No início do século passado, a Rua Guaicurus era o centro da zona boêmia de Belo Horizonte. Naquela época, ela abrigava locais conhecidos como o Cabaré da Olímpia, o Montanhês Dancing e Chantecler: era destino certo de jovens intelectuais no fim de noite. Nesse endereço, os homens iam beber e papear livremente (além de outras coisas) longe dos olhos das mulheres e da rígida família mineira.
O carioca Noel Rosa esteve na capital mineira em tempos de recuperação de tuberculose e era freqüentemente visto na Guaicurus. JK, então prefeito local, também. Hilda Furacão e o travesti Cintura Fina davam o tom da música que não cessava madrugadas adentro na Guaicurus. Hilda casou-se com Paulinho Valentim, atacante do Galo: o padrinho do casamento foi João Saldanha. A época que ela deixava a profissão e a capital mineira, a Guaicurus iniciava o seu processo de decadência.
Há muito tempo a Guaicurus ocupa as páginas policiais dos jornais. Nos últimos anos, junto com todo o processo de resgate do centro da capital, tem se falado na criação de um circuito cultural que incluirá a via de má fama. É esperar pra ver. Aliás, uma das observações mais curiosas é o intrincado sistema de mãos utilizado na Guaicurus: é impossível permanecer nela sem que se tenha que deixá-la após um quarteirão. Artimanha do poder para esvaziar a região?
- Fotos de Annekathrin Knigge
Esse texto faz parte da série percurso dos escritores
Interessante. O que mais me inquietou foi esse detalhe do sistema viário, que aparentemente expele ou vomita quem tenta permanecer. Às vezes penso também se certas coisas não são arquitetadas, mas deixa estar...
Abraços,
a zona boêmia funciona, PRINCIPALMENTE, durante o dia. pena que seja muito violento frequentar o local à noite; é bem perigoso. acho que há necessidade de um projeto de revitalização (socialização) da região.
Rafael Cerqueira · Belo Horizonte, MG 28/5/2007 17:59Olha, bacana vc lembrar da rua...tomara que nosso prefeito Pimentel a inclua em seus planos e revitalise sua arquitetura. quem conhece já viu que tem casarões antigos ainda por lá e que vale a pena preservar esse patrimônio.
Walesson Gomes · Belo Horizonte, MG 28/5/2007 18:52Essa rua sempre faço compras, pois tem várias lojas que vendem por atacado. Interessante que todas as vezes que passo por lá converso com algum funcionário e fico sabendo de casos do "arco da velha", principalmente que lá tem vários prostíbulos.Um deles me chamou a atenção pela sua arquitetura diferenciada, e que no passado era frequentado por Hilda Furacão. Acho que essa rua tem muitas histórias interessantes pelos corredores dos casarões.
anamineira · Alvinópolis, MG 28/5/2007 20:27
Mandou bem, Sérgio. Guaicurus é um patrimônio histórico, espero que realmente este projeto cultural se concretize. Tbm ouvir falar que eles vão criar um Centro Cultural no antigo Cine Brasil, que reativará o cinema a preços populares. Belo Horizonte precisa de mais espaços culturais, a cultura tem que ir a onde o povo está, e nada melhor que o centro da cidade.
Valeu cabra, muito bom...
ja há projetos demais; em BH, espaços público desativados (não necesariamente - vide complexo pça da liberdade) estão virando centros culturais; com cafés, cinemas, teatro e uma livraria, bem cara por sinal. o que é de fato necessário é investimento em políticas públicas para formação de público que frequente esses espaços, descentralizando e fazendo, sim, cultura de modo democrático.
Rafael Cerqueira · Belo Horizonte, MG 29/5/2007 16:17
muito interessante a proposta da série, meninos... gostei demais. nossa cidade é cheia de causos né? essa história não pode ficar perdida no tempo.
muito bom!
Muito interessante o lugar
Faço votos pela retomada boêmia da rua
Os mineiros merecem
E os brasileiros também
Abraços!
Toda cidade precisa de um lugar pra putas, viados, intelectuais, artisas e políticos se confraternizarem... Falta vida em BH sem isso...
danielflorencio · Belo Horizonte, MG 29/5/2007 23:45
Excelente contribuição, bastante poética. :) O trecho sobre o trânsito é realmente interessante, nunca havia pensado nisso.
Agora, concordo com o Rafael Cerqueira que diz "a zona boêmia funciona, PRINCIPALMENTE, durante o dia". Passando por lá no meio do dia, é impossível não notar o entra e sai das modernas "cabines eróticas higienizadas", do cinema de sessão dupla e de umas portas completamente não identificadas...
Paulo Valentim morreu mendigo nas ruas de Buenos Aires.
Sergio Rosa · Belo Horizonte, MG 18/11/2007 15:25Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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