Suave é a noite candanga (mercados na madrugada)

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El Gabri · Brasília, DF
25/4/2007 · 49 · 1
 

Não se trata exatamente de uma sugestão de consumo, um local para freqüentar, afinal de contas, nalgumas teorias, este é um não-lugar. Entretanto, é de se admirar a versatilidade de um supermercado aberto de madrugada. Para aqueles de hábitos notívagos, no pós-duas-da-manhã quando boa parte dos bares da cidade se fecham, pelo menos uma saideira pode ser tomada no mercado. Compraz-me tomar um vinho vagabundo na madrugada suave de Brasília e confesso entrar nos supermercados com certo assombro, uma impressão de macabra exposição pop-art por alguns corredores. Apesar de soarem modulares, um não-lugar como aeroportos e maque-donaldis, cada super carrega algo de curioso em si, sutil e geralmente abandonado pela noite e o sono da maioria das pessoas.

Mas sempre rola de cruzar com uns coroas fazendo compras, uns maconheiros matando a larica, um mendigo comprando uma pedra noventa engarrafada em plástico,alguns bebuns comprando coca-cola para o amigo que tá passando mal, sem contar nos tantos que passam com a cabeça no lugar onde vai encher a cara, (festinha, pracinha, banquinho), etc., etc., etc. Isso sem contar os que batem ponto nas escadas do mercado ou no estacionamento escutando música (geralmente de gosto duvidoso). Não é um programa dos mais recomendáveis ficar em mercado, mas não podemos jogar a água e o bebê fora, existe algo de rico na noite que viremexe é testemunhado pelos corredores frios ao som de antena 1.

Na asa sul, o pão-de-açúcar da 406/407 vale por uma placa ridícula ao lado do primo piato tentando convencer os bebuns de não ficarem por ali. "Não faz o menor sentido conversar de madrugada", ou algo do tipo. Juro que já vi mais de um dando pala de riso com isso. Mercado tranqüilo, vale a pena sentar-se e admirar a fauna bizarra que aparece na noite. Já vi um cara tentando não parecer bebum dar um tropeção e se desmontar todo no chão. Recolheu a dignidade espalhada pelo asfalto, entrou no carro com umas latas de cerva e vazou tentando fazer parecer que nada aconteceu. O pão-de-açúcar 308/309 é para curtir o batidão de música brega vindos de carros com mais de vinte anos de uso estacionados do lado de fora e tentar achar a sorte no freezer da bavária (que geralmente passa a noite intocável mas completamente bagunçado) que vezenquando tem heineken trincando de gelada. As outras cervejas sempre estão muito quentes, não adianta nem abrir os outros refrigeradores - isso se não estiverem abertos, já, estragando a cerveja. O big box da quadra do água doce às vezes vende mais barato que o pão-de-açúcar. Mas se você já tá num programa furado de fim de noite, se arriscar no spettus, hehehe...

Na asa norte, o big box da 402/403 vive com algum movimento pela proximidade com a esplanada, talvez. A seção de birita sempre tem algum casalzinho ou grupinho passando em vistoria a enorme quantidade de vinhos, pingas, vodkas, uísques...E no final das contas sempre estão olhando para o trecho de bebidas até vinte mangos. Deviam criar uma sub-seção de bebidas vagabundas, como uíxque de menos de vinte mangos, pingas em garrafa de cerveja e aqueles vinhos bizarros que te deixam com a sensação de que dissolvem os dentes e o estrombo, fazem você cagar fedido e verde no dia seguinte. O pão-de-açúcar da 308/309 é o hit parade, top of the pops dos mercados de fim de noite, por isso mesmo só vale se for pra comprar vinho, pois ou a cerva acabou ou está quente feito sopa.

Não estou habilitado a falar de outros mercados. E destes, apenas passo, geralmente. Mas falta um olhar menos cruel sobre esses lugares. "Mecas de consumo" ou qualquer terminho de efeito tem seu lugar, mas não rola de cuspir no prato e esquecer quantas vezes é o super-filha-da-puta-cadeia-de-mercado que salva a noite ou torna menos penosa a insônia.

onde fica
Nas melhores lojas do ramo.
por que ir
Bem, o buteco fechou, galera...
E agora?
quando ir
Na madrugada.
quem vai
Toda a fauna exótica da noite que não descolou algum roque maneiro ou então que arrumou o roque e está passando por lá pra calibrar.
quanto custa
Mioranza - aproximadamente seis mangos;
Antártica lata - R$1,05;
Barras de chocolate - de graça;
Cigarros - o preço de tabela.

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Guilherme Mattoso
 

acho que esse texto ficaria melhor no overblog, el gabri... tá mais pruma reflexão do que pruma dica. independente da classificação o texto tá legal.

Guilherme Mattoso · Niterói, RJ 25/4/2007 10:08
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