.Cineclube Buraco do Getúlio.

Parece pegadinha, mas não é. Toda segunda segunda-feira do mês uma rapaziada nervosa se reúne no Anania´s Bar (“do lado de lá� do centro de Nova Iguaçu) para tomar um porre de cultura. Toda a movimentação gira em torno do cinema, afinal de contas estamos falando de um cineclube, mas a magia que acontece vai muito além da oferecida pela sétima arte. Intervenções artísticas das mais variadas vertentes encontram espaço por aqui: música, poesia, teatro. Cabe tudo no Buraco do Getúlio.

O Getúlio em questão, como a maioria das pessoas pode imaginar, não é o Vargas. Mas sim o Getúlio de Moura, engenheiro responsável pela expansão férrea na Baixada Fluminense. Figura que, graças a sua importância histórica, batiza uma avenida que corta várias cidades da Baixada e, que em muitos pontos, margeia a linha do trem. Dois fatores inspiraram o nome do Cineclube. O primeiro, digamos assim, é mais filosófico: a pertinência da estrada de ferro como símbolo da Baixada; O segundo é mais pragmático: a proximidade do Anania´s Bar a uma passagem que cruza a linha férrea pela via subterrânea. Ou seja, um buraco.

O Cineclube nasceu a partir de um coletivo que timidamente já atuava em Nova Iguaçu, o Laboratório Cítrico. Como o nome bem indica, a proposta é a de experimentações na linguagem audiovisual. Bion, um dos fundadores do Laboratório e do Buraco me explicou como a coisa toda começou: “Aqui já era um espaço que a gente freqüentava antes de existir o cineclube. Até que um dia eu tava sentado com um pessoal ali do outro lado da rua, viajando, e tivemos a idéia de começar a exibir vídeos�. O pessoal do Laboratório se mobilizou com agilidade e em duas semanas o Cineclube Buraco do Getúlio apresentava sua primeira sessão.

Desde o ponta-pé inicial, que aconteceu em julho de 2006, até a sessão mais recente, o pessoal vem corroborando a frase lascada por Severino Dada, grande montador do cinema brasileiro. Em entrevista para a revista Zé Pereira, o sábio editor disse algo como: “sem boteco não existe cinema�. É exatamente essa a idéia que o Buraco celebra a cada sessão, a intervenção do cinema na vida, ao passo que a vida recheia o cinema. Na sessão mais recente o convidado especial foi o Mate com Angu, cineclube de Duque de Caxias que, no alto dos seus cinco anos de atuação, se coloca como uma espécie de primo mais velho dessa nova geração de cineclubes da Baixada Fluminense. Assim como o pessoal do Laboratório Cítrico/Buraco do Getúlio, a rapaziada do Mate com Angu (incluindo este que vos escreve) não somente exibe vídeos como também produz ficções, animações, documentários e clipes musicais.

Quando perguntado sobre o impacto do Buraco na vida cultural de Nova Iguaçu Bion fica meio sem jeito. Coça a cabeça, e quando começa a articular uma resposta o DJ DMC (integrante do Mate com Angu) intervém na conversa: “Impacto? Rapá, olha isso aqui em volta�. E a visão revela uma calçada cheia de gente jogando conversa fora. Gente que faz cinema, gente que faz teatro, gente que faz música e gente que “não faz nada�, mas que vive em Nova Iguaçu e adora tudo isso que acontece no Buraco do Getúlio.