Era o ar que eu sentia quando enchia os meus pulmões, era o gosto que eu sentia quando bebia café, leite, água. Era meu sono, meu sonho, o pé descalço no chão. O roxo das minhas unhas no frio, o vermelho da pele quando se queimava no sol. Tudo isso era… Tudo isso era.
Simplesmente, humildemente, quase miserável. Surrupiava da minha mente sensações, a cada minuto roubava da minha cabeça uma memória – uma história, um conto, as minhas linhas. Tomava conta de meus gestos, tomando assim também o controle sobre mim. Era isso que era, tudo isso, tão sutilmente que nem poderia notar se não fosse assim tão apegada a tudo que poderia sentir. E se eu sentisse, eu via – eu o via com meus próprios olhos quando se fechavam. Levando embora qualquer coisa que me preenchia. Deixando apenas minhas mãos, minha casca. Meus órgãos fracos, meu tronco sem resistência, minhas pernas moles. E se levava embora, era porque me deixava sozinha, e então vinha minha tristeza… Por que vais?
Mesmo que se tudo de mim tomasse, não precisava ir-se. Eu vivo vazia, não vivo sozinha. Se tivesse apoio, teria meu vÃcio, teria minha vida. Meia vida – semi-vida, teria existência mesmo que dependente, mas quis me levar inteira, pra longe daquilo que realmente me mantinha. Precariamente me mantinha, mesmo enquanto estava fisicamente viva. Assassino. Indo assim me meio matava. Não podia te fazer pagar pelo crime. Sugavas minha mente e saia impune. Por isso tornei-me metade. Metade viva, metade morta.
Sendo assim metade cadáver, essa parte com todos os seus vermes adoeceram a parte viva. Consumindo minha carne, meus ossos, meus órgãos. Motivo pelo qual tudo era… tudo era… Tudo era aquilo que de mim roubaste, pois hoje já não é mais. Não faz mais parte de mim, é tudo teu, não meu. Nem o que era para estar ainda em meu poder, não está mais. Apodreceu-se, perdeu-se, no caminho no qual eu me arrastava até você.
[Larissa C. S]
Escrito por Larissa C.S. 17 Anos -> @PrisaoAgua_blog
Uau! Intimista, e, sobretudo, surrealista, ao estilo Almodóvar e Bunuel. Não parece um escrita adolescente, mas madura e com competência.
Beijos!
Muita sensibilidade, muita verdade em suas palavras...
Muito forte esse texto pra alguém da sua idade, sinal de vivência profunda e esperta...
Gente que não veio aqui pra brincar !
Continua nesse teu desespero bacana, botando tuas idéias pra fora, a idéia é essa, mesmo !
A gente tá aqui pra te aplaudir nesse vôo de deusa !
Um beijo !
Criança jeans, crianças de nossas vidas futuras...
Siga sua trajetória, cumpra sua missão e eu, simplesmente eu, torço para que não sofras com as insensibilidades, desamor, crueldade e desamor dessa pobre Humanidade...
Parabéns!
O que posso dizer? O fato é que ainda é cedo para elogiios... não que o texto em si não os mereça. Há a tentiva de iludir o leitor, "camulflar" a mensagem real, até quase o fim do texto. Mas, no fundo,´está mais próximo da Poesia do que da Prosa, do conto, mesmo sombrio, reticente. A jovem não precisa esconder-se... nem se faz necessário intermediários. Apareça, querida... o sol nasce para todos!
"NATO" AZEVEDO · Ananindeua, PA 9/7/2011 18:08
>>> "A arte do guerreiro consiste em equilibrar o terror de ser um homem, com a maravilha de ser um homem".(Juan Mathus)
Saúde e Paz!!!
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