.BoomShot – 5 anos de alternativa para o seu rap.

Um grande amigo, admirador do estilo, certa vez me disse que “o Rap é a música mais anti-social que existe, só fala de morte, violência.�. Não fiquei satisfeito com o rumo da conversa, mas também não pude negar a afirmativa por completo. De fato o Rap é popularmente conhecido por cantar de forma direta a situação de risco que grande parte da população está exposta. Porém, como bem nos ensinou o historiador Eric Hobsbawm, toda tradição é construída. Se existiu um processo que caracteriza o Rap como uma música “anti-social�, outros processos podem fundar diferentes tradições para este tipo de música.

Foi de olho nessa outra possibilidade que Zeca MCA deu o start com a rádio BoomShot. “A idéia sempre foi dar espaço pras músicas e bandas que a gente não vê tocando em qualquer lugar. Resolvemos fazer uma rádio pra tocar o rap nacional que não toca nas outras rádios�. Mas que rap é esse que toca na BS? “Nós chamamos de alternativo, de underground. Mas são apenas rótulos. Acho que tem que ter espaço pra todo mundo, e esse é o espaço que eu dou pra quem não faz rap falando sempre da mesma coisa�. É nessa pegada que a rádio completa 5 anos. A BS é disponibilizada quinzenalmente na internet e recebe uma média de 3 a 5 mil acessos mensais.

No começo, o projeto era tocado ao lado do parceiro Jimmy Luv, “a gente fazia uma festa junto aqui em SP. Um dia eu tive a idéia da rádio e falei: vamos fazer! Ele topou e a gente começou a fazer�. Mesmo quando Jimmy precisou abandonar o projeto Zeca não desanimou e seguiu com a rádio. “Dá trabalho sim mano. Mas se não fizer, eu fico doente. Nunca ganhei um real com a radio. Alugo estúdio, pago o horário pro convidado ir lá e ainda chegar atrasado�, se diverte Zeca.

O vício pela propagação da boa música empurrou Zeca para sua primeira experiência no mundo da produção fonográfica. Em julho de 2006 a rádio colocou na rua a coletânea BoomShot Volume Único. “Chamei as bandas que tinham a cara da BS, que já tinham participado da parada. Todos toparam ceder um som novo e exclusivo pro CD�. E como foi essa aventura pelo universo da indústria fonográfica? “Deu muito trabalho mano, por isso o nome Volume Único. Mas o resultado final foi classe!

No final do ano passado a rádio colocou na rua um vinil com participação dos grupos Mamelo Sound System e Elo da Corrente. “Esse foi muito classe fazer, as duas bandas só tem parceiros mesmo! Eu tinha o sonho de fazer um vinil, aí falei com os caras e eles toparam. Mandamos mixar e masterizar em Nova Iorque, com o produtor Scotty Hard. O resultado ficou ótimo, o vinil bate pesado! Fizemos só 300 peças, as capas foram feitas a mão e são numeradas de 1 á 300�. O choque tecnológico chama atenção, uma rádio disponibilizada na internet lançando um vinil. Zeca esclarece: “A gente usa a tecnologia que tem, como nenhuma rádio FM quer me dar espaço, eu uso a net pra fazer barulho. Como ainda podia fazer vinil no Brasil (parece que agora a última fábrica foi definitivamente fechada) eu fiz�.

Entre trancos e barrancos Zeca permanece na caminhada, os próximos planos seguem direcionados pela boa ambição: “Em primeiro lugar, se o selo BoomShot conseguir lançar um álbum por ano, já estou satisfeito. Essa semana recebi um e-mail de um cara de Moçambique. Ele ouve a rádio de lá! Isso não tem preço!