"Todo espaço mal utilizado será roubado": essa frase não é deles, mas é assim que os dois artistas que integram o Coletivo Poro definem a sua polÃtica em relação ao espaço urbano. "Achamos que todos os espaços podem ser utilizados de modo crÃtico ou poético. Gostamos muito dessa frase que lemos uma vez em uma ação. Eles (o outro grupo que fez a intervenção) abriam aquelas caixas de luz dos pontos de ônibus, roubavam as propagandas e no lugar colocavam radiografias juntamente com essa frase", explicam logo.
Por “mal†entenda todo o lixo que consome a cidade de diversas maneiras: que a torna sem cor, monótona, sem relevo. Por “roubado†entenda ocupado de maneira criativa. O coletivo, formado pela dupla de artistas Marcelo Terça-Nada! e BrÃgida Campbell, desenvolve um trabalho que está mais para artes plásticas do que street art. Na verdade, ocupam um espaço entre essas duas linguagens. Talvez artes plásticas de rua? O fato é que o Poro costuma usar esse suporte (a rua) de uma maneira ou de outra nas suas intervenções e obras. A cidade constantemente em obra.
Sem dúvida, esse é um tema bastante em voga hoje. O graffiti talvez nunca tenha sido tão valorizado, reconhecido e comentado, enquanto os stickers e stencils se consolidam como arte engajada. Como evitar a banalização então, num espaço já tão disputado pela publicidade, sinalizações públicas? “A maioria das coisas que estão presentes nas ruas são desinteressantes e muitas vezes despreocupadas com a própria mensagem que elas veiculam, com um discurso esvaziado e que só ajuda a poluir e sujar ainda mais a cidade (incluindo aqui muitos trabalhos de street art)â€, afirma o Poro.
Para eles, intervir é interromper o cotidiano da cidade, desconstruir a rotina.“Tentamos agir dentro de espaços de sutilezas, em contrapartida à brutalidade e falta de cor a que as cidades estão submetidasâ€. Como eles próprios definem, a atuação do grupo acontece de maneira “silenciosaâ€. As ações acontecem nos detalhes, nas pequenas coisas. Não há nenhum choque ou impacto forte, agir assim seria repetir os mesmos métodos da publicidade. Muitas das intervenções talvez não sejam vistas, talvez as pessoas não percebam nada de diferente. Nem todos vão perceber, nem todos irão entender: não tem problema, não há nada a venda. A efemeridade faz parte do trabalho.
Anti-publicidade
Existe um forte questionamento hoje do espaço que a publicidade ocupa em nossa vida, de uma maneira geral. A quantidade de propaganda que nos atinge diariamente. Por que não questionar isso utilizando das mesmas armas, ferramentas e materiais? Foi esse o caso de uma das ações mais conhecidas do grupo. O Poro distribuiu no centro de Belo Horizonte santinhos com os dizeres “propaganda polÃtica dá lucro†oferecendo o “curso profissionalizante cara-de-pauâ€. O santinho, um ataque irônico e direto ao marketing polÃtico, foi distribuÃdo no centro da cidade e em outros locais públicos. Outra ação que questionou a influência da publicidade na sociedade atual foi a “Arranque a etiqueta da sua roupaâ€. O grupo disponibilizou tesouras em certos locais para que as pessoas pudessem se livrar desses restos de propaganda que carregam inconscientemente com elas.
A crÃtica polÃtica é também um dos assuntos presentes em seus trabalhos. Em 2002, o grupo resgatou uma idéia executada pelo artista Cildo Meireles, na década de 70. O grupo criou um carimbo com a tradução e interpretação própria para a sigla FMI: “Fome e Miséria Internacionalâ€. O processo foi simples: carimbar as cédulas de dinheiro e devolve-las à circulação. (O trabalho original, de Meireles, carimbava a frase “Quem matou Herzog?â€, em referência ao jornalista torturado e assassinado pela ditadura.)
“Nas mais variadas situações e lugares fizemos seções de carimbagem. E era só perguntar: 'Você tem uma nota para carimbar?'. Após carimbar a primeira nota, vinha outra pessoa querendo também. E de repente uma mesa de bar, ou uma roda de amigos na universidade virava uma grande euforia de pessoas querendo carimbar suas notasâ€. No mecanismo de circulação foi inserida uma idéia, que questiona a própria lógica do mecanismo.
Oi Sérgio, gostei do texto (te mandei vários comentários por email). Esperamos que o pessoal que faz graffiti, sticker e stencil de qualidade não nos leve a mal pelo trecho de nossa fala que você escolheu para colocar no texto.
Grande abraço,
Marcelo
E claro... obrigado pelo espaço de divulgação para o trabalho do Poro!
Marcelo Terça-Nada! · Belo Horizonte, MG 21/7/2006 09:49
Oi Marcelo. Gostei das sugestões e já fiz as alterações. Valeu!
Em relação ao graffiti, sticker e stencil, eu acho que é uma discussão bacana de ser feita e espero que reverbere quando a matéria for ao ar. Sou da opinião que a street art tem que ser feita de uma maneira consciente, porque senão acaba sendo mais uma poluição nas ruas. Acho que o espaço público taà pra ser usado de maneira interessante e criativa.
oi Marcelo, acho que a declaração é pertinente. Não adianta um grafiteiro 'pixar' a cidade de um jeito mais bonitinho e achar que aquilo não está poluindo. Acredito no engajamento da street art, e só assim ela irá ganhar o devido respeito. Parabéns pela iniciativa.
Yuno Silva · Natal, RN 23/7/2006 11:44eu mesmo tive algumas notas carimbadas .. excelente artigo, gostaria de saber se 'o vigia' também é trabalho do grupo Poro .
victorb · Belo Horizonte, MG 23/7/2006 19:03
Essa idéia de ironizar a propaganda polÃtica foi muito boa, parabéns!
Já a questão de arrancar a etiqueta da roupa acho bem discutÃvel, penso que serve muito mais como uma forma de chamar a atenção, pois quase ninguém carrega propaganda inconscientemente. É bastante consciente, eu diria.
Oi victor, esse trabalho "o vigia" não é do Poro. Conte aà para gente um pouco como ele é. Fiquei curioso.
Eduardo, o lance do "Arranque a etiqueta" é justamente para levantar a discussão sobre a presença das marcas. As vezes em que colocamos a proposta e uma tesoura disponÃveis, muita gente aderiu...
Você já tentou comprar roupa/mochila/tênis sem uma logo estampada? Sabe quanto custa um artigo desses antes das grifes colocarem as etiquetas? Escrevi um pouco sobre isso no artigo "Poro - Intervenções por uma cidade sensÃvel", se ficar afim de dar uma olhada, é só clicar aqui
Ainda sobre as grifes, uma vez um grupo gringo fez o levantamento de quanto custava a uma marca fazer propaganda em cada meio de comunicação. Aà eles criaram uma tabela de preços de quanto custaria "fazer propaganda" nas roupas/mochila/tênis que usavam. Então fizeram a conta de quanto as marcas deveriam pagar a eles e foram nas empresas cobrar essa grana, por "servirem" de outdoor ambulante... claro que eles não receberam nada, mas deu a maior discussão... mas diga mais sobre o que você acha...
Outra grande pedida sobre o assunto é o livro "No Logo" da Naomi Klein...
abraços,
marcelo
O livro "No logo" mais tarde se desdobrou num site: www.nologo.org
E tem o Adbusters também, conhece? Vale dar uma boa olhada: www.adbusters.org
abraços,
marcelo
http://virgulaimagem.redezero.org/
Lendo o comentário do Marcelo e o texto do Sérgio, lembrei imediatamente de um poema que adoro Eu, etiqueta, do Drummond. "Eu é que mimosamente pago para anunciar, para vender (...) e bem à vista exibo essa etiqueta global, que desiste de ser veste e sandália de uma essência tão viva, independente, que moda ou suborno algum a compromete"
Tati Magalhães · Maceió, AL 24/7/2006 13:07
Marcelo,
Creio que faltou dizer que me referia a pessoas que compram roupas por estética e não por necessidade de cobrir o corpo, digamos assim. Até porque quem compra roupa da Vide-bula definitivamente não está precisando apenas cobrir o corpo...
E mais: acho que ao invés de R$ 100, a Vide-Bula deveria cobrar R$ 1.000 por esse vestido. E quem decidir comprar dificilmente vai cortar a etiqueta. Heh.
Mas o que importa é que a iniciativa é muito legal, mesmo.
Abraço!
Opa, eu gostei da matéria. E dos comentários da galera aÃ.
O Vigia é um trampo do grande Xerel, que é um dos mais antigos baluartes da arte urbana em ação aqui no Curral del Rey...
E deixo minha mensagem overmúndica; "Pois então povo desacreditado na mÃdia, uni-vos e sejam a mÃdia!"
tudo muito interessante, inclusive os didáticos comentários.
a ação de distribuir santinhos então...oportuna. essa, aliás, é uma discussão onde cabe pontuações quanto as (pequenas) alterações na legislação eleitoral no que se refere à poluição das ruas (visual, sonora, fÃsica...)
ações cruzadas
Em relacao a propaganda politica, parece que esse ano está tendo um policiamento maior. Na verdade, acho que as pessoas têm se preocupado mais com a conservação da cidade nos últimos anos, de uma maneira geral. Em muitas cidades do interior que estão em pleno desenvolvimento e ainda dá tempo de mudar as coisas (o que é muito mais complicado numa cidade já construÃda como BH) está ocorrendo todo um planejamento urbano e visual da cidade, um tipo de consciência (até mesmo polÃtica) que não tinha há alguns anos atrás.
Sergio Rosa · Belo Horizonte, MG 27/7/2006 12:09
Legal este espaço para debates e criticas, construtivas eu espero. Interesante a proposta do coletivo (?) Poro de reapropriação de espaços publicos. Dificil é acreditar em uma "utilização critica". Sua "anti-publicidade" se revela em sintonia perfeita com o "establishment" cultural onde subversão é a nova palavra de ordem para fazer parte do mainstream artistico.
Agora mesmo, gaban-se de ter 2 vaquinhas na midiática cowparade. E Viva a sociedade do espetáculo!
Marcus, espetáculo mesmo é vc escrever “gabam-se†com "N" e “interessante†com apenas um "S". Feio demais!
Mas isso a parte, pelo que foi discutido aqui e pelo que está no site do Poro, a única pessoa que está (pre)ocupada com mainstream artÃstico por aqui é vc.
Os caras estão na estrada há um tempão, o trabalho deles é massa. Você não tem nenhum lugar melhor para ficar jogando pedra não?
pessoal: seria bom evitar que essa conversa vire uma briga, ou troca de provocações, coisa tão comum em outros sites, mas que estamos conseguindo evitar com brilhantismo aqui no Overmundo - pegando o lado positivo, o marcusvc coloca uma questão importante para a arte contemporânea: há alguma maneira de escapar da tal sociedade do espetáculo, que tem aparentemente capacidade espantosa de digerir todas as crÃticas?
Hermano Vianna · Rio de Janeiro, RJ 8/8/2006 16:34
Oi Hermano, Mari, Marcus e pessoal,
Gostei da chamada do Hermano, pois esse espaço aqui não é para ficar pegando no pé de ninguém por que a pessoa digitou errado ou para ficar "jogando pedras". Temos de aproveitar o que o Overmundo tem de mais legal: ser um espaço aberto para idéias circularem (seja via colaborações, seja via comentários construtivos). Vejam que é sempre mais fácil (e simplório) "criticar por criticar" do que apresentar propostas ou realizar coisas.
Voltando a questão colocada pelo Hermano: não sei se a melhor estratégia é tentar escapar, mas talvez criar modos de atuação que mantenham autonomia de pensamento e ação. Aà incluindo a possibilidade de atuar dentro da sociedade do espetáculo, se isso for viabilizar projetos e se não for ferir seus princÃpios. Dois casos que ilustram o que estou tentando colocar aqui:
1. O exemplo do Moby, que faturou milhões compondo músicas para publicidade da indústria de carros e com a grana financiou grupos e campanhas ativistas.
2. O outro exemplo é bem mais próximo da nossa realidade. É o caso do EIA – Experimento de Imersão Ambiental que é um “salão†de intervenções urbanas realizado de forma independente em São Paulo (criado com inspiração no Salão de Maio realizado pelo GIA em Salvador). O pessoal do EIA realizou duas edições do seu “salãoâ€, depois foram convidados a org
(continuando pois não coube aà em cima...)
O pessoal do EIA realizou duas edições do seu “salãoâ€, depois foram convidados a organizar um evento dentro do Virada cultural de São Paulo (dentro de um evento enorme). O que eles fizeram? Criaram um espaço para inúmeras apresentações de videoativismo, performance e intervenção dentro do Virada Cultural e com a grana que receberam ainda vão viabilizar o DVD de registros das duas primeiras edições do “salão†EIA. Abriram espaço e ainda viabilizaram a circulação dos trabalhos participantes do “salãoâ€.
Existem vários exemplos de pessoas e grupos que atuam de forma independente e que, em determinada situação, atuam dentro da sociedade do espetáculo de maneira inteligente e criativa.
Gostaria de fazer um esclarecimento sobre o cowparade: o evento das vaquinhas aglutina uma galera variadÃssima, de artista-de-feira à estilista. É muito natural que pessoal que faz trabalhos de arte na rua em BH também esteja participando, como é o caso do Pão com Durex, do Popstencil e do Poro. No Cowparade vc só vai encontrar um ou dois artistas de “renomeâ€, pois a maioria desses circula em outros circuitos. Mainstream artÃstico está em grandes salões de arte (Salão da Bahia, Salão Victor Meirelles, Fiat Mostra Brasil), Bienais Internacionais ou grandes premiações como
(continuando mais um pouquinho...)
ou grandes premiações como o Prêmio Marcantonio Villaça (eventos muuuuito maiores que o Cowparade). Ainda assim, vc vai encontrar nesses eventos pessoas que conseguem realizar trabalhos artÃsticos muito bons e extremamente crÃticos, como o trabalho do Cildo Meireles na Documenta de Kassel.
Desculpem o comentário enorme, mas queria muito colocar essas coisas. ;)
Abraços,
Marcelo
http://virgulaimagem.redezero.org/
Olá, pessoal,
O Marcelo me mandou o link dessa matéria e eu achei que seria interessante contribuir com algumas reflexões sobre a discussão aqui encaminhada. Legal o texto do Poro, até porque considero o grupo um dos mais inteligentes e instigantes dessa nova geração de artistas e coletivos brasileiros. O que eu gostaria de complementar refere-se a pelo menos dois aspectos aqui tratados: um possÃvel “escape†da sociedade do espetáculo e idéias sobre algumas iniciativas culturais e artÃsticas independentes.
O Marcelo citou o exemplo do Moby. Lembrei também de um caso da banda inglesa anarcopunk Chumbawamba. O Chumbawamba sempre trilhou pelos caminhos do punk rock e, inesperadamente, pelo pop e pela dance music. Em 1997, depois de anos no underground, a banda assinou cm uma grande gravadora e lançou uma música, "Tubthumping ", que vendeu milhões. É claro que muita gente ficou interessada no hit, então o Chumbawamba vendeu os direitos para um comercial (o qual eu não me lembro no momento). Com a grana, a banda doou todo o dinheiro pro site do indymedia da Inglaterra. Dei este exemplo porque acho que, em alguns casos, é possÃvel apropriar-se (ao invés de não se apropriado) pelo mainstream e assim tirar proveito. Na esfera das artes visuais, EIA e Salão de Maio são duas incitativas excelentes e que merecem todo o apoio para que continuem. É nisso que eu acredito; se existem cole
Continuando....
É nisso que eu acredito; se existem coletivos, redes colaborativas entre artistas, porque não ajuntar forças e constituir espaços temporários de reflexão e conhecimento? É isso que deve ser feito e é claro que as instituições estão de olho nesses artistas, apesar da minha desconfiança de que muitas delas nem ao menos sabem dos contextos que esses grupos estão tratando. No capitalismo cultural, é natural que as instituições se interessem por novas formas de subjetividade artÃstica vindas de uma contra/subcultura. Veja o exemplo do graffiti nos anos 80. O Hal Foster dá um exemplo bastante pertinente nesse sentido: até mesmo nas ruas, o graffiti “se tornou seu próprio ritual reificado. Não apenas esses signos ‘vazios’ são preenchidos com o conteúdo da mÃdia, mas alguns são investidos com o valor (econômico) da arte, marcas anônimas se tornaram assinaturas de celebridades. Mais do que circular contra o código, agora o graffiti é estabelecido por ele: é uma forma de acesso a ele, e não uma transgressãoâ€.
E eu acho muito curioso (pra não dizer inevitável ou trágico) ver a forma como as grandes indústrias do capital cultural sem apropriam de uma linguagem urbana em busca de lucro. Recentemente, a Sony contratou gente pra grafitar nas ruas as imagens de garotos andando de skate, sendo o skate um joystick do vÃdeo game playstation.
continuando...
O que é mais interessante nessa publicidade é que você nem vê o nome do videogame grafitado, ou qualquer outra informação sobre o produto. Isso quer dizer que a marca não vende um produto, mas um valor, um estilo de vida, uma percepção que faz o consumidor associar-se à quilo que ela quer que você compre. Claro, aà a gente entra em aspectos muito complicados de “branding†e estratégias de marketing das empresas gerenciando seus produtos a um público alvo. Mas o que eu quero dizer é que essas estratégias de cooptação acontecem o tempo todo. Então o que fazer? Responder de forma semiótica a artÃstica a essas estratégias de consumo, assim como os culture jammers e a adbusters pretendem conduzir? Ok, acho uma manifestação simbólica interessante, mas só isso não basta. Aà acredito que entra o papel do “autor como produtorâ€, ou seja, que os artistas, músicos e produtores culturais reflitam sobre todo um sistema de produção e circulação, que estejam dispostos a criarem “zonas autônomas temporárias†e, principalmente, refletirem sobre os diversos processos de inclusão e exclusão cultural e social. Se é pra usar um termo “da modaâ€, então que a criação de zonas autônomas temporárias seja bem compreendida e compartilhada. Na minha opinião, seja graffiti, intervenção urbana, manifestações de rua, sticker ou qualquer outra forma de trabalho de arte no espaço público é sempre bem-vinda. Toda intervenção propõe uma tomad
continuando.......
Toda intervenção propõe uma tomada de posição; se você intervém na rua é porque você não se sente representado pelos meios oficiais, tampouco, sabe que o nosso espaço de questionamento social diminuiu brutalmente o longo dos anos. Numa sociedade em rede, quem não se adequa ou não está conectado na rede (seja ela virtual e principalmente na rede de relacionamentos efetivos, capitalistas etc), está perdido, é “desplugadoâ€. E acho que é nessa hora que é preciso dar voz aos independentes, à s pessoas e contextos que precisam ser discutidos.
Continuando...
Nesse sentido, fica mais fácil pra mim dar alguns exemplos de iniciativas que participo (não especificamente nas artes visuais, mas em música), mostrando como certas coisas podem ser muito bem realizadas sem qualquer forma de patrocÃnio. Um exemplo é a Verdurada (www.verdurada.org), um evento organizado por mim e por um coletivo em SP há 10 anos e que se constitui como um show com apresentações de bandas punk (e de outros gêneros musicais), apresentação de palestras, vÃdeos de conteúdo polÃtico e artÃstico divergentes. Tudo no esquema “faça-você-mesmoâ€, sem qualquer patrocÃnio de empresas ou divulgação na mÃdia, apenas com divulgação no site e cartaz colado na rua. Com o dinheiro arrecadado, fizemos uma série de projetos em conjunto com grupos e movimentos, tais como: ajuda de uma reforma em ocupação localizada na Avenida 9 de Julho em SP. Ajudamos na reforma da biblioteca comunitária e abertura de um cybercafé; com o MTST, ajudamos a ocupação Anita Garibaldi, em Guarulhos, São Paulo, através de material de construção e alimentos; fizemos o pagamento de parte da impressão do jornal do coletivo anarquista Terra Livre de SP; ajudamos com a edição do livro “Anarquistas Expropriadoresâ€, do coletivo Luta Libertária (SP) e realizamos campanhas sobre vegetarianismo ético. Pra se ter uma idéia, domingo passado fizemos uma edição especial sobre vegetarianismo e conseguimos uma lotação esgotada: 1.200 pessoas num galpão. Pra mim foi um
continuando...
Pra mim foi uma grande surpresa, o coletivo trabalhou em dobro, mas o resultado não poderia ter sido melhor. Acho que nessas horas a gente consegue perceber que fazer as coisas do nosso jeito é sempre muito compensador.
Ufa, Escrevi demais. Vou terminar o texto com um trecho de uma entrevista com Ian Mackaye, da banda Fugazi e dono da gravadora norte-americana Dischord records. Dischord e Fugazi no meio punk são sinônimos de integridade musical, seus discos são distribuÃdos de forma independente e mais barata possÃvel. Esse trecho diz bastante sobre algumas das idéias que eu pretendi passar:
Um aspecto do faça-você-mesmo é que você realmente precisa fazer por si mesmo. É um trabalho! Nós mesmos empresarÃamos, marcamos os shows, montamos o nosso próprio equipamento, fazemos as nossas próprias gravações, nossos próprios preços. Isto é o que fazemos e nos toma tempo. A forma como as pessoas percebem o sistema musical hoje é que você tem que ter todas essas outras pessoas fazendo esse trabalho pra você. Mas isso não é punk rock. Nós viemos de um mundo onde você faz por si mesmo. A razão para fazermos as coisas desse jeito é porque assim é como nos sentimos confortáveis em apresentar nossa música. As pessoas dizem que não é um processo lógico, mas isso é besteira. É totalmente lógico! Eu acho que a razão pela qual nós abordamos a música dessa maneira é que em última instância nós temos o controle completo sobre como nós fazemos nossa músi
fim........
Eu acho que a razão pela qual nós abordamos a música dessa maneira é que em última instância nós temos o controle completo sobre como nós fazemos nossa música e como operamos como uma banda. O processo é uma parte central da arte. Isto é a arte.
abraços e desculpas pelo texto cortado. tô aprendendo a usar isso aqui.
É importante que tenha sido retomado um caminho de discussão respeitosa, acho que só assim ela vai para frente.
Bom, esse tema rende muito (como tá rendendo). As vezes me pergunto se ainda faz sentido ficar pensando nessas separacoes underground x mainstream, o que é vendido ou não, o que consegue manter uma aura intacta, enfim... Se antes essas separacoes já causavam muitas armadilhas, acho que no contexto atual o perigo é ainda maior. Nao eh uma tentativa de esvaziar esse debate, mas de talvez leva-lo para outro ponto de vista, como o André bem explicou acima.
Essa Cow Parade que tá rolando aqui em BH e em outras cidades tem gerado reações interessantes, como essa e essa.
O André citou o exemplo do Chumbawamba. Mas lembro logo de outro exemplo mais conhecido: Sex Pistols. Foi uma jogada fascinante de três amigos situacionistas - Malcolm McLaren, Vivienne Westwood, Jamie Reid, em parceria com Johnny Rotten & cia. (uma boa crônica da jogada, incluindo a comparação com o situacionismo e o dadaÃsmo, pode ser encontrada no Lipstick Traces, do Greil Marcus)-, da qual até hoje vivemos as consequências em todos os campos da cultura contemporânea.
Claro que tenho muito mais coisa para falar sobre este assunto todo e seus mil desdobramentos (os mil platôs...): mas o tempo é curto no momento... Voltarei aqui em breve...
Hermano,
Legal vc ter comentado sobre o lipstick traces do Greil Marcus. Apensar de certas "forçações de barra" em algumas partes do livro, é uma ótima referência!
Interessante fenômeno: 'resistência', 'resistir' etc. não aparecem em nenhum comentário que, pela riqueza, servem como uma boa introdução para (vou colocar o hÃfen) arte-resistência.
Aplausos para o artigo, para o Poro e principalmente para o Overmundo (que agora, vi, é um lugar possÃvel).
uma boa leitura para quem sabe inglês: o verbete da wikipedia sobre o KLF, que contém o bê-á-bá da "resistência" artÃstica hoje, e descreve com detalhes o projeto recente mais radical de uso do "sistema" que eu tive notÃcia
o verbete foi finalista no wikimania awards, premiação da qual tive notÃcia hoje via rss do blog do Lessig
Gente, o Brasil precisa de um livro sobre isso. Acho que tem muita coisa que aconteceu aqui, mas tá fragmentada.
Latente na minha cabeça tá o cearense Yuri Firmeza (que eu li pela primeira vez por aqui, mas não encontrei o link agora).
Alguém poderia traduzir o http://www.sniggle.net/ que eu achei fascinante?
belo debate! finalemente participo do overmundo.
uma inictiva que procura estimular essa questão é o memefest.
http://www.memefest.org/brasil
Além do "No Logo" de Naomi Klein um texto bastante interessante para esta discussão é o Coerção, de Douglas Rushkoff:
http://www.memefest.org/brasil/2005/coercion.htm
Sergio, adorei os trabalhos, principalmente a recriação-remixação do conceito do Cildo Meireles de usar os carimbos para veicular mensagens/palavras de ordem. Quando vocês virão a Sampa? Precisamos disto por aqui!
Fábio Fernandes · São Paulo, SP 3/9/2006 18:49
oi pessoal!
vale a vista destes 2 trabalhos do poro:
http://www.memefest.org/en/index.php?meme=gallery&submeme=preview&work_id=632
http://www.memefest.org/en/index.php?meme=gallery&submeme=preview&work_id=630
abs
paulohartmann
Caro Sérgio Rosa, está para ocorrer em Lisboa um seminário de estudos urbanos e pela primeira vez deparei-me com uma reverso do meu conceito de "espaço vazio". Aqui o paradigma é lidar com o "vazio útil". A mesma coisa, com um outro olhar lançado. A proposta envolve:
1. Flexibilidade: é talvez umas das caracterÃstica mais positivas e úteis do Vazio Urbano: este torna-se “lugar do possÃvel†e da contÃnua mudança de função, no sentido positivo de multiplicidade de eventos.
2. Estrutura: os vazios urbanos formam o esqueleto das cidades. Formam o mapa fÃsico e também o mapa mental do nosso ambiente urbano e com isso da nossa organização colectiva. São, na realidade, os “cheios†da cidade numa visão positiva da sua essência negativa.
3. Efémero: é uma atitude de se apresenta como condição do ser temporário. Normalmente entendido como situação privada de significado, sem interesse, na actualidade torna-se condição para o projecto e elaboração das arquitecturas e dos espaços vazios, enquanto uma das poucas formas de intervir na sociedade de hoje.
4. Contemporâneo: a arquitectura tem de aprender a trabalhar com o Vazio no seu sentido imaterial, ausente, superficial e indeterminado. Trabalhar com o Vazio torna-se o paradigma para a re-qualificação das cidades e dos espaços urbanizados na sua globalidade.
http://seu2007.saau.iscte.pt/#
Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
Você conhece a Revista Overmundo? Baixe já no seu iPad ou em formato PDF -- é grátis!
+conheça agora
No Overmixter você encontra samples, vocais e remixes em licenças livres. Confira os mais votados, ou envie seu próprio remix!