Pausa para almoço verde e cafezinho: Galeria Chaves, Porto Alegre

Quem vê nem diz, mas mesmo sendo eu notoriamente um detentor de um porte físico, digamos, “avantajado�, sou um apreciador da culinária vegetariana. De café, então, nem se fala. Assim que aqui cheguei, importunava todos os que recém conhecia por dicas de restaurantes adeptos da cor verde e por boas cafeterias na cidade. Como o Rio Grande do Sul é nacionalmente conhecido pela sua predileção pela carne vermelha e pelo chimarrão, até hoje acredito que muitos não tomavam por sérias minhas indagações. Alguns, entretanto, arriscavam umas diretrizes. Uma delas dizia respeito a uma tal Galeria Chaves: lá, eu decerto encontraria o que procurava.

Demorei um monte mesmo foi procurando a tal galeria. Se por dentro ela ainda mantém timidamente o charme antigo da arquitetura de um tempo em que, ao se falar em beleza, falava-se em vitrais, largas escadarias, neons piscantes e postes de luz, por fora seu esplendor está completamente encoberto pelos ruídos da urbanização: toda a poluição e o aglomerado visual do centro da cidade – que, na maioria das vezes, faz-me sentir vivo – me fez passar reto pela entrada da galeria um sem-número de vezes.

Eis que um dia, andando pela Andradas, bem próximo da Livraria do Globo, avistei uma plaqueta enorme, de bronze, com as inscrições um tanto borradas pelos anos: Galeria Chaves Barcellos. Eu nem estava com tanta fome assim mas, guiado pelos ecos das sugestões que um dia me deram, acabei entrando só para conferir o que ela tinha a me oferecer gastronomicamente.

O restaurante vegetariano tem o sugestivo nome de Natureza e está há 25 anos em atividade. Nele, pode-se conferir o feijão-com-arroz do vegetarianismo: muitas opções de saladas e frutas, bastante pratos com soja, e algumas acrobacias que tornam verduras e legumes muito mais gostosos. O ambiente é aconchegante, bastante claro e bem climatizado. É, no geral, de uma simplicidade que agrada – e, como é próprio da simplicidade, agrada mais aos menos exigentes.

Como estabelecimentos verdes quase nunca têm cafezinho, senti-me obrigado a procurar o meu. Encontrei o Café Chaves. O café não é nada de mais, mas a decoração, vou te contar, é um encanto: na parede, vários relógios montados por cima de vinis; na mesa, por sobre uma toalha xadrez, uma xícara semelhante às que tinham lá em casa no tempo em que a louça era aquela louça herdada da vovó; no som, tocava Sinatra. Minha janela dava para a escadaria, e eu podia ver todos os que subiam e desciam, em invariáveis pressa e frenesi. Já eu, eu não: eu estava sentado. Tinha um livro para ler, um café para tomar, uma digestão a fazer: eu estava, verdadeiramente, satisfeito. E muito disso se devia, sem dúvida, ao ambiente. A Galeria Chaves passou então a ser, em Porto Alegre, um dos meus lugares mais freqüentados.