Eu tinha raquitismo quando era pequeno. Fui abandonado ao nascer e não tinha grandes chances de sobreviver. Perambulava pelas ruas. As pessoas pareciam monstros enormes que passavam como se não me vissem, mas tinham o cuidado de não pisar em mim. Às vezes, alguém mais condoÃdo, deixava um prato de comida, bolachas, até leite, pra que quando eu acordasse, pudesse encontrar. Quando fazia frio, alguém parava para deixar uma coberta. Mas a maioria nem notava, seguiam seu caminho. Esse pedaço da cidade de São Paulo, onde cresci, chamam de “crackolânciaâ€. Um dia, consegui andar até o Bom Retiro. Atravessei, não sei como, várias ruas e não fui atropelado. Adormeci na calçada de um prédio em frente ao parque da Luz. De repente, senti uma mão me segurando. Tentei me soltar, gritei. Mas a mão forte me carregou. Tremia de medo. A mulher que me agarrou, segurava-me firme, e fui perdendo as forças, e parei de reagir. Pensei que ia morrer. A mulher entrou no prédio. Deu-me de comer e beber, e agasalhou-me. Quando estava aquecido, adormeci. Sonhei que era feliz, pela primeira vez na vida. Quando acordei, a primeira reação foi fugir, mas percebi que estava num lugar confortável e aconchegante. Uma cachorra me olhava curiosa. Achei que ia ser devorado. A mulher apareceu e era carinhosa comigo. Desde esse dia, nunca mais voltei para as ruas. Ela cuidou de mim, fiquei forte, cresci muito e me tornei o belo gato que sou hoje. Devo minha vida a ela.
duas histórias reais, com finais opostos. Feliz e infelizmente.
Guto ,
que texto mais doce.
É verdade, quem vive de crack não tem vez,
e que gato de sorte!
bjssss
História verÃdica! Infelizmente a outra - a dos meninos que vejo todos os dias como zumbis pelas ruas, também. Essa terá um final infeliz.
Beijos.
Triste realidade. Quantos desses meninos não desejariam estar no lugar do gato...
abs
muito prazeroso a história, o fim dela e grandioso a comparação que você fez. Muito obrigada pela visita só assim pude te conhecer e ao seu trabalho tão belo.
Ecila Yleus · Recife, PE 4/10/2008 04:13Qrdo GUTO,vc bem sabe que recai sobre quem escreve mta responsabilidade
JACINTA MORAIS · Cascavel, PR 4/10/2008 20:17continuando...e vc o faz de forma única,com um poder ilimitado,que prende e encanta seus bilhões de leitores,que ávidos devoram com fúria o mel e o fel da realidade!amei suas doces palavras,esse vinho ao qual vc se refere pode ser um"PORTO"? MEN ARE BORN TO MAKE WINE,AND WINES
JACINTA MORAIS · Cascavel, PR 4/10/2008 20:35AND WINES ARE BORN TO MAKE MEN (desculpa Guto,é q fiquei realmente embriagada com seu conto)bom final de semana,bjs e tim tim ao seu talento!
JACINTA MORAIS · Cascavel, PR 4/10/2008 20:41
Belo texto. Como gosto muito de gatos, fiquei muito feliz com o que aconteceu a ele. E é triste a realidade dos meninos da crackolandia.
Sucesso.
Voltarei para votar.
Que interessante, Guto, sua narrativa...duas histórias paralelas...ao menos uma teve final feliz...Apesar de todo o caos das grande s cidades,ainda há generosidade....,quase em extinção,mas há...
Que com uma gentileza daqui e outra dali, possamos reverter ainda a situação dos meninos da crackolândia...quqe são frutos da nossa própria omissão e cegueira(conveniente) diante da realidade cruel .
Parabéns, pela narrativa envolvente,querido!
Um beijinho azul_em néon
Blue
Sensibilidade à toda prova, nos mostrando esse universo estranho e mórbido da droga, que tanto insistimos em tapar com uma hipotética peneira, por demais "aberta"
Brincando, quase, nos disse uma grande verdade ! Um abraço !
Muito bacana cara, a comparação que você fez no decorrer do texto
Um abraço forte!
Adorei o texto! Palavras certas e uma visão frágil do felino perdido na metrópole. Muitos garotos não tem a mesma sorte de serem resgatados por uma mão caridosa...
Paulo Esdras · Brumado, BA 7/10/2008 09:21
Muito bom esse texto
Uma visao pra quem não conhece esse mundo cruel que ceifa tantas vidas que nao tem a sorte de achar uma mulher carinhosa como relata seu texto
Publicado
MagnÃfico. Texto vivo que mostra as contradições e os enÃgmas da Vida.
Um grande abraço. jbconrado
Bem feita e bonita história sobre fato triste imposto às sociedades do planeta pela lógica de lucrar com a força de trabalho e a desgraça alheias.
Um estado assim, que não cuida dos seus, que se cuide, gritaria espavorida Maria Antonieta comendo brioches na fila da guilhotina.
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