O super nabo Na beira do rio de águas nada diáfanas Gumercindo gastava sua solitária existência dentro de um barraco podre e colorido. Naquele local as coisas não aconteciam, mas tragédias não são coisas e aquela tarde veio para confirmar os presságios. Tudo se passou sob um céu cian-vignetado cortado por vôos de gavião-peneira. A solidão de Gumercindo estava fadada a acabar naquele dia. Ele iria ficar em companhia dos trezentos e tantos corpos estirados no armazéem municipal. As hortas que beirava o canal fedorento, que todos pensavam ser um rio, devia ter sido os primeiros seres vivos a trocarem de condição. Suas folhas em questão de segundo foram se transformando em cinza. Não, não chegaram a queimar, simplesmente se transformaram. Esse fato seria o prenúncio de tudo que ocorreria se um nabo não saltasse de sua terrinha e ativasse um campo de força extenso e vital para todos nessa história. Assim toda a realidade se tranformou sob o efeito de um conto rápido e com pressa de acabar. /por damiao santana Recife. Outubro de 2006