Eis-me-cá. Não falei que voltava? Então...
Era um pouco menos que duas horas da tarde quando retornei de minha saÃda para o almoço. Precisava, nesses primeiros minutos, dar um giro bem calmo e devagar, com toda a paciência necessária à digestão. Resolvi dar uma volta no segundo piso (dispensando, agora, a escada rolante: “andar ajuda na digestãoâ€, me dizia a vovó quando menino) pois, pela manhã, havia tomado nota mental de um negocinho a respeito de cafezinhos e doces que não poderia deixar de ir depois do almoço. Ficava no sobrepiso, então para lá eu iria.
Em meu lento passo, notei por dentro de um dos boxes um rosto familiar. Entrando, dei novamente com Paulo Naval, desta feita como peça de exposição no Memorial do Mercado. Dei com ele e tantos outros sujeitos e histórias que ergueram o local não apenas como prédio, mas como instituição popular. A mostra em exibição chamava-se “Na labuta: histórias e memórias dos trabalhadores do Mercado Público de Porto Alegreâ€. Caixotes empilhados serviam de painéis para quadros com fotos, textos explicativos ou excertos de material colhido na imprensa a respeito de pessoas que, quer vivas, quer mortas, vivem aquele ambiente. Uma justa homenagem, elaborada num bonito esquema de troca: em depoimento concedido para a exposição, Luis Salami (proprietário do Supermercado de Carnes Rodeio) afirma que “O balcão ensina a genteâ€. Um pouco do que aquelas pessoas aprenderam está, em imagens, textos e fotografias, sendo repassado a nós. Um escambo primário e rudimentar, sem fins lucrativos, onde o balcão não representa uma barreira.
A idéia dos caixotes para acomodar os quadros não poderia ser mais pertinente – caixote é o que mais há, ali, quem sabe mais até do que pessoas. Aqueles quadriláteros de madeira bem que mereciam sua parte na história do mercado, o reconhecimento de sua importância. Logo na entrada após o almoço, notei um carro repleto deles e, recostado tranquilamente ao topo, um jovem de camiseta e boné praticando a sesta que lhe cabe. Em minha timidez de fotógrafo amador, não me atrevi a uma foto. Um pouco por isso, talvez: timidez, um motivo justo. Mas, sobretudo, altruÃsmo: vai que ele acorda, e aà com que cara eu vou? Não dá. O sono é, de todos os instantes que compõem o dia, aquele que há para ser mais respeitado.
Meu corpo relembrava-me “Tá, e aquele cafezinho?â€, forçando-me a entrar na Casa de Pelotas, aquele local do café e do docinho. O trato era o seguinte: um espresso e um doce de Pelotas, três reais. Acatei. Escolhi um tal de “Beijo de Mulataâ€, a saber: musse de chocolate com cobertura de chocolate, flocado com castanhas do Pará. Sentei-me, comi e fui ficando por ali. O lugar é calmo e bem iluminado. Não sei se o café, o doce, o ambiente ou os três, mas consegui abstrair todo o barulho do mercado – e mais o do Centro, que vinha da janela – e me concentrar numa bela leitura até por volta das quatro, quatro e meia.
Arrisquei uma volta pelo Centro para resolver umas pendências. Resolvidas, voltei correndo ao Mercado pois não agüentava mais esse verão primaveril. Acalorado, fui até a Banca 40 e pedi uma Bomba Royal. A “bombaâ€, criada na época da Segunda Guerra Mundial pelo comerciante português Manuel Maria Martins, é composta por salada de frutas, três sabores de sorvete e uma camada de nata; um pedido que costumeiramente faço quando vou ao Mercado.
Mais de seis. Satisfeito com meu feriado, decidi que era hora de voltar para casa. Peguei o ônibus e retornei para meu lar, alegre, satisfeito e feliz. Dormi cedo. Naquele dia, eu não jantei.
Puxa! O guia veio antes do que eu esperava.
Assim fica melhor ainda. :-)
Quero votar, mas ainda faltam 31 horas.
Mais, mais, por favor! :-D
Adorei!
grato! quanto ao "mais, mais"... espera um pouco! após duas semanas de publicações incessantes, antes terei de sentar e pensar "quo vadis"?
(mas não por muito tempo, claro. um passo e já nem estamos mais lá)
Parabens e Sucesso !
André Luiz Mazzaropi
O Filho do Jeca
www.andreluizmazzaropi.com.br
Valeu, André! Brigadão.
Sou fã do teu pai.
mas, ah, Jorge!
segue o périplo pelo centro da Capital.
agora, estes doces de Pelotas aqui em Porto Alegre são todos "fake". na boa. trendo embuste!
baita, dMart.
putz...
é o preço que se paga por se morar nas capitais, hein?
poutz. lindo. mas é um mercado turÃstico ou é o mercado "bruto" mesmo?
beijão, jorges.
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