Copacabana não é para principiantes. Muito menos para saudosistas. E se há um lugar que resume bem as contradições, as maluquices e o charme do bairro mais famoso do Rio de Janeiro, arrisco dizer que é o Bip Bip. Trata-se de um resumo etÃlico e afetivo de um bairro caótico, mas em miniatura - um pé-sujo de 18 metros quadrados e 40 anos recém-completados.
A rigor, não havia necessidade de colocar o Bip Bip no Guia do Overmundo. Ele já entrou para o folclore turÃstico da cidade e hoje é citado em tudo quando é guia, em qualquer lÃngua. Para os gringos, é um programa curioso, provavelmente perto do hotel, em que se toma cerveja em pé e ouve-se música boa em meio a cariocas de plantão. É programa para gringo que quer sentir como vive o carioca da gema – afinal, pé-sujo é uma instituição importante da cidade que se espalha por todos os bairros.
Mas é claro que o Bip é muito mais que isso. É uma reunião de lendas urbanas e histórias incrÃveis. E o local onde todo músico de samba e choro, do mais sensacional ao iniciante, já tocou ou vai tocar, por puro prazer. É o destino certo de uma legião de cariocas apaixonados por música, seja samba, choro ou bossa nova. E pelo Alfredo, o proprietário de mau humor aparente e coração enorme. Então, no momento em que o bar completa 40 anos, e com o lançamento do livro, concluà que ele deveria ganhar um espaço neste guia, através de um relato sentimental. Afinal, não é exagero dizer que hoje o Alfredo é parte da minha famÃlia e o Bip, extensão da casa. Meus irmãos, músicos, são freqüentadores assÃduos. Os chás-de-fralda dos meus sobrinhos foram feitos lá. Minha mãe, que está longe de ser uma fã de pé-sujos, tem um carinho imenso pelo bar e sobretudo por Alfredo. Lembro de um ano em que minha resolução de ano novo foi voltar a freqüentar mais o Bip Bip. Parece papo de boêmio ou de desocupado. Mas a verdade é que o Bip faz bem para o espÃrito.
São muitas as histórias. Da inauguração em 13 de dezembro de 68, no fatÃdico dia do AI5 (só o Bip mesmo para alegrar um dia tão sombrio). Da combinação de Alfredo com o antigo proprietário, que vendeu o bar por N doses de whisky, consumidas ao longo dos anos. Do bloco de carnaval mais anárquico e bêbado da cidade e do Rancho Carnavalesco Flor do Sereno, nascido e criado naquele cubÃculo. Da ceia de Natal organizada anualmente para os moradores de rua da região. Do grupo de assÃduos que assume o bar quando a saúde do Alfredo prega umas peças. Do maluco de estimação, o querido e histérico João Pinel, a quem são dedicados o livro e a saudade de todos, desde sua morte, este ano.
PeraÃ, livro? Que livro? Para comemorar os 40 anos, um grupo de freqüentadores organizou uma coletânea. Já é a terceira obra em homenagem ao bar. Mas é possÃvel que seja a mais plural. Traz relatos de 104 apaixonados famosos – como Moacyr Luz, Nelson Sargento, Herminio Bello de Carvalho... - e anônimos ilustres. Pode parecer chato, intimista demais, mas acredite, vale a pena. Tem gente que já freqüentou muito e hoje anda por outras praias, tem gente que conheceu recentemente e viveu aquele amor à primeira vista, tem gente que teve sua vida transformada por conta do bar... Tem também charges lindas de grandes artistas e fotos que ilustram a saudável bagunça possÃvel em tão pouco espaço.
E o meu exemplar, para deleite dos olhos, tem uma dedicatória garranchada do Alfredo dizendo coisas lindas e fazendo um inacreditável pedido de desculpas por eventuais grosserias. Um gentleman. :)
Legal, não conheço o Bip. Estou há pouco tempo aqui no Rio, pouco é modo de dizer, estou desde de janeiro, morando. Vou passar lá, dia desses.
Beijo,
Sindia.
Excelente texto. Uma crônica carioca imperdÃvel.
Não conheço o bar, já ouvi falar, mas faltou oportunidade de ir até lá, com essa crônica me parece imperdoável.
Opa, que bom que o texto fez duas moradoras do Rio ficarem tentadas a conhecer o Bip! Já valeu a pena!
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 2/1/2009 12:10já passei em frente muitas vezes, mas nunca fui, é mole?
Guilherme Mattoso · Niterói, RJ 9/1/2009 08:48Não é mole não, Mattoso! Da próxima vez pare lá, acho que você vai gostar.
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 15/1/2009 16:17Sou mineiro, mas vou e logo conhecer este boteco. Adorei oi texto e parabenizo a autora. Até logo aà no Bip Bip.
Geraldo Braga · Pouso Alegre, MG 25/2/2011 15:47
A programação, atualmente (abril 2011), até onde sei:
Seg: Samba, homenagem a algum compositor centenário, que tem preferência no repertório.
Ter: Choro
Qua: Bossa Nova
Qui: Samba
Sex: ??
Sab: sem música
Dom: Samba
Que ótimo ter essa atualização, Leo! Obrigada!
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 19/4/2011 14:38Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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