Foi um sonho. Alguém passou e foi-se. Eu fiquei no vácuo de um perfume que há muito não sentia. Embriaguei-me: meus cabelos, minha roupa, meu corpo. Minha alma sentiu-se inebriada. Não era nada disso. Não era paixão nem amor como podem pensar. Eram apenas lembranças.
Virou o corpo num volteio romanesco. Vi um rosto iluminado pelo sol a pino. A penumbra era só do espÃrito, que por trás, dedo em riste, descreve-me insonoro os perigos já vencidos, os prazeres já consumidos. Sobre a testa os cabelos longos, representando sem maquiagem os confins dos ancestrais perdidos no tempo imensurável da terra, desde quando foi pisado o cascalho que cobre o planeta; um risco de sombra fustigou a testa reta, sem modificar o perfil superior e sensual de muitas vidas acumuladas.
Em pé, o tempo sugando-me para muito além deste momento, vi-me nas cabanas, nos platôs, no gelo... Corria veloz, sem preocupação... do lado os animais, as pradarias, os campos... atrás a cortina verde de imensas árvores seculares, como os robles... aos meus pés jazia a grama seqüenciada de flores, as mais belas, as vermelhas, as amarelas, as azuis... um impacto e o tempo some.
Primeiro deparam-me uns lábios brilhantes, quase da cor do bronze, úmidos como as pedras da beira do mar. Os rictos finÃssimos mostram-se imperturbáveis, seguros e transbordantes de seiva do corpo gentÃlico que faz estremecer. Os olhos irrequietos não me fitam, porque não me enxergam. Não que sejam cegos, sem luz, o que têm muito.
Descubro-me invisÃvel. Uma presença impávida, sem cor, sem som. Passam, como se passassem por dentro de mim. Não sinto o impacto, não sinto o frêmito. Sinto só a presença e o sentimento de conhecer o que acontece.
O átimo do tempo, porque é isso mesmo: é átimo. É breve. Seguem-se seqüências incontáveis de lembranças e de vidas. É como se sentasse na pedra da montanha e esperasse o sol se por, ou se resguardasse em casa e, pela janela, esperasse a aurora boreal.
Então, o inesperado acontece. Ao brilho do olhar, ao estrépito do corpo ereto e elástico, alguns movimentos são desfeitos. O corpo se destorce, o tecido amaciado das vestes balança, uma ponta vai, outra vem. De surpresa, se vira para mim. Como se me conhecesse e fosse cumprimentar-me.
Face-a-face surpreendo-me. A beleza de sempre, deixa o lugar sem cor, sem som, sem sabor. Anda para mim... como se fosse abraçar-me ... Pelo menos penso assim... Passa por, por dentro de mim... Sou só uma sombra milenar.
Gostei do estilo, mas eu fiquei meio confusa, talvez eu esteja meio cansada, vou ler novamente quando for para a votação...
Você tem umas construções muito bonitas, formaram-se imagens e sensações na minha cabeça enquanto lia, e eu gosto dos textos que me causam isso...
Ana, gostei de seu comentário. V. foi a primeira a comentar o texto, olhando como leitor. Reli e senti que em algumas passagem existem vácuos, em especial nas mudanças de ambientes em que os personagens são inseridos nas cenas e descritas suas ações. Vou ajustar.
ignis liberati · Porto Velho, RO 1/9/2006 22:16
Gostei muito... é realmente tocante e evocativo. Parabéns!
abraços do verde.
Que legal, Daniel Duende. A sua opinião é um estÃmulo.
ignis liberati · Porto Velho, RO 5/9/2006 23:23
Sinceramente, senti medo! Mas foi um medo gostoso! Ou melhor, medo não: apreensão! (Isso!)
Esse texto me veio como "tirar leite de pedra"! Conseguiu transformar algo trivial em relevante!
Parabéns!
Continue com o bom -- e belo -- trabalho, Ignis! :)
Abraços do verde.
Vindo de Belo Horizonte, HanaBr, e de v., com esse olhar de baixo para cima, me dar arrepios de satisfação o seu elegio.
ignis liberati · Porto Velho, RO 8/9/2006 00:52Não acredito nas coicidências. Prefiro pensar em ondas poéticas que giram o mundo ao mesmo tempo. Hoje nasceu um poema sobre esse mesmo sentir...Sobre a embriagues que outra pessoa pode nos traz. Se puder, acesse meu blogger Um caso Poético para ler o poema Insanidade. Gostei muito mesmo do seu texto. É lindo...
WalquÃria Raizer · Rio de Janeiro, RJ 9/10/2006 14:07O seu elogio é poético e apoixonante, WalquÃria. Irei acessar o seu blogger, agora mesmo.
ignis liberati · Porto Velho, RO 24/10/2006 01:40Caro Daniel, me alegro com a sua manifestação. Fico muito grato.
ignis liberati · Porto Velho, RO 24/10/2006 01:46O seu elogio é poético e apoixonante, WalquÃria. Irei acessar o seu blogger, agora mesmo.
ignis liberati · Porto Velho, RO 24/10/2006 02:07Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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