When I'm at the pearly gates
This'll be on my videotape
My videotape
-Esta talvez não seja a melhor forma de despedida, eu sei! Mas, a verdade é que eu não tive coragem de te procurar depois de tudo que passamos juntos. Não é engraçado? As pessoas com as quais temos uma longa história deveriam ser as mais próximas. E são! Mas, ao mesmo tempo, à s vezes, são as que temos maior dificuldade de falar certas coisas. Eu não quero que você pense que isto que eu fiz tem a ver diretamente com você. Na verdade eu sempre acreditei que, depois que nós vamos embora, as pessoas deveriam ficar somente com as melhores lembranças. Isto é um pouco o que eu tento fazer aqui. Gostaria que você ficasse com tudo o que houve de bom de mim! Em mim! Gostaria que você soubesse que sempre que eu me lembrava de você, era o sorriso aberto e franco que havia ficado guardado na minha memória. Era a pele suada sobre a minha pele suada nos momentos de intimidade. Era a maneira como você acordava pela manhã, com o nariz por trás de minha orelha. Era seu cheiro, tão marcante e ao mesmo tempo suave. Vê? No meu vÃdeo de lembranças há tantas imagens suas... Eu fui feito tanto por você... Eu... Desculpe pelas lágrimas... mas não pense que são de dor ou de arrependimento... são apenas lágrimas... não dê tanta atenção à elas. Elas estão aqui porque, de alguma maneira, meu corpo ainda reage... porque as memórias são tão fortes e prazerosas... ou talvez não... talvez você deva dar atenção à s lagrimas... mas não como a maioria reagiria à elas. Eu sei que você não seria tão óbvio. Eu sei que você sabe que as lágrimas nem sempre são memória ruim. Elas são apenas testemunha de que, tudo o que eu falo, não é apenas um discurso vazio... pode até ser confuso e desfocado, mas tem a ver com a gente... e isso é o que importa. Este vÃdeo não é um tratado para a humanidade. Este vÃdeo é como uma carta, pessoal e Ãntima. É uma conversa entre nós, como tantas que tivemos. Eu sei que, por exemplo, neste momento você deve estar sentado na poltrona vermelha que nós tanto rÃamos e gostávamos. Que as luzes não devem estar todas acesas. Que você deve estar sentado com os cotovelos apoiados próximo aos joelhos. Que antes de pressionar o play você hesitou umas duas ou três vezes. Que talvez tenham passado semanas, talvez meses desde que você recebeu o envelope. Eu sei... ninguém disse que as coisas seriam fáceis. Mas, tudo isso não importa mais. A vida segue. A sua vida. As pessoas continuarão a acordar pela manhã. As pessoas continuarão a se esbarrar umas nas outras. As pessoas continuarão a olhar para trás para pedir desculpas e encontrarão os olhos verdes, que elas continuarão jurando serem os mais verdes do mundo. As pessoas continuarão. O mundo continuará. Você continua. As imagens continuam. Mesmo eu, continuo a existir. Eu só habito um outro lugar nesta linha contÃnua de tempo. Eu sou, agora, um passado mais-que-perfeito... como gostávamos de dizer.
- Quando recebi o envelope, eu hesitei. Pensei em colocá-lo em uma gaveta e fazer com que fosse mais uma daquelas coisas que eu gosto tanto de adiar... mas, não é uma ironia? Se eu tivesse feito isso, você estaria completamente certo sobre tudo. Mas não... desta vez não! Desta vez eu "nos" surpreendi. Quando eu recebi o envelope, após uma pequena hesitação, eu corri para a sala... o sofá vermelho... a hesitação para apertar o play... os cotovelos... em tudo isso você estava certo... mas, talvez por não ter esperado o tanto que você imaginou, eu não estava preparado para ouvir e ver tudo isso! Eu sei que a vida continua... eu nunca fui um bobo que imaginava estar completamente unido à uma única pessoa. Mas, as imagens que você me trouxe assim, tão de repente, ainda eram tão fortes. Ainda eram tão dolorosas... Como é possÃvel? Tudo o que eu mais gostava em nós, neste momento, era tudo o que mais me machucava! Mesmo o perfume que eu usei durante anos, parecia agredir a minha pele. O mundo me repelia. Ou será que era eu que repelia o mundo? Será que era eu que estava me recusando a conjugar o verbo? Ou será que o verbo não se encaixava em nós? Eu sei, eu sei... tudo ainda é tão recente. Eu sei que não há outra solução a não ser esperar... as feridas se curam, as lágrimas secam... tudo vira apenas mais um capÃtulo de livro. Um conto. Um fragmento. Um clip de uma música triste e melancólica, como aquelas que gostávamos de ouvir. Um piano como base e a voz do Thom Yorke falando de céu, inferno e de dias perfeitos passados juntos.
No matter what happens now
I won't be afraid
Because I know today has been
The most perfect day i've ever seen
Max,
Vou começar pelo formato: ficou muito bom este contraponto de dois momentos, duas óticas sobre uma mesma situação!.
Lembrou-me de alguns contos do Caio Fernando Abreu.
A dor que está presente no texto, chega a congelar a espinha do leitor (pelo menos a minha sim) e, sempre acho que quando se começa um relacionamento afetivo, se tem muito cuidado, mas quando se termina, não há cuidado algum, sempre achei isto um tanto esquizóide da parte da grande maioria das pessoas.
Sobre a poltrona vermelha (Lembrei-me de Lynch)...
vai entender...
aperta o off
Parabéns ao texto
abraços
Obrigadãoo Cris!
Este texto é um pouco antigo... mas realmente, a dor era presente no momento da escrita!
Nem era a dor retratada no texto... mas uma dor que estava em mim e saiu de alguma maneira... alguns textos são assim, terapeuticos... esse foi!
Abraço... comentarista número 01!
Max, cartas de amor são sempre interessantes. As de separação mais ainda. E minha tese de que a escrita cura a cada vez se confirma. Lembrei de Perfect Day do Lou Reed
Just a perfect day
you made me forget myself
I thought I was someone else
someone good
Rsrs..cada leitor tem a associação quemerece.
Parabéns!
Por uma incrÃvel coincidência, Perfect Day também tem uma grande participação em minha história!!!
Max Reinert · Florianópolis, SC 15/9/2008 23:25
Max,
"tudo vira apenas mais um capÃtulo de livro. Um conto. Um fragmento" que nos ajudam a organizar a dor das nossas palavras internas. Concordo a CD.
Parabéns e votos.
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