A capoeira é tudo que a boca come

Gustavo Serrate
Grupo N´Zambi de capoeira angola, localizado na 403 norte em Brasília
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Jornalista81 · Brasília, DF
6/4/2008 · 175 · 5
 

Rodas abertas à visitação para quem quiser conhecer a tradição e filosofia da capoeira angola

O núcleo brasiliense do grupo N´Zambi de Capoeira Angola tem rodas abertas à visitação do público nas sextas-feiras e domingos, alternadamente, o espaço é disponível para quem quiser conhecer e entender este estilo de capoeira pouco difundida no Distrito Federal, com filosofia e tradição diferentes da capoeira regional. O grupo N´Zambi nasceu e ainda tem sua sede principal em Porto Alegre (RS), foi fundado pela maranhense Elma Silva Weba, o núcleo Brasiliense já tem 5 anos de plena atividade no Distrito Federal.
Uma característica da capoeira angola é a busca da preservação das tradições que remetem à época em que era jogada por escravos como forma de libertação e proteção. A separação dos estilos entre angola e regional ocorreu na Bahia quando o Mestre Bimba (1899-1974) incorporou movimentos de outras lutas à capoeira e criou um método de ensino. O mestre Pastinha (1889-1981), considerado o pai da capoeira angola, e não só um praticante, mas um pensador do esporte, criou a capoeira angola para preservar o jogo tradicional.

Elma Weba, fundadora do N´Zambi, tornou-se mestra angoleira sob tutoria do mestre Patinho, de São Luís (MA), da linhagem do mestre Canjiquinha. Foi a primeira e única mulher Maranhense a se tornar mestra e uma das poucas brasileiras de posto tão elevado dentro da capoeira. A trajetória da mestra Elma, para adquirir tanto renome no esporte, sustenta a política do grupo N´Zambi, de defender a igualdade social entre os gêneros feminino e masculino. Para Luana Reis dos Santos, uma das responsáveis pela coordenação do Núcleo Brasiliense do grupo, “a mulher está conquistando seu espaço na capoeira angola, assim como na sociedade. Não queremos pegar o espaço de ninguém, mas como mulher, eu não quero uma separação entre o masculino e o femininoâ€.

Luana treina capoeira há 4 anos e meio. Começou quando foi chamada por Guilherme Salviano (Sal), que também é responsável pelo núcleo brasiliense do N´Zinga. “Na minha visãoâ€, diz Luane, “a capoeira angola é muito completa e não é combativa como a capoeira regional. Buscamos o jogo, a teatralidade, a música, a brincadeira, a mandinga e a malandragem de fazer o outro angoleiro errar e vencê-lo em cima de seu próprio erro. Jogando capoeira eu estou inserida na cultura popular e em um grupo, trabalho meu corpo e minha espiritualidadeâ€.

O grupo N´Zambi desenvolve uma série de projetos sociais no Distrito Federal e no entorno. O cine Zambi acontece uma vez por mês, é uma mostra de vídeos de cultura popular, capoeira entre outros assuntos; após a exibição dos vídeos são realizados debates. Outra atividade social é o grupo Fuxicaria, uma iniciativa do N´Zambi, criado em 2005, sob atual coordenação e assessoria da artista plástica Mariana Venturim, neste projeto um grupo de artesãs do P. Norte trabalham com o fuxico (trabalho feito com retalhos de tecido), crochê e costura. De acordo com Mariana “é um trabalho que serve para a realização das mulheres, divulga a criatividade da arte brasileira e contribui para a renda dessas mulheres. Os trabalhos são vendidos no Balaio Café e são aceitas encomendasâ€.

“O bom da capoeira é que ela pode gerar uma série de outras coisas, é um meio de inserção de pessoasâ€, diz Luane. O espírito e a tradição da capoeira são mantidos graças ao legado e tradição preservados pelo Mestre Pastinha, que diria, “capoeira é muito mais do que uma luta, capoeira é ritmo, é música, é malandragem, é poesia, é um jogo, é religião. (...)A capoeira é tudo que a boca comeâ€.

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clara arruda
 

Não compreendo o porque dos blogs serem tão pouco visitados.Adorei a matéria.isso é cultura.

clara arruda · Rio de Janeiro, RJ 5/4/2008 18:12
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Andre Pessego
 

Legal,
Muito boa esta descrição das duas modalidades com o exemplo e citação de alaguns praticantes com o tempo de atividade de cada um. Leal mesmo.
um abraço, andre.

Andre Pessego · São Paulo, SP 5/4/2008 22:29
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Kais Ismail
 

O mestre Patinho de São Luis, o conheci de uma forma inusitada, em um bar que eu administrava na praia de São Marcos em SL.
Eu estava muito indignado com o retorno de algumas pessoas ao bar, pq não haviam se comportado bem dias antes. O mestre Patinho estava com elas e fez menção em se manifestar na cadeira que estava sentado, e eu ainda na fúria, ameacei-lhe asperamente que não se metesse na conversar pois iria sobrar pra ele tb. Os indesejados foram embora e mestre Patinho ficou, havia ficado admirado com a minha coragem em enfrentá-lo, que nada mais era que ignorância. Quando que eu ía saber que aquele homem pequeno e franzino, loiro, de bigodinho, calça branca de sambista, já havia derrubado muitos homens grandes? Que era um dos grandes mestres da capoeira do Maranhão? Que ele já havia posto pra dormir 5 leões de chácara ao mesmo tempo em uma briga?
Mestre Patinho se tornou meu amigo e cliente do meu bar, e tive o prazer de ver algumas performaces que ele fazia depois de tomar umas. Mesmo com um trago na cabeça, ele era muito rápido. Gostava de fazer a capoeira que imitava o movimento do macaco. Se movimentava igual a um macaco!
Fiquei contente por esta matéria me trazer preciosas lembranças.
Parabéns!

Kais Ismail · Porto Alegre, RS 6/4/2008 16:56
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Felipe Obrer
 

Oi, Jornalista 81. Bom ver a capoeira angola em evidência por aqui...
É interessante também publicar uma dica sobre o grupo no Guia do site. Deixo a sugestão anotada.

Abraço,
Obrer

Felipe Obrer · Florianópolis, SC 6/4/2008 16:56
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Jornalista81
 

Galera, gostaria de fazer uma errata sobre essa matéria, infelizmente não é mais possível corrigi-la através do overmundo, então a única maneira é adicionar essa nota:

1. Guilherme Salviano não é do Grupo N´Zinga, e sim do grupo N´Zambi.

2. Apesar de chamar capoeira de esporte, a capoeira é mais do que isso, ela transcende o esporte. A capoeira é uma dança, uma luta, uma brincadeira, a capoeira é religião, á a vida, é tudo que a boca come.

3. Não tenho intenção, com esse texto, de definir ou de delimitar a capoeira, a intenção única é de expor esse estilo de capoeira que é menos conhecido, pelo menos aqui em Brasília, e espero que esse objetivo do texto seja atingido, que é o mais importante.

Por enquanto é só.
Abraços

Jornalista81 · Brasília, DF 12/4/2008 20:42
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