Para se perder entre livros

Bom é se perder entre dezenas de milhares de livros vivos, mergulhar em páginas amareladas e se esquecer que, pertinho dali, ônibus e carros e pedestres correm em busca do tempo perdido, enquanto se troca um dedo de prosa com Proust.

Bom é se perceber que, entre um livro e outro, entre uma folha e outra, há música e que a música sai naturalmente dos livros. Até se mudar de prateleira e notar que a música caminha junto; então atentar e ouvir que o violino não sai do papel, mas das caixas de som; então acordar e olhar instintivamente para um rapaz de fraque; é ele, empunhando o violino, que faz a gente mudar de dimensão, acreditando que velhas encadernações têm o poder de encantar como sereias, fazendo com que a gente se perca no tempo, redundando, se perdendo de si.

O moço fica ali, todos os dias, com seu violino, no Sebo do Messias. Se um cliente, um visitante, um amigo, chegar e se sentar ao piano da loja, acesso livre, estará feito o dueto.

Alguém mais empolgado poderá contratar uma moça por hora, daquelas que fazem ponto na floricultura em frente, e os dois começarão a valsear pelos corredores, entre Neruda e Borges.

O caminho é simples: desembarque no metrô Sé, desvie da catedral e cruze a praça. Ótimo lugar para se perder em São Paulo.