A classe média numa jaula

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Franklin Carvalho · Salvador, BA
13/9/2007 · 6 · 7
 

A classe média numa jaula
De como essa camada da população, criada no cativeiro do consumo, está cada vez mais perdida, moral, ética e politicamente.

Franklin Carvalho*

A classe média, que sempre foi contraditória, acabou, finalmente, sendo vítima fatal da sua própria alienação. Espremida entre pobres e ricos, ela oscilou por muito tempo entre representar e defender os mais pobres e solicitar o extermínio, a prisão e a esterilização dos desprovidos. Sabe que o ideal seria garantir a toda a população o mínimo de realização material, mas, pouco crente nas soluções que professa, pouco crente de tudo, enfim, retorna a propostas apocalípticas de reforço da exclusão, à guisa de garantir a sua própria segurança. Mais do que isso, é estimulada a admitir esse tipo de recurso por uma ideologia que torna o seu posicionamento dúbio. Ela é amiga dos mais pobres, de onde retira seus empregados domésticos e vigilantes, mas também é inimiga, vítima potencial, e precisa manter os miseráveis sob controle, seja pela caridade, seja pela apropriação dos instrumentos políticos, para o seu bem e para o bem dos ricos, que vendem o que ela consome.

Além das travas, portões e guaritas, a classe média patrocina um jogo onde se sabe ladra. Enquanto se diz protetor dos desvalidos, e cobra 20% da sua atuação como advogado, magistrado, dirigente de ONG ou político, o indivíduo da classe média, quando a sós com seus pares, execra e ri dos favelados que jura defender. Não que os pobres não tenham seus defeitos, que são grandes, e muitos deles ocorrem na imitação das classes mais altas, mas a classe média não entende que a hipocrisia do seu discurso começa a ser percebida, o seu papel de formadora de opinião está esgotado e sua fachada de redentora dos mais pobres começa a ruir.

Dou três exemplos: Há deputados de partidos socialistas que têm se notabilizado porque voltam o seu mandato para o tema da defesa do consumidor. Nada de errado nisso, não fosse o caso desses parlamentares terem sido eleitos pelo voto de trabalhadores pobres e se fixarem no preço da conexão banda larga, no estacionamento gratuito em shoppings e em outras demandas típicas da classe média. Crêem que os setores médios, sempre caracterizados como formadores de opinião, garantirão a densidade do seu eleitorado, do eleitorado de esquerda. À margem disso, cada vez mais desprovidos de representação e de todos os seus direitos, os pobres contam apenas com os movimentos sociais de ocupação, como os sem-teto e os sem-terra, e com o populismo como forma de participarem da agenda política.

Outro exemplo é uma lenda urbana que diz que no interior algumas mulheres estão tendo mais filhos para ampliar seu acesso ao programa Bolsa Família. Nada mais inverídico, improvável e preconceituoso poderia ser dito da população pobre. Nenhuma estatística o confirma, nem há relatos confiáveis sobre caso do tipo, e mesmo que alguma coisa assim acontecesse, constaria apenas como exceção. Cada família do sertão, por mais filhos que tenha, sabe deles todos os nomes. A maternidade, a paternidade e o aborto têm regras muito circunstanciais, até mesmo antieconômicas, mas a maior infâmia consiste em se atribuir aos famélicos um gesto descompensado, ou seja, gerar mais uma boca para receber uma mesada.

Mais um preconceito da classe média é argumentar que os mais pobres têm uma ética leniente e sustentam marginais e políticos corruptos. Ora, não foram os formadores de opinião da classe média que historicamente direcionaram o voto dos setores excluídos? Não são o Parlamento e o Estado, como um todo, o espaço para a classe média obter leis vantajosas que garantam o conforto da sua vida de consumidor? Ademais, não são os filhos de classe média que cometem pequenos e grandes crimes, incendeiam índios, espancam domésticas e entorpecem-se na luxúria com o beneplácito das autoridades policiais e judiciais?

O governo populista do presidente Luís Inácio Lula da Silva – populista porque fala direto aos mais pobres, dispensando a intermediação do Parlamento, da imprensa e de outras instâncias de poder da classe média – tem alterado significativamente o quadro de relação entre os setores médios e os mais pobres. Políticas compensatórias como o Bolsa Família, além da diversificação de linhas de crédito, se não parecem muita coisa ao examinarmos o caso de cada família, tem feito circular recursos na economia das periferias, alçando uma camada de pequenos comerciantes – principalmente no ramo de alimentação e construção - a patamares inéditos de lucro. Os pobres não estão com a vida resolvida, mas quem localiza uma lan house num povoado sertanejo percebe que o Brasil mudou. Quem não quiser ver isso, ficará para trás.

E a classe média está sozinha. As suas passeatas “pela paz†para os filhos universitários que sofreram violência não conseguem agregar os desfavorecidos. Os pobres também sabem que não terão reciprocidade quando precisarem da solidariedade dos bairros considerados nobres. Recentemente, moradores de um condomínio em São Paulo atravessaram a rua para derrubar os barracos de uma invasão que começava a ser erguida nas vizinhanças. Disseram que não queriam favela na sua área. É compreensível. Mas é também compreensível que os habitantes do condomínio já não formam opinião do outro lado da rua e só podem contar com muros e grades cada vez mais altas. Os seus filhos estudantes que - se não tivessem morrido num assalto - se formariam em medicina ou direito mas não atenderiam ninguém gratuitamente, nem fariam trabalho voluntário, também não vão fazer falta aos necessitados de tudo.

Ora, não se pede a ninguém que renuncie aos seus hábitos e às suas posses franciscanamente. Mas também é de se levar em consideração, e a classe média repete isso, que a roupa faz o homem. Daí eu me ocupei de anotar alguns comportamentos que bem descrevem o estilo desta camada da população. E notei, principalmente, que é justamente quando um burguês médio resolve parecer diferente que mais se nota a sua pertinência ao grupo.


A classe média sem filtro


Definição: Pessoas que se vendem para poder comprar

Palavra chave: Comprar

A classe média se diferencia dos mais ricos, que têm tudo, porque seus momentos de posse se realizam em situações transitórias. Nos eventos de compras de geladeiras, eletroeletrônicos, prazer sexual, drogas, etc, simula-se uma satisfação ilusória que condena à necessidade de mais e mais compras. Além do que pode comprar, a classe média se contenta com mimos que recebem dos poderosos, trabalhando para eles como jornalistas, advogados, arquitetos e terapeutas, dentre outros.

Estratégia política – Dominar as universidades e os empregos públicos, os partidos de esquerda e de direita, as organizações não-governamentais e as instituições culturais, criando um seleto grupo de formadores de opinião que, em nome da democracia, da liberdade de imprensa e do estado de direito, mantenha excluído esse mesmo povo. O propósito é beneficiar os próprios filhos da classe média. Segundo pensa este setor, os pobres dependem dele para se libertar. Os pobres jamais poderiam atuar como atores em defesa dos seus próprios interesses – sejam eles individuais ou coletivos -, devendo sempre ser representados por ONGs, advogados, locutores de TV, etc. Além de impedir o acesso dos pobres às instituições públicas, é interessante para a classe média manter essa população refém, negando-lhe qualquer via de promoção. Até mesmo o concurso público é uma falácia democrática, convertendo-se em artigo de luxo disputado pelos mesmos que podem pagar. Além disso, representantes dos setores médios na imprensa tentam cassar a aplicação de políticas compensatórias, como o Bolsa Família, a reserva de cotas nas universidades públicas, o financiamento de cursos universitários, etc. A idéia é que os pobres fiquem à mercê do subemprego, principalmente o doméstico, aí inclusos a mão-de-obra infantil e adolescente.

Estratégia sexual – A classe média é caracterizada pela incompetência, ignorância e impotência sexual. O contato com o parceiro está circunscrito no rol das fugazes relações de posse, como ocorre com as compras. O toque é tenso e alienado e muitas vezes a satisfação só é obtida na “aquisição†de alguém das camadas mais populares.

Estratégia Cultural – A classe média é consumidora de bens culturais, nunca produtora, e mesmo como consumidora é autista. Os seus intelectuais, ao se apropriarem dos órgãos estatais de promoção cultural, optam por modelos unilaterais, onde a “população carente†deve assumir um papel passivo, recebendo pacotes prontos de bens culturais. Mesmo quando a programação inclui conteúdos populares e ocorre nos modelos de oficinas e cursos, portanto mais participativos, os professores e monitores são trazidos de fora da comunidade, geralmente de faculdades, para fornecer conteúdo a uma clienetela considerada totalmente ignorante. E, principalmente, o dinheiro fica nas mãos desses estranhos. No que diz respeito ao seu próprio consumo, a classe média prefere manter ambientes de audição exclusivos e excludentes, como conseqüência de seu perfil de classe compradora e insegura. Assim ocorre com a privatização do carnaval e de outras festas – São João, vaquejadas, etc. – em cujas origens, embora houvesse estratificações, era permitida relativa interação.

A universidade – Depois da imprensa, a universidade é o grande avatar da manutenção do status da classe média, na medida em que a posse de diversos privilégios é legitimada com a obtenção de um diploma. Não por acaso, a lei reservou um tipo de prisão especial para criminosos que tenham cumprido cursos universitários. Também é no movimento estudantil das universidades que os filhos da classe média aprimoram sua astúcia política. Ali, eles constroem discursos messiânicos voltados para a população, mas que são corporativos e calcados na sua visão de classe.

Ideologia – Como classe que existe para comprar, a classe média é principalmente orientada pela propaganda veiculada na imprensa, que transforma as famílias em meros núcleos do consumo, à mercê de estímulos. A imprensa colabora na medida em que mantém essa população engajada na defesa de seus interesses mais imediatos, todos relativos ao direito fundamental de comprar e ser atendido. Daí que toda a temática de telejornais e novelas gira em torno das ânsias e frustrações da classe média. É papel da imprensa também manter esse público alienado do nexo entre o consumismo e a inação política, de um lado, e os impactos ambientais e sociais decorrentes. A mídia também atua promovendo uma padronização de um estilo de vida dentro do qual seja possível programar novos produtos.

O erro desse modelo é que ele, como uma monocultura, cria um círculo de pretensa pureza, enquanto deixa a espécie altamente vulnerável a fatores externos. Daí a classe média ser vítima fácil das grandes corporações - os ladrões ricos que patrocinam a imprensa – e do chamado crime comum – os ladrões pobres -, que não pode ser evitado tão facilmente quanto na ficção da mídia. O caso mais típico é o das revistas semanais, que dão a ilusão de que existe um mundo ideal atingível, ilustrado com matérias jornalísticas recheadas de propagandas, bastando excluir o que está errado. “Erradoâ€, considerando sob o ponto de vista dessa estética moralista, seria a pobreza e seus subprodutos: os pobres, os conflitos sociais, a degradação da natureza, os políticos populistas e tudo o mais que deve ser desprezado.

Psicologia – A rigidez da estrutura ideológica que envolve a classe média produziu movimentos de contracultura que só confirmam a tragédia do consumismo. Assim aconteceu com o rock’n roll, com o hippie, com o punk e com outros que, malgrado algumas inovações, geraram ondas de produção maciça de supérfluos e descartáveis. Jovens questionadores, que usam drogas, que são gays ou mulheres contestadoras, buscam uma diferenciação com seus parentes mais tradicionais, “caretasâ€, através da única estratégia que conhecem: o consumo. Consumo de quantidades caras de drogas, de roupas, de acessórios e de outros bens identificados com o movimento ou modismo a que se filiam. Esses pequenos seres tornam-se vítimas da estratégia de consumo que adotam, e acabam mais infelizes que os seus pais e os homens heterossexuais.

Pode-se dizer também que os jovens de classe média pertencem à roupa que utilizam, e findam abandonados conforme essas modas caem em desuso, ficando alienados em relação aos novos discursos do consumo. Tornam-se, então, reféns de revivals ou encontram mecanismos que artificializam uma atualização e uma juventude não mais existente, prática muito percebida no estilo de vida de jornalistas, publicitários, artistas e outros operadores da mídia. Aí se configura o padrão da cultura burguesa, alimentada, como aponta Edgar Morin (Cultura de Massas no Século XX – O Espírito do Tempo), pelo cinema do Século XX, onde o hedonismo juvenil é o novo paradigma, em oposição ao envelhecimento e ao amadurecimento.

Esse tipo de conflito se opera no seio da classe média não só entre faixas etárias, mas nos epicentros de cada movimento, de cada onda, sua negação e desdobramentos. Assim, os jovens da classe média desenvolvem seu contato com a esfera do proibido em círculos que pulsam admitindo e excluindo membros, em rituais de segredos e compartilhamentos (compras e rateio de drogas, automóveis) que tornam as relações efêmeras e direcionadas para objetivos específicos.

Isolamento - Por fim, o comprar, que é o verbo formatador de todas as ações da classe média, deverá opô-la aos novos movimentos que surgem entre os mais pobres. Ali, a aquisição se dá de outras formas, como a imitação, chegando ao ponto da pirataria, a partilha obrigatória e, em último caso, a renúncia em favor dos dependentes. Embora essas trocas também possam se dar entre os que possuam algum dinheiro, o que as caracteriza na pobreza é que lá elas se impõem de forma compulsória.
A pobreza é uma condição compulsória, e dessa condição deriva todas as suas formas de ação. Isso impõe duas éticas diferentes e inconciliáveis entre pobres e os setores médios. Quando um manifestante de classe média solicita o engajamento dos seus iguais ou dos mais pobres, está propondo uma opção. Para a classe média, tudo, até o que ela entende como obrigação – trabalhar, estudar, etc.-, é visto como opção, e aquele que não cumpre com seus deveres tem chances de ser aceito pela família e socialmente ou mesmo se evadir.

Já entre os desprovidos, até o que poderia ser entendido como opção, no campo estritamente pessoal, por exemplo, é tomado como obrigação. A opção por uma religião, pelo casamento, pela droga, pela comida ou pela roupa, mesmo aquela que não se quer, cristaliza estigmas e gera exigências. Ao fim, a representação precisa ser mantida como identificação do sujeito, que estará preso pelo resto da vida ao seu papel de gay, maconheiro, alcoólatra ou o que quer que seja de uma determinada rua de certo bairro periférico. Não mais por opção do indivíduo, mas já por um compromisso irrenunciável.

A pobreza envolve e orienta, e assim define procedimentos políticos novos, como os movimentos dos desprovidos de teto, terra, emprego, etc, e antigos, como o populismo. São estratégias compulsórias para a obtenção de direitos, expressões embasadas na primazia da realidade, cada vez mais afastadas do voluntarismo das ações políticas da classe média.

Franklin Carvalho*
Jornalista – frankroo@hotmail.com

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Cicero de Bethân
 

Opa, camarada, deixa eu te dar uma idéia: bate um espaço ai entre os paragráfos, fica bem melhor a leitura.
Abraço!

Cicero de Bethân · Vitória, ES 12/9/2007 08:42
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Labes, Marcelo
 

Franklin, muito interessante o teu texto. Devo te enviar, por e-mail, textos complementares os mais interessantes. No entanto, quero te convidar a ler o Participe do Overmundo a fim de que encontres o lugar ideal para a tua colaboração - e que tenhas acesso à linha editorial do Overmundo.

Abraço.

Labes, Marcelo · Blumenau, SC 12/9/2007 10:44
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Labes, Marcelo
 

Aqui o link para o Participe.

Labes, Marcelo · Blumenau, SC 12/9/2007 10:55
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Franklin Carvalho
 

oi, labes, reli as recomendações do participe e vou tentar organizar a colaboração. muito obrigado,

franklin

Franklin Carvalho · Salvador, BA 12/9/2007 13:46
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thewretched
 

discordo veementemente do seu discurso, mas defendo o seu direito de exercê-lo. Concordo que muita coisa nesse país mudou para melhor graças a algumas politicas recentes e outras politicas que sao meramente o reflexo de outras politicas de longo prazo e que acabam nao tendo o devido reconhecimento( sempre me incomodou a ideia de partidarismo neste país, que impede que as pessoas trabalhem em prol de um bem comum e acabem cedendo á degladiações sem sentido de 'gangues'), mas a bandeira atual da classe média meu amigo, é justamente levar até as populações mais carentes a educação e as condições de se levantarem dignamente com um padrão de vida aceitável. Apenas a educação é capaz de mudar o quadro de um país em que os representantes do povo tomem decisoes aristocraticas de interesse apenas deles mesmos, como a absolvição de criminosos convictos ; mas não apenas a educação, a classe media tem interesse numa abertura economica e em condições que viabilizem a vida digna das classes menos favorecidas para que assim as pessoas não precisem mais recorrer um dia ao bolsa familia (mesmo que essa politica continue existindo pra sempre como ela deve, por ser uma politica nobre, a idéia é que as pessoas passem a nao precisar mais recorrer a esmolas populistas exatamente por terem meios dignos de se suster, e portanto nao precisarem ser massa de manobra politica)

thewretched · Belo Horizonte, MG 13/9/2007 09:23
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Cicero de Bethân
 

Salve! Será que a ideía da classe média
"é justamente levar até as populações mais carentes a educação e as condições de se levantarem dignamente com um padrão de vida aceitável"? Será? Ou talvez por meio de ações que mais se configurariam como beneficentes a classe média tenta manter os pobres pelo menos dóceis? O fato é que por ser uma classe intermediária na sociedade é incrível a disposição de filantropia da classe média. Por vezes suspeita (também não quero generalizar).
Abraço!

Cicero de Bethân · Vitória, ES 13/9/2007 09:31
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Cicero de Bethân
 

Salve! Será que a ideía da classe média
"é justamente levar até as populações mais carentes a educação e as condições de se levantarem dignamente com um padrão de vida aceitável"? Será? Ou talvez por meio de ações que mais se configurariam como beneficentes a classe média tenta manter os pobres pelo menos dóceis? O fato é que por ser uma classe intermediária na sociedade é incrível a disposição de filantropia da classe média. Por vezes suspeita (também não quero generalizar).
Abraço!

Cicero de Bethân · Vitória, ES 13/9/2007 09:34
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