Não tenho embasamento cientÃfico ou documental para afirmar que o fenômeno só ocorra nos subúrbios do Rio de Janeiro, mas que é lá que eu mais vejo a febre de São Cosme e Damião manter-se viva entre a garotada, lá isso é. Hoje mesmo, antes de sair de casa para trabalhar, toca a campainha. No olho mágico, ninguém:
- Moço, tá dando doce? - diz a menininha, com um exército de mais trezentos atrás dela, quando eu abro a porta.
- Tô não - a voz meio assustada com a possÃvel reação da galera.
- Tá, brigada – e vira as costas, como se eu fosse invisÃvel.
Cosme e Damião é assim mesmo. No meu prédio, todo ano é igual. Mas não é só para quem mora em apartamento, não. Do ponto de ônibus, pude avistar manadas e manadas de crianças iguaizinhas àquelas que tocaram a minha campainha. Às vezes, uma só adulta com elas. Às vezes, nenhuma. Elas andam juntas, de mãos dadas – enquanto ainda têm mãos. Enquanto ainda têm mãos, porque chega uma hora em que elas (as mãos) acabam – são só duas – e não tem mais como carregar tanto saquinho de doce.
No Rio – e em todo o mundo, creio –, dia 27 de setembro é dia de São Cosme e São Damião, os santos gêmeos da igreja católica (também cultuados no Candomblé, na Umbanda etc.), que, depois de mortos, apareciam ajudando crianças violentadas. Ficou na tradição que os devotos desses santos deviam ajudar as criancinhas, daÃ, talvez, os doces – que, hoje em dia, só contribuem para as cáries. Mas Cosme e Damião é assim mesmo. Resta saber, se só no Rio ou se em todo o mundo: os mais velhos saem à s ruas dando saquinhos de doces e brinquedos, as crianças vão à cata. É quase um halloween brasileiro. Falta só, quando eu abrir minha porta, ouvir um trick or treat?
putz, pena que não vai ser publicado a tempo...
Liv Brandão · Rio de Janeiro, RJ 27/9/2006 15:43
ah, mas o guia não é a agenda... Vale a menção... hehehe
Viktor Chagas · Rio de Janeiro, RJ 27/9/2006 15:55
pois é, mas mesmo assim, é uma data que poucas pessoas que passam da fase de pegar doces lembram.
hoje ganhei saquinho! \o/
Que texto gostoso de ler! Acho que não era sua intenção fazer uma coisa jornalÃstica, mas fica pedindo mais texto, conversar com as crianças, saber se elas conhecem a história destes santos, resgatar memórias de alguns adultos. Vim do Nordeste, e já tenho uma porção de "no meu tempo", mas não lembro de na ParaÃba haver essa procissão em busca de doces, não... Será que é uma coisa mais tÃpica do Rio mesmo?
Renan Barbosa · São Paulo, SP 28/9/2006 21:08
Olá, Renan. Obrigado pela parte que me toca... :) Queria mesmo fazer algo maior, mas, agora, acho que fica pro ano que vem, já que Cosme e Damião é um dia só mesmo e pronto. :)
Coincidência: eu também vim do Nordeste, mas do Recife. Só que vim de lá ainda pequeno, por isso, não lembro de já ter corrido atrás de doce por aquelas bandas. Lembro, sim, do Rio. Será?
ai que delicia, me lembrou minha infância. :)
aqui em cuiabá acontecem festas de são cosme e damião, crianças correndo atrás de doces, doces em cima do muro.. um halloween brasileiro com certeza.
Lembro-me quando eu era pequena, e isto a meio século atrás, que este dia sempre foi o dia que eu saia cedo de casa sem hora pra voltar... Era tradicional além dos doces, as brincadeiras de pau de sebo, corrida no saco, corrida com ovo na coller, dança da maça e outras brincadeiras mais...Ruas eram fechadas para a festa... Quando fui morar no nordeste percebi que havia tambem a tradiçao de dar doce para as crianças neste dia, embora lá eles façam mais festas em casa com bolo e brigadeiro... Hoje ao voltar para o Rio vejo que a tradição se mantem embora bem mais camuflada, pois as pessoas preferem colocar seus doces em carros e sair distribuindo... Só que não é facil sair desapercebido pois as crianças logo se aglomeram denunciando para as outras...
Izabel Mieiro · Rio de Janeiro, RJ 1/10/2006 15:38
A esposa do dono da empresa onde trabalho todos os anos entrega o saquinho com os doces para os filhos dos funcionários. Mas já onde moro não vejo mais essa distribuição como antigamente
achr · Porto Alegre, RS 2/10/2006 00:04
Meu nome é Damião.
Vivi minha infância na zona rural do recôncavo da Bahia. Era tradição , todo ano no mês de setembro, uma multidão aparecer lá em casa à noite para participar da reza de São Cosme e São Damião. Tudo começava com uma reza, onde a uma senhora puxava os cantos e era acompanhada por todos presentes. Aquele coral era otimo pra deixar todas as crianças sonolentas. No final da reza os guris q tinha pegado no sono acordavam com o cheiro da distribuição de pratinhos de caruru+arroz+galinha. Depois dessa boca-livre geral era a vez do sambão com elementos de candomblé. Um preta bebia sangue de galinha e recebia caboclos, revirava os olhos... o sambão não parava e eu era um dos que estava lá me acabando no samba. Lembro q os instrumentos era tampa de panela, prata com colher, pandeiro e tambor. Um belo ritual que hoje em dia não participo mais.
Bacana mesmo, Viktor.
Aqui em BrasÃlia essa tradição ainda é forte. Minha mãe distribui sempre, há vários anos. Esse ano, assim como a Liv, eu ganhei um saquinho também. Me fez lembrar de quando era criança e saÃa com mochila nas costas, pra guardar os doces recolhidos. Depois, era bala pra mais de um mês.
Abs!
Aqui em São Paulo essa tradição praticamente não existe mais. É uma pena. Fui criado no Rio, na Zona Norte, Vila Kosmos. Todo ano eu e minha irmã saÃamos juntos com sacolinhas para ver quem pegava mais saquinhos de doce. Meu recorde foi 27 (o dia dos santos). Nesse dia me empanturrei que só. Foram tempos felizes.
Espero que no Rio ainda aconteçam também as famosas mesas de doces, alguém lembra?
Certa vez, uma colega me chamou para pedir doces. Nunca tinha ouvido falar nisso e parece que a vizinhança também não.
Conseguimos apenas alguns doces que nos foram arrumados no improviso.Não lembro a data que era! E nunca mais quis pedir...
Não sei se existe essa prática em Minas... Concluà que a minha colega estava ficando meio "louca" e dei o assunto por encerrado.
Nossa, vivi isso intensamente quando morava no Rio. Na infância, em Vila Isabel, Lins, Jacarepaguá, era o dia todo na rua, "correndo atrás de doces", doce lembrança. Na zona sul não rolava da mesma forma. Mais tarde, adolescente, ajudava na distribuição feita pela minha madrinha, um tumulto de crianças, uma festa enorme, era um prazer imenso ver a alegria da criançada. Aqui em Aracaju não rola, as pessoas oferecem caruru em festas fechadas, não é a mesma coisa.
Talita, eu sempre faço essa analogia entre o Cosme & Damião e o Halloween, e sempre me olham com aquela cara de espanto, finalmente acho alguém que concorda comigo.
Muito boa a dica, Viktor!
... nem precisa dizer que continuo devoto deles, né? hehe Salve Cosme & Damião!!!
Marcelo Rangel · Aracaju, SE 4/11/2006 20:37
Sou de São Gonçalo - RJ e lá também tem!
Já peguei muito doce tb...
Oi, pessoal. Esse recado é para avisar a possÃveis interessados que a Tetê está propondo uma pauta coletiva sobre Cosme e Damião aqui. Tomara que vocês se animem a escrever...
Viktor Chagas · Rio de Janeiro, RJ 22/8/2007 10:45
Opa Viktor. Você me fez lembrar da infância em São Paulo. Em Guarulhos, cidade onde morei 18 anos naquele estado, a vizinhança festejava os Cosme e Damião. Lembro também de uma vizinha que comungava no Candonblé ou Umbanda (Realmente não sei diferenciar - prometo ler a respeito) e recebia 'espÃritos' e tal tal. Junto aà uma batucada, crianças comendo doces e uma diversão sem hora pra acabar. Outra coisa que o pessoal falou por ái, é que poderia ser maior. Daria uma pouco mais de "pano pra manga". Mas tudo bem. O ano que vem tem mais não é mesmo.
Um abraço.,
Adorei o texto, muito obrigado!Me deu saudades de quando corria atrás de doces lá em Jacarepaguá...
FranciscoBP · Rio de Janeiro, RJ 16/9/2010 17:14Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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