"Sem eira, nem beira" era a qualificação que, na época do Império, era dada à s famÃlias que tinham menor poder aquisitivo. Todas as casas eram construidas com eiras. Duas eiras ou mais já gozavam de poder e eram mais ricas, uma eira menos ricas, e sem eira era pobre mesmo.
Quando Dona Anita resolveu batizar seu restaurante pelo nome
de "Sem eira, nem beira" quando chegou em Belo Horizonte por
volta de 1998, além da sua deliciosa comida mineira, também foi por chegar tão sem "grana" e sem glamour. Acostumada a servir seus clientes do interior como se fossem de casa, Belo Horizonte lhe parecia glamourosa demais.Aprendeu com sua velha mãe a fazer um feijão tropeiro supimpa, uma feijoada e um frango com quiabo tão apetitoso, que não deu outra. Logo, logo no bairro todo o "Sem Eira, Nem Beira" ficou famoso. Amava todos os clientes, mas tinha um carinho especial pelos clientes pós almoço. Eram doze ao todo. Marcio chegou com panca de manda-chuva, querendo dar 1 real numa "quentinha" para dividir com sua dona que estava grávida.. Era um moço bonito e forte, mas maltratado pela vida. Geraldo, ex jardineiro, trabalhador, limpava os carros da rua, trazia seu filho, já viciado aos 14 anos. Já o Maneco, coitado! Tinha vergonha até de pedir o almoço. Com ele vieram mais cinco colegas ( dizem que furtavam tudo que viam pela frente). Rosália chegava com seu irmão menor, passava até fome. Sua mãe era catadora de papel e não deixava nada nas latas.Essa turma era fiel. Colocavam as vazilhas na entrada do restaurante e voltavam mais tarde para pegá-las. Nos bastidores Dona Anita e seus funcionários faziam daquele momento uma oração. E com muito amor entregavam o almoço com tudo que eles tinham de direito. Direito sim! Ela sempre dizia: Se é pra doar, vamos doar direito! Aquelas horas eram as melhores do seu dia. Em troca, seu restaurante era vijiado dia e noite, nunca apareceu um ladrão, e segundo um casal que trabalhava na portaria do estacionamento ao lado, essa turma era que nem cão de guarda.
Passaram-se os anos, Dona Anita mudou de bairro e vendeu o "Sem Eira". Um certo dia, ao passar por aquele bairro, ouviu vozes gritando: D. Anita, tudo jóia? Beleza? Era uma parte daquela turma. Seus olhos brilhavam, resplandeciam de alegria.Sentiu que não foi em vão aquela convivência. Deixou saudades.Levou saudades... Fico aqui pensando com meus botões: Feliz daquele que tem a chance de doar.
Linda demais a história dessa mulher, cuja alma imita os anjos.
beijos
Obrigada pela visita e pelo comentário. Vários girassois pra enfeitar sua vida. Abraços.
anamineira · Alvinópolis, MG 25/8/2007 20:43
Ana, feliz aquele que difunde princÃpios de generosidade. o ato de servir por compaixão e boa vontade. Não simplesmente servir de amostra-gratuita como se a vida fosse uma droga e as relações fossem um vicio pra ser alimentado de obrigações.
Parabéns pelo belÃssimo texto, vizinha.
A propósito, agora sei o que significa o termo "sem eira e nem beira".
Felicidades, Ana.
Ana, ana, ana - nem li ainda, mas já agradeço, vou ler com calma e votar pelo fim para não sair logo da fila de votação, abraços, andre
Andre Pessego · São Paulo, SP 27/8/2007 16:14Andre, espero que goste do texto. Um abraço carinhoso.
anamineira · Alvinópolis, MG 28/8/2007 06:46
Oi, Ana,
gostei demais de teu texto de memórias e do belo tema da doação.
Em Olinda, PE, encontramaos várias casas com esses telhados que diziam justamente quem era mais que quem financeiramente.
Lindo, parabéns, MineirANA!
Abçs de Betha.
Anamineira, bom exemplo, bela história! Parabéns pra Dona Anita!
José Telmo · Belo Horizonte, MG 28/8/2007 18:33Betha, amo escrever esse tipo de texto e tenho um monte. Fico feliz em saber que voce gostou. Beijos carinhosos.
maribh · Alvinópolis, MG 28/8/2007 19:12José Telmo, esse restaurante da Dona Anita era bem no centro, na Rua EspÃrito Santo com Ãlvares Cabral, ela era inquilina do Sindicato dos Jornalistas. Um abração da vizinha (moro em BH também).
maribh · Alvinópolis, MG 28/8/2007 19:18Betha e José Telmo deu errado alguma coisa e o meu comentário foi no nome da minha neta. desculpe pela falha. Outro abraço
anamineira · Alvinópolis, MG 28/8/2007 19:32
Ana, dito e feito. Voltei, e hoje amanheci com emoção forte, lembranças ativas, saudades e o coração melhor. A alma aberta....
Me idenfiquei com D. Anita, com seus dose... antes tinha dito para
a Nidia, não sei se voce viu a poesia dela Minha Maria, (acho) que no meu lugar se ensinava que
"Vida completa é a vida que falta algo"
Mas era pra ser somente algo, e não tudo. Ainda bem que essa sua capacidade botou ali, beleza, riqueza, e até graça, ficou gracioso em tudo..........
um abraço, andre.
Textos de memórias e lembranças m e encantam... Este ficou lindo... Abçs....
Nydia Bonetti · Piracaia, SP 29/8/2007 09:18
Ana, voltei pra votar e me deliciar com o "cardápio" (risos).
beijos
Seu texto deixou-me cheio de eiras e beiras
Trem bão sô!
deu uma fome... mas pode servir a segunda turma primeiro.
fico aqui só me deliciando com o cheirinho que sai das panelas.
O GENTE VOU CONTAR UMA "COISA", A DONA ANITA É A MINHA MÃE, A ANA MINEIRA, ELA QUE ERA A DONA DO RESTAURANTE!!!! HEHEHEHE TAMARA SUA FILHA!!!!!
anamineira · Alvinópolis, MG 12/9/2007 19:16
Ei Ana, tudo jóia!
Adorei o texto.
Ficou nota 10.
Fazer o bem não tem preço.
Abração.
Juninho, obrigada pela visita.
Valeu e muito!
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