Não sei se sou poeta.
Apenas sei que de repente a minha têmpora arde
e, mesmo sem vontade, as mãos explodem
como trovões no infinito da memória,
buscando o trigo, a cevada que alimentam
a fome das palavras.
Ah, esta vontade de gritar a todas as terras,
a todos os povos, em todas as lÃnguas,
este meu canto brasileiro, nordestino,
nutrido de cactos e mandacarus.
Sou selvagem e rasgo meus pés nesta caatinga,
onde se misturam homem e boi no mesmo pasto.
Que eu seja o mais puro dejeto desta terra,
a semente que sacia a fome, a carne escassa.
Que eu seja a mochila sedenta de bagagem,
o jagunço na caatinga, o desespero!
Que eu seja o facão no cipoal,
conversa de chicotes e costados, suor, sangue!
Não sei se sou poeta.
Mas é desta pele rota como a palha do milhal,
deste sangue desgovernado herdado de meu pai,
destes braços, destes olhos,
destas mãos caladas, desta mixórdia,
que componho o meu canto.
Eu, somente eu, começo e acabo minha estirpe!
Que se danem os nomes, as famÃlias,
o passado, o presente e o futuro.
Que se danem! Serei total!
Avalanche de raÃzes e pedras,
eletricidade de ossos e idéias!
Sou o grito resvalado pela serra,
o eco obstinado.
Sou a mão armada sobre as ondas,
sem governos, sem nada!
Porque é pelo fio do meu cabelo que começo.
E só termino na unha encravada do meu dedo mÃnimo!
Muito bom. Li do inÃcio ao fim. Me me fez lembrar da poesia regional, do 'chão de pedra' de Zila Mamede, minha tia-avó. Gostei muito. Um abraço.
FILIPE MAMEDE · Natal, RN 4/6/2007 08:44
Oi, Ilha, há quanto tempo... Obrigado pelo comentário. Mas este poeminha é um tanto anarquista, você não acha?
Um abraço.
Muito forte, muito bonito.
As imagens e a mensagem que ficam são a cara do povo brasileiro.
Sem dúvid, você é um grande poeta.
beijos
Puxa, Saramar, obrigado. Receber elogio de quem escreve tão bem, como você, é máximo. Fico até bobo. Valeu.
Bjs
Eu que tenho me desencontrado de quase tudo, encontro na força poética das suas palavras uma fonte nova de água viva que me conta coisas, e me conta de um jeito, que eu preciso muito saber...
É sempre mais do que um prazer ler você. Menino, você é dos grandes!
Abraços.
Obrigado, Cida.
Fiquei emocionado com suas palavras. E feliz, por virem de uma poeta maior - você, sim, é uma grande poeta -, das melhores que há e em cujos caminhos me encontro sempre e me encanto e me renovo. Obrigado mesmo. Valeu.
Um abraço.
Ah, esta vontade de gritar a todas as terras,
a todos os povos, em todas as lÃnguas,
este meu canto brasileiro, nordestino,
nutrido de cactos e mandacarus.
Sou selvagem e rasgo meus pés nesta caatinga,
onde se misturam homem e boi no mesmo pasto.
Poema inesgotável de força, riqueza interior, pasma estou!
Este vou imprimir...
Um abraço.
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