Só o olhar primeiro, um novo olhar, se permite maravilhar.

Adroaldo Bauer
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Adroaldo Bauer · Porto Alegre, RS
11/3/2007 · 88 · 9
 

A trama de Lewis Carrol cria universo ficcional caótico que vai sendo conhecido em altíssima velocidade narrativa. Nada real, coisa alguma de realidades. Não deixa o leitor estabelecer relações cognitivas e emocionais no encontro com o texto. O impensado é o desafio a vencer.
O País das Maravilhas desliga linguagem de contexto usual e convida ao estranhamento do mundo.
Obra de arte, não trata só do nonsense infantil, pois que carrega ordenação lógica singular.
Carroll finaliza revelando em que se assenta o seu país:
Ah, eu tive um sonho tão esquisito! – diz Alice.
O autor faz das aventuras encontros fenomenológicos. Cada episódio guarda níveis de apreensão diversos. A narrativa convoca a capacidade de reordenar as significações. Os encontros de Alice conduzem a pensar a própria linguagem de modo que se torne linguagem primeira redefinindo os próprios limites do mundo.
Infância, jogo e linguagem são os marcos essenciais do mundo poético de Carroll.
Nenhum suficiente em si para que se compreenda o mundo.
Alice não é puro jogo com os significantes.
No quinto capítulo, Conselhos de uma Lagarta, filosofia profunda aparece como ingênuo diálogo infantil.
“Quem é você?â€.
Está posta a própria existência em questão.
Tantas transformações sofridas e encontros no mínimo inusitados na toca do coelho, longe da família, da escola, das atividades e círculos sociais próximos, a resposta poderá ser errada, porque requer de Alice retomar a própria essência. Tarefa colossal ante as circunstâncias do País das Maravilhas.
O desassossego se instala; Carrol questiona a existência antes da autodefinição.
Dúvida antes do Verbo
A lagarta será borboleta. Espelho da metamorfose.
Escapa a Alice a razão de não poder identificar-se.
- Bom, quem sabe a sua maneira de sentir talvez seja diferente... ensaia Alice ainda na tentativa de explicar-se.
- Você! - exclamou desdenhosamente a Lagarta. – E quem é você?
- Acho que a senhora deveria me dizer primeiro quem é.
- Por quê?
A nova pergunta desconcerta, confronta sem desvelar-se.
Carrol desarticula o mundo instituído. Retoma respostas socialmente aceitas, esvaziadas de significação e lhes dá outro lugar. Só o olhar primeiro, um novo olhar, se permite maravilhar.

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Autoria
Adroaldo Bauer
Ficha técnica
Uma análise sobre a criação de Lewis Carol, Alice no país das maravilhas, apoiada em estudo de Milena Shimizu.
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Adroaldo Bauer
 

Assim ó: O estudo citado é A desconstrução de ilusões, de Milena Shimizu.

Adroaldo Bauer · Porto Alegre, RS 8/3/2007 11:12
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Ali Assumpção
 

adorei! adoro Alice!

# uma dica: esse texto ficaria melhor na categoria 'textos não-ficção' (mais adeqado a textos documentais, dissertativos, analíticos, críticas, ensaios etc), penso que 'textos literatura' seja para casos de produção literária (ficcional) própria.

um abraço, e obrigada por essa produção tão bacana, discutir Alice é sempre ótimo!

Ali Assumpção · Blumenau, SC 8/3/2007 12:01
2 pessoas acharam útil · sua opinião: subir
Adroaldo Bauer
 

Adorei sua sugestão. Vou segui-la.
Agradecido.

Também adoro Alice
Como adorei Doralice
Adorar Ali que adorou Alice
É só questão
De assunção.

Adroaldo Bauer · Porto Alegre, RS 8/3/2007 12:12
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apple
 

Tb adoro a história "Alice no país das maravilhas". Só que sempre pensava na evolução das espécies, na "Teoria da rainha vermelha", ...

A rainha disse:
-Vc tem que continuar correndo para permanecer no mesmo lugar. (Para Alice não ser capturada.)

Daí, veio a teoria que fala da relação dos hospedeiros com os seus parasitas. Os parasitas têm ciclo de vida mais curto, sofrendo mais mutações. Os hospedeiros têm que contrabalancear a pressão parasitária com a reprodução sexuada...

apple · Juiz de Fora, MG 11/3/2007 00:49
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apple
 

Para não ficar muito no ar, aí segue uma explicação sucinta sobre a Teoria da rainha vermelha.

apple · Juiz de Fora, MG 11/3/2007 00:51
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Juliaura
 

Queridíssima novamigaovermundista (Ou seria overmundana?)
O que referistes é bem muita verdade, mas se aplica ao outro trabalho do Carol: Alice no país dos espelhos.
Pelo prisma (veja como calha?) da Milena Shizumi no estudo do da Alice no país das maravilhas, do que se trata é também do mundo, mesmo mundo, velho mundo, mas da percepção dele desde um ponto de vista, sempre único se for o primeiro e se permitir maravilhar.
A posição indagativa.
O Fonseca, do estudo que indicastes, tratará do aspecto das disputas entre iguais em condições desiguais... ainda não terminei de ler mas, pelo indicativo inicial, já parece isto:
"O mundo em que esse modelo está inserido ficou conhecido como o mundo da Rainha Vermelha, nome dado pelo paleontólogo norte-americano Leigh Van Valen, da Universidade de Chicago, em referência a uma passagem da fábula Alice no país dos espelhos, do inglês Lewis Carroll (1832-1898). Nessa passagem, Alice foge do exército (de cartas de baralho) da Rainha Vermelha, mas não consegue se distanciar de seus perseguidores. Nesse momento, é advertida pela Rainha Vermelha: “Aqui, veja, você precisa correr o máximo possível, para se manter no mesmo lugar.†Alice só seria pega se parasse de correr."
Bem, voltaremos ao tema em breve~... ou não.

Juliaura · Porto Alegre, RS 11/3/2007 09:52
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Saramar
 

Obrigada.
Este texto me incitou a nova leitura do clássico.
Gosto especialmente de Alice no País dos Espelhos, mas vou reler as maravilhas de Alice.

beijo

Saramar · Goiânia, GO 15/4/2007 21:59
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Amanda Maia
 

Adorei o texto, simples, direto e profundo. Assim como Saramar, lerei novamente, as duas Alices. E me perguntarei muitas vezes quem sou eu.

Amanda Maia · Salvador, BA 16/4/2007 12:41
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Bruno Resende Ramos
 

O Adroaldo é um exper em literatura como pudemos notar. Primeiro por escolher um dos maiores clássicos da literatura infantil e dele discorrer com extrema fluência e plausibilidade.
"Alice no país das maravilhas" é, como ele mesmo cita, uma viagens às diversas áreas do conhecimento e, por isso, interdisciplinar. Nas veredas da filososfia, da psicanálise, da psicologia ( estudo do comportamento), da linguística e de muitas outras ciências, alimenta o imaginário infantil, porém nesse microcosmo satiriza as convenções, as arbitrariedades que compõe o universos logístico humano.
Para mim, receber a visita do Adroaldo em minhas páginas é, sobretudo, um grande orgulho, pois estamos diante de um literato, um exímio observador e um leitor pertinaz.

Grato pela sugestão da leitura.

Abraços

Bruno Resende Ramos

Bruno Resende Ramos · Viçosa, MG 11/1/2010 18:18
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