viu. E nunca conheceu ao menos um verso dele!
Daquele baile, o que sua memória guardava mais nitidamente, não era a briga entre seu noivo e o moço desastrado, e sim aquele olhar atrevido de poeta romântico e a bebida sendo derramada no vestido de Isabel, sua colega de escola, ou, melhor dizendo, sua rival em tudo, rival mais perigosa do que Carminha.
Durante a briga, Isabel fora envolvida: cadeiras voavam, uma caiu sobre a mesa onde ela estava abraçada ao namorado, o moço mais lindo da escola, e garrafas se quebraram, derramando cerveja e espuma no vestido dela, que saiu pulando aos gritos, perdendo toda pose, ridÃcula e saltitante entre cacos de vidros. Escorregou, caindo plantada no chão molhado, soluçando, esquecida de imitar o comedimento e glamour de Elisabeth Taylor, a atriz predileta delas todas! A queda grotesca causara uma mórbida alegria em Maria Lindaura. Isabel era uma de suas melhores amigas, colega de escola, que, no entanto, provocava-lhe sempre inveja e ciúmes, por julgá-la mais bonita e desembaraçada. Naquela noite, por tudo, julgou-se superior a ela.
Tudo voltou à normalidade, até os batimentos de seu coração, afora a deliciosa ausência de Isabel, que se fora, com seu vestido estragado. Nunca, Maria Lindaura, sentiu-se tão deliciosamente má! Garçons limparam a bagunça e a orquestra atacou de rock, endoidando todo mundo. A rapaziada se contorceu, enlouquecida, pelo enorme salão, exibindo os músculos, dispostos ao confronto. Experiente em festas, a orquestra mudou o ritmo, contrabalançando a súbita euforia com “Perfume_de_Gardênia†que ela dançou nos amorosos e protetores braços de Joaquim. E apertou-se mais a ele, lânguida de amor, quando a lentidão sensual de “Jura-me†os fizeram dançar de rosto colado. Não, não era o vestido molhado de Isabel que sua memória guardava, e sim aquele beijo que Joaquim dera em sua nuca arrepiada; e sua respiração morna em seu ouvido a enlouquecera de gratidão por tê-la defendido nem sabia bem de quê! Jamais ele fora tão longe! Nunca ela permitira tanta intimidade! Se Joaquim declarasse: “Te quero!â€, ela responderia, na hora: “Sou tua! Toma-me! Agora!â€
... És meu ! Tomo-te ! agora ! meu poeta,
delicia ter vc, digo, ler vc.
E esse Joaquim é mineiro ? rs... ai ai ai, to perdida de paixao, rs
to Maria.
bjsssssssss;)
Maria Lindaura... como sabia que tinha uma em quase todas as mulheres??
Li tudo e gostei mesmo.
Volto pra votar.
Abraços
maravilha de texto.votado com gosto.
O NOVO POETA.(W.Marques). · Franca, SP 26/2/2009 18:23Beleza de recordacao! Cena tipica de bailes da nossa geracao! Otimo texto!
raphaelreys · Montes Claros, MG 27/2/2009 09:21
voltando...relendo (q delicia) , votando e... valsando de fecidade.
bjsssssssssssss;)
O ser humano e suas nuances contraditórias. Há situações em que não sabemos se rimos se choramos ou as duas coisas. Se liberamos nossos sentimentos ruins ou se deixamos fluir nossos sentimentos de Amor... São os limites condicionados por nossos "egos"!
Saúde Paz. jbconrado.
Dá para viver a época - viajar no tempo - até ouvir o tema de Lara ...
Seu texto é leve, fácil de ler , gostoso ...
Parabéns !
Muito bom , votado.
Olá, tem algo meu em votação.
Se puder dê uma olhada.
http://www.overmundo.com.br/banco/damasiadas-coisas
Abraço
Com certeza adorei teu texto. Substancialmente humano... demasiadamente humano. Bom de ler... Parabéns e voto com prazer. amigão.
José Cycero · Aurora, CE 28/2/2009 10:22
Um bailão dos bons tempos, Onivaldo, onde o romantismo era o imperador.
Ivette G M
muitos personagens, um contexto.
como nos bailes que povoam nossa memória...
belo texto!
Maravilha em texto, muito bom! Com um atraso substancial estou aqui de retorno, muito te ler! Abcs
Berioliveira · Vitória da Conquista, BA 19/11/2010 00:22Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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