(Agora é mesmo tarde. Não precisamos mais de Jules Verne, Isaac Asimov ou Arthur C. Clark para prever o nosso inevitável futuro. Acabo de receber, por meios que, honestamente, desconheço, uma mensagem alarmante, vinda do futuro. Veio de alguém que presumo ser meu descendente. Não posso me furtar a responsabilidade de partilhar esta mensagem com vocês. Chamei-a de O Diário de 'O Turvo')
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“O Airtrain passou pela minha janela agora, fazendo a vidraça trepidar levemente, num frêmito. Aquela mancha súbita, incômoda, era pior ainda à noite, quando a luz do letreiro da boate em frente tremeluzia, trôpego, me assustando como um fantasma fugidio.
Bobagem ainda acreditar em fantasmas a esta altura da vida, mas, fazer o que? Sou do tempo do crack tecnológico de 2098, a época em que o mundo parou por quase 3 anos, travado pela crise provocada pelo esgotamento súbito das reservas de biocombustÃveis, que culminou com a desertificação parcial das terras do sul do planeta, levadas a beira da esterilidade total pela monocultura energética, e pelos efeitos catastróficos da Grande Enchente, no Norte. Evento há muito tempo esperado, como resultado irremediável do aquecimento global, esta inundação catastrófica só ocorreu mesmo, subitamente, no ano novo de 2095.
A maior entre todas as tragédias da humanidade, na qual milhões de pessoas desapareceram, a Grande Enchente foi como se retornássemos ao dilúvio bÃblico. Ao fim do processo, o refluxo das águas, incompleto, formou no centro da Europa, uma região aprazÃvel, denominada Grandes lagos do Norte, onde os milionários do mundo e as grandes instituições que governam o planeta se fixaram. Tornada, no entanto a última opção de combustÃvel abundante, capaz de dar vazão a grande demanda de consumo energético do modo nababesco de vida dos povos do Norte, a água dos Grandes Lagos, logo secou.
Ao Downtime, como ficou conhecido o apagão energético do mundo, se seguiu então a chamada Guerra da Ãgua, conflito ocorrido nas Américas, com milhares de mortos e envolvendo os Estados Unidos e o México (associados à s potências européias), contra os aliados Brasil, Colômbia e BolÃvia, pela posse da bacia hidrográfica do Amazonas. A Guerra da Ãgua foi de um barbarismo sem precedentes. Nela, pela primeira vez na história, foram usados combatentes zumbis, soldados induzidos á lutar até morte, com as mentes controladas por computadores.
Derrotadas, as nações do Sul passaram a ser obrigadas a comprar a sua própria água que, desviada pelo Aqueduto internacional para as terras do Norte, é vendida hoje em tonéis, cujo preço exorbitante torna o abastecimento de água para as populações dos desertos do Sul, um problema dramático.
A Guerra e o Downtime tiveram, contudo, alguns poucos resultados benéficos. Um deles foi volta de muitas de nossas crenças mais primitivas, hábitos culturais antigos - tais como este, de acreditar em fantasmas, em Deus ou mesmo na redenção do ser humano, esta coisa patética em que nos transformamos.
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Este incômodo com a mancha instantânea do Airtrain só me ocorre assim, nas noites de insônia. Quando mergulho nestes tristes e melancólicos pensamentos de saudade dos velhos e bons tempos que se foram, para sempre. Ah, quanto não daria para ter um copo de leite morno nestas horas. Deus do céu, entre todas, esta é uma das maiores e mais insuportáveis provações. Não existe mais leite na Terra. As vacas há muito se foram deste mundo. Meu bisneto viu uma delas num holograma do VirtualZoo de sua escola. Teve pesadelos durante três dias. Disse que foi do nojo que sentiu, ao ver que as pessoas bebiam aquele lÃquido infecto, que saÃa das entranhas de um animal tão gordo e asqueroso.
Ah, uma gota, um sorvo só que fosse, deste lÃquido precioso e abençoado, que não provo há mais de quarenta anos. Acho que, como um elixir da juventude, este sorvo me remoçaria.
Parece mesmo loucura lembrar como as coisas eram antigamente. Quem poderia imaginar que não criarÃamos mais animais para matar a nossa fome? Quem suspeitaria, há 100 anos que fosse, que esta história de cadeia alimentar seria, um dia, apenas mais uma das remotas lembranças de nosso passado biológico? E que, mesmo assim, o tardio da decisão de preservar a vida animal na Terra, nos tivesse privado da maioria das espécies que havia? Estas milhares de coisas exóticas que vemos agora nestes tristes e melancólicos hologramas dos VirtualZoos escolares.
Sim. Estamos quase sós no planeta, nossa velha natureza é agora mais pobre e medÃocre do que jamais foi. Com força de vontade, se poderiam enumerar, no máximo, umas seis espécies de animais ainda não extintas, e isto, contando conosco, é claro. Não é preciso nem pensar muito: Sobreviveram os Cães, os Pombos, os Corvos, os Ratos e as Baratas.
Vi na Hologram-Tv outro dia que há num certo canto remoto do Brasil, uma tribo que come os seus próprios cães e domesticam seus ratos, segundo eles, excelentes farejadores de dejetos orgânicos, outro hábito cultural surgido na época do Downtime e praticado pelos endinheirados do Norte, pobres de espÃrito, que pagam carÃssimo pelo produto, cuja venda é controlada por um grande cartel de traficantes denominado 'The Monopol'.
Os dejetos, conhecidos pelo estranho nome de Cocablood, distribuÃdos sob a forma lÃquida ou pastosa, são considerados uma iguaria afrodisÃaca. Era de se esperar uma reação como esta diante do insÃpido hábito que adquirimos de ingerir pÃlulas. Asco. É por estas e outras que tenho desprezo profundo por estes tempos modernos. Principalmente por sua fauna.
Ontem saà de casa depois de seis meses de reclusão. A idade avançada reduziu bastante o meu apego pelos passeios, mesmo os noturnos. Não estou mais tão benevolente para aceitar ficar sendo observado, fotografado, quase tocado por estes inconvenientes jovens Seestrangers, que ficam postados em frente a minha janela; gente que nunca viu, assim de perto, um ser humano real, como éramos antes do Downtime. Definitivamente não me agrada ser este tipo de celebridade.
Na verdade sou mesmo quase um bicho raro. Como caminhamos para o ponto onde não existirão mais as antigas diferenças estéticas, biotÃpicas entre as pessoas, o aspecto que os seres humanos mais novos ('normais' como já se diz, com certo desprezo pelos mais velhos) adquiriram, é tão diferente de mim, que sou conhecido aqui no meu bairro como 'O Turvo' (uma alusão ao tom pardo e baço da minha pele, bem diferente do tom claro e brilhante da pele dos mais jovens), sofrendo, todas as vezes que saio à s ruas, os constrangimentos mais absurdos que se possa imaginar.
Meu bisneto tentou me convencer um dia destes a aceitar a proposta que um professor de sua escola lhe fez, para que eu, em troca de algum dinheiro - uma verdadeira fortuna, na verdade - posasse como modelo, para imagens holográficas a serem disponibilizadas aos alunos no VirtualZoo local.
_†Como as imagens da vaca?†- Indaguei, para que ele se lembrasse do que sentiu pelo bicho que dava leite e que tanta má impressão lhe causara. Ele não compreendeu a sutileza. Tive que rejeitar a idéia, veementemente, com argumentos bem mais diretos.
Não temo afirmar que a extinção total da diferença entre as raças, ocorrida em 2099, foi de um pragmatismo por demais cruel, (atributo que, infelizmente, se tornou corriqueiro entre nós). Determinados para abolir um componente de nossa humanidade, considerado então prejudicial á boa convivência entre os povos e as nações, os procedimentos cientÃficos que iniciaram, ao fim de longo debate, a extinção das diferenças raciais foi, em quase cem anos, a decisão mais polêmica tomada pela Cúpula Planetária, instituição criada em substituição da ONU, um pouco antes do Downtime.
(Como se pode observar em qualquer VirtualBook, desmoralizada por um formidável esquema de corrupção, liderado por proeminentes membros do antigo Conselho de Segurança, envolvendo tráfico de armas e negociatas com mercenários, a ONU foi extinta em 2097).
Segundo os especialistas consultados, sociólogos e antropólogos em sua maioria, a diversidade étnica, entre outros inconvenientes (como a inevitabilidade do racismo, por exemplo) seria um recurso já totalmente ultrapassado, do tempo em que a humanidade, do ponto de vista de sua evolução biológica, apenas engatinhava.
O principal impulso a esta decisão, foram os avanços da engenharia genética no século 21, a partir da descoberta das células tronco, o que tornou viável a maravilhosa esperança que será o ser humano homogeneizado, o Homem Mestiço, sem qualquer traço de diferenciação racial. Segundo a minha modesta e suspeita opinião, mais uma aberração, entre tantas, que o homem criou depois que passou a se julgar o Deus de si mesmo.
O processo, no entanto, se prevê, poderá incorrer em diversos inconvenientes e muitas conseqüências indesejáveis, como, por exemplo, já ocorre com o crescente surgimento de movimentos que preconizam a expulsão de pessoas contrárias á homogeneização para os distantes desertos do Sul.
Chamadas pela imprensa de Racialistas, estes grupos contrários á homogeneização, foram criados por clérigos progressistas do Norte, que fundaram o Movimento Racialista da Humanidade (conhecido como a última fronteira da religiosidade humana) que prega a manutenção da diversidade étnica e racial, afirmando que a homogeneização irá produzir uma praga genética pandêmica, que dizimará mais gente do que a Grande Enchente.
Logo após o Downtime, com a explosão dos movimentos migratórios para o Norte, a medida que boa parte do sul do planeta se desertificava, as pressões da Cúpula Planetária acabaram forçando ainda mais a expulsão em massa de racialistas para as áreas desérticas, onde já viviam as populações originais, largadas á própria sorte pelas potências do Norte.
Regredindo, com o decorrer dos anos, a um estágio de civilização primitivo, bem semelhante aos modos de vida dos humanos do inÃcio do século 21, a população destas terras do sul, atualmente são governadas pela irmandade dos clérigos racialistas e uma casta aristocrática de emigrados recentes, fugidos ou banidos do Norte, que pregam uma guerra violenta contra os povos do Norte.
As áreas desertificadas da Amazonia e do Sudeste asiático são os habitats mais caracterÃsticos destes povos, entre os quais os Mulatos do Brasil e os PanChinos da Tailândia se destacam pela selvageria.
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A maioria dos seres humanos, muito em breve, será 'Flex'. Não existirão os gêneros humanos, homem, mulher, tais quais os conhecÃamos. Serei um dos poucos exemplares vivos dos homens convencionais, Proto-hetero, como a ciência já nos classifica hoje. Mais um constrangimento que me faz pretender, para mais breve ainda, a minha partida deste mundo.
Os 'Flex' não serão homens nem mulheres. A evolução dos seres humanos para o estado 'Flex' se tornou um imperativo, na medida em que o intercurso sexual, com fins de procriação, se tornou uma prática totalmente desnecessária entre os humanos. A formidável evolução cientÃfica nesta área, possibilitou a implantação definitiva da gestação por meio da inseminação artificial de células tronco, permitindo que qualquer indivÃduo, homem ou mulher, passasse a poder gerar e gestar filhos, naturalmente.
A revolucionária inovação, no entanto, não conseguiu abolir, absolutamente, o prazer que, desvinculado da necessidade de haver intercurso sexual, mesmo que simbólico, entre seres de gêneros diferentes, passou a ter exacerbados os seus aspectos mais primitivos,ancestrais, como vÃcio mesmo, ou necessidade atávica cuja saciedade, apesar de transgredir regras sociais atualmente vigentes, precisa ser conseguida, irresistivelmente, a qualquer custo.
Foi assim que o sexo acabou se transformando em droga proibida, cuja comercialização assumiu proporções avassaladoras quando se descriminalizou a prática da pedofilia (outrora tolerada apenas quando praticada por ricos) para fins sexuais amplos, desde que normais e controlados.
A decisão, que causou grande polêmica entre a população, só foi decidida por intermédio de um disputadÃssimo referendo mundial. A vitória dos adeptos da Pedofilia Controlada, como não podia deixar de ser, provocou o surgimento de um mercado clandestino, dominado por traficantes e voltado para o atendimento á clientes viciados naquelas aberrações anteriormente toleradas, tais como a mutilação e/ou assassinato de crianças pra fins de canibalismo.
É comum aqui, por esta razão, a apreensão, quase diária, de comboios de Airtrains, carregados de jovens, meninos e meninas, criados nos desertos do Sul (principalmente no Brasil) exclusivamente, para alimentar este mercado abjeto do Norte.
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Mais um Airtrain passou agora mas não me animei ainda em pegar um. A hora está chegando, mas o esforço mental para pegar um veÃculo destes, mesmo com o confortável procedimento da Teletransportation, é tão grande - ainda mais na minha idade - que quase desfaleço, só de pensar.
O fato é que morro em breve. Posso saber disto, assim, com tanta convicção, porque as mortes perderam a inevitabilidade natural que tinham antigamente e precisam ser programadas hoje em dia. Como sempre foi com tudo na vida, vivem mais os que possuem dinheiro. Para os pobres a morte é lÃquida e certa.
Sempre achei este procedimento, chamado popularmente de Morte Legal, um total absurdo, mas, o departamento do governo que cuida do controle populacional já me comunicou: meu tempo se encerra daqui à três meses e exatamente à s 16 horas de dia 5 de setembro de 2185 serei declarado oficialmente morto e terei que ser fisicamente apagado. Vivo ou morto, no entanto, 2185 será, com certeza, o meu ano inesquecÃvel.
Por isto pegarei o Airtrain pela última vez ainda hoje. O processo é simples e indolor, posso garantir. Você mentaliza o seu desejo de embarcar no momento em que algum sinal da vinda do Airtrain se processa. Uma tremida da vidraça, o trepidar do assoalho, qualquer indÃcio é o sinal. Assim que veÃculo passa pela sua janela, o embarque é instantâneo. Num átimo você está dentro do veÃculo rumo ao destino que mentalizou.
Sem que os funcionários da LifeDelete saibam, partirei. Os traficantes de matéria são facilmente encontrados no interior do Airtrain. Eles me teletransportarão para as terras do sul sem problemas, a um custo bem em conta, se julgarmos a enorme alegria que terei. Estou decidido a passar meus últimos dias numa tribo do Brasil, minha origem genética, perto de pessoas iguais á mim. Morrer naturalmente, definhando, é o que eu desejo.
Chego até a sonhar com alguém que reze por mim aquelas velhas rezas do passado. Velas acesas, flores. Gurufim com tambores. Talvez um velho Samba na voz da Clementina de Jesus. Incelenças, ladainhas. Pontos de Jongo ou de Macumba. Velhos rituais ancestrais do tempo em que tÃnhamos ainda resquÃcios de humanidade.
A vidraça tremeu. Não sei por que, no meio dos pensamentos de embarque, surgiu o rosto dela, daquela que foi a minha última mulher, exatamente como estava no dia em que nos conhecemos. O vestido estampado, as pequenas flores de flamboyant no cabelo. Linda. Ah! Como é doce esta felicidade. Aos meus sonhos mais antigos, portanto, satisfeito e conformado eu vou.â€
Spirito Santo
Maio de 2007
(Fotos Roberto D'Angelo)
Spirito, profético... Me lembrou 1984 de George Orwell, me lembrou Vanilla Sky, me lembrou Gattaca, enfim. Excelente recorte do nosso possÃvel futuro; sem água, com fome e sem vida. Li de cabo à rabo de uma tacada só. Um abraço. Parabéns pela reflexão.
FILIPE MAMEDE · Natal, RN 13/5/2007 14:26Spirito, não é só o nome, é a misutura dessa capacidade de nos envolver. Mais sertanejo e arraigado me lembro dalguns negros garimpeios contando casos da Ãfrica do Sec. tantos atraz, como se fossem casos de ontem. E pensava ele está delirando. Não.... era a capacidade de transcedência. Um abraço,
Andre Pessego · São Paulo, SP 13/5/2007 15:47Ia esquecendo, vou colar a fotografia, a primeira, autorizado, obbrigado, andre
Andre Pessego · São Paulo, SP 13/5/2007 15:49
Valeu, Filipe, valeu André.
As fotos (CC/públicas) são de Roberto D'Angelo. O programa não está salvando o crédito. Continuo tentando.
Beleza, Spirito.
Como deve ser, um bom futurólogo fala do... presente!
Egeu,
Primeiramente, obrigado. Segundamente,o que há com as janelinhas de crédito e legenda de imagens? As vezes elas não salvam os dados. Ou só salvam uma vez e não aceitam correções.
Abs,
A tecnologia atrapalha os Ãndios mesmo.
fui dar um linque para a entrevista que fiz com Adroaldo Bauer e sai todo o texto e azul-(de)lincado.
Pode ser tão burrinha assim.
Perdão, técnica.
Juli,
Bebi nada não. Antes tivesse bebido. Fico menos pessimista com algumas poucas e outras. Que bão que você gostou tanto.
Agora só um porém. Já li e reli, passei o corretor 'pai dos burros' (considerando inclusive que ele fala português de Portugal e, talvez não consiga ver mais os erros (eles sempre estão lá, eu sei). Vou lá de novo, mas, dá uma dica pro amigo aÃ, vai. Ainda tem bastante tempo, acho.
Abraços,
Spirito,
Se tiveres a pachora de reler, fiz uma sugestão para a redação dos primeiros parágrafos (não terei tempo de fazer para os demais).
É sugestão e posto aqui por temer que não te alcance pelo email.
Peço perdões antecipados, portando
Não te obrigues a nada.
A história está um primor: tema, enredo e toada. Eu não pararia por aÃ...
Tem leite e mel (e até uva, que pode dar vinho bom) nesse retorno às terras do Sul.
Sugestão:“O Airtrain passou pela minha janela agora, fazendo a vidraça trepidar levemente, num frêmito. Aquela mancha súbita, incômoda, era pior ainda à noite, quando ainda tremeluzia fugidio o letreiro da boate em frente, me assombrando como fantasma.
Bobagem ainda acreditar em fantasmas a esta altura da vida, mas, que fazer? Sou do tempo do crack tecnológico de 2098, à época em que o mundo parou por quase três anos, travado pela crise provocada pelo esgotamento súbito das reservas de biocombustÃveis, que culminou com a desertificação parcial das terras do sul do planeta, levadas à beira da esterilidade total pela monocultura energética, e pelos efeitos catastróficos da Grande Enchente, no Norte. Evento há muito tempo prenunciado, como resultado irremediável do aquecimento global, esta inundação catastrófica só ocorreu mesmo, subitamente, no ano novo de 2095.
A maior entre todas as tragédias da humanidade, na qual milhões de pessoas desapareceram, a Grande Enchente foi como se retornássemos ao dilúvio bÃblico. Ao fim do processo, o refluxo das águas, incompleto, formou no centro da Europa uma região aprazÃvel, denominada Grandes lagos do Norte, onde os poucos milionários do mundo e as grandes instituições que governam o planeta se fixaram. Tornada no entanto a última opção de combustÃvel abundante, capaz de prover a grande demanda de consumo energético do modo nababesco de vida dos povos do Norte, a água dos Grandes Lagos logo secou.
Ao Downtime, como ficou conhecido o apagão energético do mundo, seguiu-se então a chamada Guerra da Ãgua, conflito ocorrido nas Américas, com incontáveis milhares de mortos e envolvendo os Estados Unidos e o México (associados à s potências européias), contra os aliados Brasil, Colômbia e BolÃvia, pela posse da bacia hidrográfica do Amazonas. A Guerra da Ãgua foi de um barbarismo sem precedentes. Nela, pela primeira vez na história, atuaram exércitos inteiros de combatentes zumbis, soldados induzidos a lutar até morte, as mentes controladas por computadores.
Derrotadas, as nações do Sul ficaram submetidas a comprar a própria água. Desviada pelo Aqueduto internacional para as terras do Norte, a preciosidade é vendida hoje em tonéis, a preço exorbitante, tornando um problema dramático o abastecimento água das populações dos desertos do Sul.
A Guerra e o Downtime tiveram, contudo, alguns poucos resultados benéficos. Um deles foi a volta de muitas de nossas crenças mais primitivas, hábitos culturais antigos - tais como este, de acreditar em fantasmas, em um deus ou mesmo na redenção do ser humano, esta coisa patética em que nos transformamos.
Bah, tchê!
O que eu procurei esse teu postado, não tá no gibi.
Como ele está no overblog, vou entender que é só a apresentação de uma primeira e genial palhinha de um super sucesso de público que estás a produzir, ora pois.
Votei com a certeza de que, eleito, corresponderás às minhas expectativas que, confesso, são de muito sucesso teu.
Ainda que não as tenhas feito, 2185 já é o cumprimento de belas promessas.
Dá-le, guri!
Spirtito, Felipe, Egeu, Adroaldo - meus lentes. Juliaura, como diria Mestre BenÃcio "anja, deste mundo",
- Retirei a contribuição - A ALCOVITICE, SUA historia nA hISTORIA,
PARTE I. e estou postando na cultura.,
- Meu jovens amigos esas mal traçadas linhas pretende ser acima de tudo, explando-me em vocês um pedido a que possamos deixar esperança, um abraço. andre
- passe cada um para o outro, e obrigado, andre
Genial. Os "Spiritos" estão soltos...muito soltos!
peninha · Butão , WW 16/5/2007 09:01
Adro,
pelo que li, aceitaria muito bem. Ocorre que só pude te ler agora, com a matéria já na votação. Vou considerar para a versão final, pessoal que guardarei no meu HD.
Valeu, parceiro!
Abs,
Juli,
Tia (calma. Tia é professora aqui no Rio), que força é esta, heim? Sinto-me até vexado. E agora? Como corresponder?
Bom o 2185 não é palinha não. É só um conto isolado (acho que foi psicografado, sei lá). merece ser burilado e o Adroaldo já me deu até algumas dicas legais que eu ler com carinho. O tema é que é muito recorrente. Como em ficção 'cientÃfica' é pra mentira correr solta, dá pra fazer uns tres romances. Com vários autores, o que é melhor ainda. DomÃnio público, CC total!
Vou fazendo a minha parte.
Grande abraço,
Ô Spirito,
Bom ler que não ficastes aborrecido com aquela sugestão daquele modo postada.
Também não lembrei que o comentário na edição acompanha na votação e para o resto da vida o postado.
Perdão, se abusei.
É vÃcio da profissão.
Ter sido redator em "cozinha" de jornal dá nesses vexames de quando em vez.
Também defendo o conhecimento como patrimônio da humanidade e gosto de que tenhas este espÃrito público (sem trocadilhos) porque todos acabamos ganhando com isto.
Porém, santo homem, acredito mesmo que deverias continuar
o diário do Turvo.
Só vi o filme D'ont Panic (o do mochileiro das galáxias) e, te asseguro, 2185 nada deve àquela criação.
Ao contrário, acrescenta, alerta e emociona.
Vistes como ficou a Juli.
Pergunte a outras pessoas, se não é fato.
Pergunte inclusive a gente não muito próxima.
Tá não precisa consultar desafetos que pra esses nada que se faça será bom nunca.
Bueno, faça o que der na telha, vivente!
Saúde!
muito bão.
mas eu não vou ser flex, não.
abraços.
Sem palavras, quer dizer com o perdão da palavras Fudido!
Como disse o amigo Filipe li de cabo à rabo, sem medo do futuro.
Meu caro Spirito Santo
Seu texto é impressionante, magnÃfico, junta premonição (?), a mais fina ironia e muita perspicácia para nos revelar com décadas de antecipação um eventual retrato do que nos aguarda. O texto é niilista, mas tece um panorama tão real do que nos aguarda que – não soubesse eu que você nos é contemporâneo – arriscaria dizer que li não uma obra de ficção, mas o trabalho de um arqueólogo do futuro. Lembrou-me muito de um filme dos anos 70 chamado Soylent Green, dirigido por Richard Fleischer e protagonizado por Charlton Heston, que no Brasil recebeu o nome de No mundo de 2020 e cuja história fala de um futuro em que a Terra está bem modificada. Em Nova Iorque o efeito estufa aumentou tanto a temperatura que o calor ficou quase insuportável. No entanto os ricos vivem em condomÃnios de luxo, onde belas mulheres são parte da mobÃlia. Mas a comida está escassa para todos, tanto que um vidro de geléia de morango custa 150 dólares. Neste contexto é assassinado um milionário, William R. Simonson (Joseph Cotten), que quando viu que seria morto não esboçou gesto nenhum para se defender. O detetive Robert Thorn (Charlton Heston) é designado para investigar o caso e constata algo realmente estarrecedor: os amontoados de pessoas mortas que máquinas e caminhões recolhem diariamente são recicladas e transformadas em pastilhas de alimentos para a população miserável. Uma maravilha de filme, como esse seu texto. Parabéns mesmo! Um forte abraço.
André,
Se esse lance de 'flex' pra carro já é estranho, imagina pra gente? Tô fora também. Vou queimando meu óleo15 mesmo, enquanto der.
Higor,
Fudido, tudo bem. Faz parte dos desÃgnios do sistema, desde de hoje. O vai que vai nos matar mesmo é sermos, ainda no futuro, mal pagos.
Nivaldo,
Pois é, rapaz. Os elogios me envaidecem e fico muito agradecido mas, raciocine comigo (é incrÃvel isto!), não é premonição coisa nenhuma. Nós todos sabemos que, com os dados que temos hoje (está tudo no jornal) as chances de dar dar mesmo no que deu na minha história, são enormes. O pior de tudo é que, o principal elemento que torna este futuro exeqüÃvel, é a nossa degeneração ética, moral. Perdemos totalmente a vergonha na cara e a natureza, não vai deixar barato. Porque deixaria? Somos pulgas incômodas, nocivas, parasitas. Basta espremer a gente nas unhas. O planeta agradecerá.
Grande e forte abraço também, para todos.
Spirito Santo estou embasbacado. Um dos grandes textos do Overmundo. To besta. E com medo. Muito medo! abs
Rodrigo Teixeira · Campo Grande, MS 16/5/2007 21:17
Rodrigo,
tem medo não, moço. Quando chegar este tempo você não só não vai ser mais moço como estará cansado de estar morto. Dói, eu sei. Mas, tá aà uma verdade absoluta.
Abs,
Bem legal o texto. Me lembrou bastante o Arthur C. Clarke, especialmente na minúcia de explicar mudanças através relações de causa-consequência.
Achei um excelente conto de ficção cientÃfica. Mas ainda assim, é ficção. Será que não ficaria melhor no banco de cultura?
...E como dizia o seu Frederico Nietzsche:
Nos indivÃduos, a loucura é uma exceção - mas nos grupos, nos partidos, nos povos, nas épocas, é a regra...
Ou então, em alemão, pro Spirito ver se tá correto:
Wahnsinn bei Individuen ist selten, aber in Gruppen, Nationen und Epochen die Regel
Charlton Heston, Nivaldo? Não era o Peter Fonda?
Egeu Laus · Rio de Janeiro, RJ 17/5/2007 01:26Charlton Heston mesmo, Egeu - certeza absoluta. Abração.
Nivaldo Lemos · Rio de Janeiro, RJ 17/5/2007 11:09
Realmente, Spirito. Ainda que ficção, é algo provável em nosso futuro. Ou agimos agora, ou isso tudo será realidade em 2185.
abcs
Pois é. O pior é que, ao que parece, já não há mais tempo para evitar, pelo menos, algumas destas previsões.
Abs,
Vc leu a materia do Acarajé plastificado? Entao. as mudanças se fazem num ritimo tão frenético q ja sinto saudade do cafezinho, do sonho com doce de leite, da dobradinha e do torresmo e de ouvir musica de raiz, folk, naum caipira.
Caramba, veja se dá um tilte aeh e escreve um livro: " Lembranças de 2185" ou 2185, 15 horas... o dia em que morri.... sei lá....
mas escreve uma ficção verdadeira, rsrsrsrsr..... novo estilo.... ficção real, rsrsrsrs.... abraços
agora, lendo os comentarios, observo q todo mundo tem uma preocupaçao de: façamos alguma coisa agora p naum chegarmos em 2185 com tudo isto. Bobagem.... nada muda o q esta escrito nas estrelas... sao como efeitos colaterais do avanço q vemos hoje. naum há o q fazer... O melhor q temos e beber leite morninho, ouvir batuques e folk, sorrir e fechar os olhos, agaurdando o airtrains... Vc pode fazer algo, a nao ser um bom texto como este e uma musica boa e e eu?! Talvez um filme, um video, um documentario.... e isso vai mudar o q? O declinio, o caos... tudo esta previsto... e entre um e outro eu tenho um tempo, um hiato, chamado vida ou sobrevivencia. Te vejo no zooline, amigo!
Nic NIlson · Campinas, SP 7/8/2008 09:53
Nic,
Nada disso. Menos...menos. Na verdade tudo é o caos, impossÃvel prever. O ior é quando a gente descobre que o passado que a gente sabia, era mentira.
Grande abraço
Put... Q... Par...!
A merda toda, é que eu só tenho esses dois olhos - e eles não podem ir além do que está à minha tela...
Spirito: um dos mais expressivos e inteligentes textos que eu jamais li. Que passeio!
Caralh...!
Put... Q... Par...!
Impressionante! - é isso mesmo?
- Ou é Ufologia intelectual, só porque eu tenho dois olhos?
Extraterrestre!
Valeu, Benny!
Você reparou - pode ser impressão minha - mas, de um ano pra cá, que é o tempo do texto, alumas coisas já ameaçam se concretizar?
Put...Q...Par...! Digo eu.
Grande abraço
O senhor tem autorização do autor para usar essas imagens?
Marcos Pontes · Eunápolis, BA 22/11/2008 19:18
Pontes,
Ué?!Claro. Dá uma ralada pesquisando no CC que você confirma. Ah e...senhor está no céu, tá?
Aviso: Devem faltar quase umas 100 colaborações minhas para você checar. Em muitas as fotos são minhas mesmo. Passa o mouse nas fotos, cara. O crédito aparece e você economiza tempo.
Lindo.
Profético.
Perturbador.
Não seria você mesmo falando com teu "eu" passado?
É Zé. Até que não seria mal não. Se bem que deve rolar sim. Não dizem que o tempo é relativo? Meu 'eu' passado bem que pode ser, na verdade o meu 'eu' futuro, certo?
Abs
Estava em uma busca de textos e filmes futuristas, acabei parando aqui, assim que terminei a leitura corri para assistir novamente "Soylent Green" de 1973, com Charlton Heston, que faz o agente policial Thorn.
Há uma cena que sempre me incomodada, é quando o velho Sol Roth, interpretado por Edward Robinson, chora ao ver um pedaço de carne de vaca, que foi confiscado pelo policial Thorn, em outro momento, o mesmo se delicia ao saborear um pedaço de folha de alface ou aipo.
Este filme causou certo alvoroço à época, ao provocar reflexões sobre o destino da humanidade. Se analisarmos a estética, é quase um trash, mas é um clássico do seu gênero. Tanto esta história que se passa em 2020, como o seu 2185, trazem mensagens super atuais.
Se não tem mais jeito, vou aproveitar o leitinho morno enquanto é possÃvel.
Oops, somente agora lendo os comentários percebi uma referencia a Soylent Green, afirmo que este comentário não é plágio.
Almirante Ãguia · Itaberaba, BA 23/7/2010 01:18
Estranho! Mandei resposta para o post do gentil amigo e o post sumiu. Recebi msg de post novo e chego aquinada de novo (exceto que o post resposta que fiz desapareceu)
Bem...Fazer o que? Deixa quieto
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