Nem galeria de arte (embora lá esteja), nem museu de arte (embora por lá apareça). Um dos artistas plásticos mais renomados de Blumenau expõe as suas obras, criadas em seu ateliê, embaixo de um viaduto. VIADUTO!
A obra de Telomar Florêncio tem uma força extraordinária: a força da leveza. E é através dela que sua obra surrealista não entra na cadência do tempo — afinal, o surrealismo se foi a tanto tempo — e continua, hoje, ilustrando suas telas.
Telomar é um artista de várias facetas. Ora desenhista, ora ilustrador publicitário, é também conhecido como o mestre do surrealismo em Santa Catarina. Acontece que muito pouca gente o conhece. Esse contato se dá de duas formas: ou conhecendo antes a obra, na parede da casa de um amigo, na capa da lista telefônica ou nas plotagens de uma festa como a Oktoberfest; ou no Museu de Arte de Blumenau, em coletiva ou solo, quando se perguntará afinal: onde está o artista? Telomar não presencia as vernissages. Isso o torna uma figura excêntrica, embora sua obra já venha sido discutida há muito tempo e, essa sim, já é bem conhecida por seus admiradores.
Não são raras as histórias de artistas que precisam ter uma idéia preciosa para venderem suas obras. A idéia preciosa de Telomar é simples: como mora à s margens de uma das vias mais movimentadas da cidade (o Anel Viário Norte é por onde passam grande parte dos ônibus de turistas que vêm a Blumenau, bem como caminhões, carretas, trailers, carros...) teve a simples idéia de colocar suas obras à vista perto de sua casa. E o faz. Num barranco, coloca-as uma do lado da outra. Em dias de tempo bom, claro. E aguarda que algum comprador apareça. O problema é que muitas vezes se encontram ali as obras, mas o não o artista. Se bem que ninguém as rouba. É bem difÃcil ter um Telomar Florêncio em casa e esconder a forma como ele foi comprado.
Além da mÃstica que cerca este artista, como “o cara avesso a vernissages†e da possÃvel ambigüidade que nele possa se perceber, tal “o avesso que sempre está à vista em exposições, comentários e materiais publicitáriosâ€, sua obra precisa menos de palavras e de discernimento do que de sensibilidade para ser apreciada. E para apreciá-la ou tornar-se colecionador dessa grande obra, não precisa ir muito longe. Basta passar por ali, pelo viaduto do Anel Viário Norte, e topar com dos dois: a obra e o artista.
Veja este mapa
Isso sim é arte. O desafio da estrutura de uma sociedade, normalmente preconceituosa e o artista a desconsidera do ponto de vista do luxo ou da sofisticação, levando sua obra para o barranco por 200,00. E ganha a atenção, oras! Não sei quanto ao tema nas pinturas, mas certamente a cultura impregnada em cada centÃmetro de tela tem pelo menos cinco vezes mais o valor que é pedido em suas pinceladas. Me parece um Van Gogh, que jamais obteve riquezas embora tenha produzido as mais valiosas pinturas que se tem notÃcia... Isso é Brasil.
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Andruchak, pintor e professor, doutor pela ECA-USP lecionando arte digital na UMC e UNIP.
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