Quem assiste à pequena menina de vestido branco que, silenciosamente, gira por segundos sobre um gramado de intenso verde, percebe a suavidade e leveza da ação. A arte de Bárbara Rodrigues pede instantes de suspensão para o deleite do espectador em sua exposição intitulada ‘projeto para dias perfeitos’.
No vÃdeo ‘PecÃolo’, de 2008, a artista realiza a brincadeira infantil de dar voltas até sentir-se sem equilÃbrio, enquanto a câmera gira em torno dela, apresentando uma dupla rotação. Um ato vertiginoso, porém um tanto prazeroso.
Mas o que seria a vertigem? O medo de cair?
Nesta exposição, vertigem não é o medo de cair. É outra coisa. É o desvario que nos acompanha, nos atrai e nos envolve, é o desejo da queda. Bárbara nos oferece a vertigem diária necessária para nos sentirmos humanos, vivos e pulsantes... como o assovio delicado que é a única trilha sonora possÃvel para o encontro com o outro em suas ‘rotações pessoais e alheias’.
O caminho nos vai transformando, as caracterÃsticas dos lugares, alguns mais próximos afetivamente que outros e assim Bárbara inicia um processo de investigação de nuvens, numa tentativa de estar mais próxima delas. Sentir as donas do nosso tempo tão próximas e tão distantes. O olhar para o céu, que geralmente realizamos sem deter-nos por mais que segundos, nos desenhos de Bárbara Rodrigues serve de passagem para uma leitura em trânsito fora de nosso cotidiano e de todas as vinculações existentes com a vida numa metrópole e tudo que esse fator pode gerar. Há possibilidades de se ver além, seja o que existe dentro de nós, seja o que fora se propaga.
Na série de desenhos/gravuras ‘projetos para dias perfeitos’, de 2008, a artista nos apresenta nuvens assim como a realidade: diversas formas que variam dependendo essencialmente da natureza, dimensões, número e distribuição das partÃculas que as constituem e das correntes dos ventos que as levam de um lado ao outro. Na delicadeza do papel vegetal, a forma e a cor das nuvens dependem da intensidade do movimento do risco das leves mãos da artista e da cor da luz que reflete no céu da cidade de Recife. Com isso, Barbara torna os dias perfeitos na presença e na ausência de nuvens ou até mesmo quando chegam anunciando tempestades.
Perto das nuvens da artista nos tornamos seres pequenos, mas não incapazes de encontrar a leveza constante. As nuvens nos trazem sentidos, tudo repousa. Suspensos, entregues, sem nenhum pé no chão, flutuando. Agora olhamos para baixo, abrimos os olhos e pisamos nas nuvens. Nosso caminhar é confiante, tal qual a trajetória dessa ‘menina mulher’ que deseja dias azuis para que possamos sentir a vertigem que é olhar o céu e ver as nuvens passando, se transformando. Os pés já não buscam solidez. Não há medo de cair já que o chão é inexistente. A queda só dói quando há chão. Queda sem chão tem outro nome e nos dias perfeitos de Bárbara Rodrigues, chamamos de vôo. Giramos, giramos, giramos e de repente nos descobrimos voando.
Acabo de abrir uma janela e ver que as nuvens dormem quietas sem perceber que o vento as modela bem lentamente. Não há tempo para um sonho prolongado. E os sonhos não se prolongam quando chegam na melhor parte, ainda mais para estas meninas nuvens que se dissipam levando leves sonhos consigo.
Nuvens estão no céu a todo tempo se formando, sonhando novos sonhos, caminhando por outros lugares. Bárbara Rodrigues nos diz que o movimento das nuvens se seguirá, ‘crescendo de manchinhas a tempestades’. Acredito nela. Afinal, ela está mais próxima das nuvens do que eu. Ela consegue pegar as nuvens com as mãos.
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Marcus VinÃcius é doutorando em Arte Contemporânea Latinoamericana pela Facultad de Bellas Artes da Universidad Nacional de La Plata, na Argentina.
Marcus, seu texto é tão lindo e poético que dá uma vontade enorme de correr pra janela e olhar nuvens. Mas também de ver o trabalho da Bárbara. Não tem um site com o vÃdeo? Ela não poderia postar o vÃdeo aqui no banco de cultura? Seria uma contribuição e tanto!
abraços
Obrigado Nic Nilson e Cláudia!
O trabalho da Barbara Rodrigues é tão encantador que quando o vejo, me sinto realmente flutuando. É tão sensÃvel, tão pequeno, tão especial...
A artista, intencionalmente ou não, deixa quem observa a tua obra em estado de suspensão, de leveza. Talvez, nesta exposição especifamente, por mostrar que o mundo pode ser perfeito da maneira que o desejamos num simples gesto de olhar para o alto e ver as nuvens voaram lentamente...
Inclui no textos os devidos links para que os trabalhos sejam visualizados na página da Barbara, onde também pode ser visto o video PecÃolo.
Carinho,
Marcus VinÃcius.
Arte...
Sempre arte!
Merece respeito e aplauso!
Abraços.
Lailton Araújo
lindo! gosto dos temas, das idéias visuais dela e do seu texto também.
já estou lá voando pelo site..
(:
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