567 da rua da vala

Rafael Vilarouca
A observação do novo pelas luzes do corredor malungo
1
Borba Neto · Crato, CE
7/6/2008 · 113 · 11
 

Portas e janelas se abrem para o novo a todo o tempo. As portas deixam passar um pouco da energia física, já as janelas deixam fluir por elas um pouco da energia subjetiva. Um olhar passando apressado pela rua ou um relance. Fragmentos recortados de uma dada e constatada realidade. Mas de repente você pára e começa a observar o que há dentro dela, observa atentamente querendo distinguir os objetos difusos por trás da janela. Surpreendo-me, é uma galeria de arte.

Chego ao primeiro degrau. Arrisco subir até a porta. Será que tem alguém? Ouço várias vozes. Vejo gente saindo a todo o momento e penso: - Que casa movimentada, pode ser que estejam dando uma festa. Mas eu não fui convidado, como posso entrar? Achei aquele clima muito agradável, boa música, muita gente e uma galeria de arte.

Entro. Uma exposição de um artista caririense chamado Maércio Lopes me encanta no primeiro momento. Todas as xilogravuras são muito detalhadas, sinto-me voltando a minha casa com meus pais, irmãos e toda a gente. Na exposição, um pouco de tudo, desde a mulher que vende bombons na esquina da minha rua, até o homem que trabalha no açougue e que faz questão de dizer. Vejo as mulheres conversando na calçada ou no terreiro do sítio da minha avó. Coisas de interiorano besta, desses que trazem um pouco de nostalgia em tudo.

Arrisco entrar mais um pouco. Uma sala decorada com motivos mexicanos me chama a atenção mais uma vez. Neste momento descubro que o lugar se chama Coletivo Malungo e que naquela sala funciona um curso de español. Que ótimo! Encontro alguém conhecido. Cumprimento o rapaz e saio na busca por desbravar aquele lugar tão interessante para mim. Na parede da sala, duas fotos de Frida Kahlo olham para mim. Acho-a linda! Assim como a sala. Para aquela festa, três mesas estão dispostas no lugar. Ali, não se encontram mais alunos e sim, pessoas que conversam animadas enquanto saboreiam panquecas com nomes de celebridades.

Achei maravilhoso encontrar aquele lugar. Descubro que Malungo quer dizer camaradas, amigos, companheiros... E vejo que aquele ambiente tem mais a me dizer do que eu supunha. A casa ainda estava na metade.

Na segunda sala da galeria, com xilogravuras do mesmo artista, vejo uma parede cheia de recortes de jornais, um matolão, uma arara cheia de roupas e um dos malungos. Ele começa a me falar sobre a proposta do espaço. Disse-me que o lugar foi criado para divulgar e amplificar a arte do Cariri, me fala de algumas ações que pretendem realizar e da consultoria para projetos e editais culturais, além das produtoras Jaraguá Filmes e ArtePlural. Fala-me que os outros Malungos chamam-se Hosana Quinderé, Meire Nunes, Eduardo Prado e ele, que me disse chamar-se Franklin Lacerda.

Na arara, algumas roupas. Tanto masculinas, quanto femininas, de uma grife chamada Duo. O Malungo se despede de mim e me fala que fique a vontade para percorrer todos os corredores, espaços e salas do lugar. Acho tentador o convite, afinal nunca mais tinha me sentido tão bem, em um espaço. Começo a apropriar-me do lugar. A cozinha me parece ainda mais exótica, a cortina feita de fitinhas do Padre Cícero, mostra-me que aquela casa é autenticamente caririense. Uma sensação de pertença percorre o meu corpo e decido-me de vez. Agora sou Malungo também.

Borba Neto

P.S: No princípio pensei que fosse assim que iria acontecer comigo. Mas este sentimento, Malungo, chegou um pouco mais rápido do que o narrado. Mas, nada impede que aconteça com você.

onde fica
O coletivo Malungo fica numa casinha estreita e charmosa, mesmo no miolo do Crato – Ce. No centro.
por que ir
Da porta pra fora, pode-se ver a rua da vala. Mas, da porta pra dentro pode-se observar o mundo.
quando ir
sempre aberta
quem vai
Gente, gente, gente...
quanto custa
Não custa nada
website
www.coletivomalungo.worpress.com
contato
coletivomalungo@hotmail.com

comentários feed

+ comentar
Coletivo Itinerante
 

Coletivo Itinerante · Crato, CE 4/6/2008 19:25
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Herminia Rachel Saraiva
 

Cariri surpreendente!
Amo!
Arrasou Borba!

Herminia Rachel Saraiva · Crato, CE 4/6/2008 20:35
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Moema Germano
 

o que dizer desse texto??!! déli, Borba, déli!!!
ai que saudade do meu Cariri...
dessa gente criativa que nasce por lá...
que movimenta a cidade com suas idéias surpreendentes...
viva o Coletivo Malungo!! viva!!
que dele brote muitos frutos!! doces e maduros!!

Moema Germano · Crato, CE 5/6/2008 08:43
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Helena Aragão
 

Adorei o jeito com que nos faz descobrir o lugar com você... É tão bom descobrir essas surpresas, não é?

Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 5/6/2008 14:12
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Borba Neto
 

Agradeço a todos pelos comentários carinhosos e pela alegria de compartilhar o Coletivo malungo com vocês. Espero que voltem para votar... Grandissíssimo beijo. Bom sentimento Malungo pra todos.

Borba Neto · Crato, CE 5/6/2008 19:17
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Candice Gonçalves
 

Ainda bem que alguém adentrou o coletivo com tanta poesia.
Beijos, Borba.
Adoro você fazendo arte!

Candice Gonçalves · Crato, CE 5/6/2008 19:47
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MarcilioMedeiros
 

Borba,
Conheço um pouco da riqueza cultural do cariri cearense, especialmente o Romance do Pavão Misterioso.
A existência desse espaço demonstra a preocupação de manter vivas a arte desse pedaço de Brasil.
Um abraço (de um neto de uma caririense da Paraíba)

MarcilioMedeiros · Aracaju, SE 6/6/2008 14:46
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Candice Gonçalves
 

Voltando pra votar!
Beijos e parabéns! Fico muito feliz com isso aqui!

Candice Gonçalves · Crato, CE 6/6/2008 19:47
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Moema Germano
 

votadíssimo!!!
beijos, beijos...

Moema Germano · Crato, CE 16/6/2008 10:41
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Aldy Carvalho
 

Faz tempo este seu postado mas eu o conheci agora, abrindo um pouco as janelas para melhor ir pispiando as coisas nossas. Gostei do escrito. Minha vó, autêntica caririense de Crato e diga-se os mais velhos parentes e aderentes, alguns ainda moradores na Ponta da Serra e no Arajara, Kaririense.
Vovó muito tempo morou sozinha entre idas e vindas ao Sertão de Pernambuco para visitar os netos. Desde o último janeiro habita outras plagas, pois em maio ia completar na materialidade 1000 alegres, agitados esbravejantes, inquietos aninhos.
Obrigado caro overmano pela oportunidade da leitura do texto e da informação de casa tão singular e salutar. Quando numa próxima viagem a Crato irei conhecê-la.

Abs

Aldy Carvalho · São Paulo, SP 24/8/2009 14:50
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Aldy Carvalho
 

Corrigindo:
...100 alegres...aninhos.

Aldy Carvalho · São Paulo, SP 24/8/2009 14:52
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