Cai a noite. Na metrópole nada se pode enxergar além do que está muito próximo. Eu, ali, caÃda no canto sinto-me dona de tudo aquilo estranhamente sombrio, mas poderoso.
De repente ouço passos apressados vindo em minha direção. De súbito levanto-me na esperança de poder fugir. Mas, mãos seguram meu ombro. Um homem velho, franzino e com os olhos cheios de lágrimas, me abre um sorriso e me diz doce, porém aflitivamente:
- Até que enfim lhe encontrei! Voltei apenas para me despedir. Não quero mais ter de ver suas marcas em mim. É primavera agora. Devo renascer. Todos os meus sentimos por você se foram, assim como as folhas secas. Tomarei um novo rumo. Acabou! Vou partir agora. Guarde bem a imagem que verá. Ela é o marco de uma nova fase. Em majestosa borboleta a lagarta se transformará. Morra! Faça como eu... Morra! E renasça sem nenhuma lembrança de nós para todo o sempre... Adeus!
Sem entender o que de fato houve diante de meus olhos, aperto suas mãos e lhe beijo ternamente a face. Com um olhar de eterno perdão lhe falo também sorridente:
- Vá em paz. Renasça! Recupere-se de todo o mal que lhe causei. Vá...
Eu sabia que não era a pessoa de quem ele queria se distanciar. Afinal, nunca o tinha visto em toda minha existência. Mas, eu era a única pessoa, naquele momento, que poderia lhe ter dado a sua tão sonhada carta de alforria.
O melhor não é ser a pessoa certa. Mas conseguir dizer as palavras certas.
Hoje, passados já muitos anos, ainda me lembro muito bem daqueles olhos. Acho que nunca os esquecerei. Eu não ajudei somente aquele velho. Ajudei-me também, pois pude ver que dentro de mim, embora toda a tristeza, posso, sem nada premeditar, fazer alguém feliz.
A metrópole ainda continua muito vazia e sombria a noite. Se quiser me ver não olhe mais para os cantos escuros. Eu não estarei mais lá. Agora eu me encontro sempre sob a luz da lua na esperança de ajudar um outro alguém.
É bonito. Gostei :)
Daniel Duende · BrasÃlia, DF 4/9/2006 12:30é lindo mesmo, é delicado. mas se a metropole for BH, devia ser provincia não acha?
Marcela Fells · Belo Horizonte, MG 4/9/2006 18:22Na verdade não é BH. Nem sei se essa metrópole existe!
Fernanda Nogueira · Belo Horizonte, MG 4/9/2006 21:10
Não. Não é BH. È BH sim.
É mundo todo,porque o mundo todo é assim/Como mundo nenhum. OVER/ particular/Cidadona/.
Ãntimo."infinitamente pessoal"
É um local pseudo-fÃsico.
Um cantinha da mente de cada um, talvez!
Sim... eu entendo...
A gente não escreve sobre o mundo lá fora. A gente escreve sobre o reflexo dele na lagoa ora calma, ora revolta, do "aqui dentro"... :)
abraços do verde, que mora numa BrasÃlia Imaginária logo à beira da BrasÃlia...
"- Até que enfim lhe encontrei! Voltei apenas para me despedir. Não quero mais ter de ver suas marcas em mim. É primavera agora..."
Olá Fernanda...
...preciso clamar minha estima
por tais belos versos!...
Adorei este fragmento...
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