Ainda ontem eu estava navegando pelo Orkut, matando o tempo ocioso no trabalho e mantendo contato com amigos distantes e nem tão distantes assim, até que vi a frase “fexada para balanço” no perfil de uma universitária de 27 anos, que freqüentou bons colégios, tirava boas notas e enfim... por que diabos ela escrevera uma palavra tão comum e usual assim com “X”, ao invés da forma “oficialmente correta”?!?! Ok! Todos nós somos passíveis de erro na hora de escrever, até mesmo nas mais simples palavras. Não estou aqui para crucificar ninguém, quando eu mesmo erro, também. Proponho uma discussão sobre a evolução da língua.
Nunca houve dúvidas de que o surgimento e a popularização da Internet influenciariam a maneira de nos comunicarmos. E a revolução se deu não apenas no veículo, mas em uma série de elementos, no qual se encontra a linguagem. Pode-se dizer que a Internet mudou a maneira de fazer jornalismo, a maneira de dar aulas, de fazer compras e até mesmo de compor um texto. A rede nos enroscou de tal forma que hoje em dia é impossível imaginar o mundo sem ela. Uma das grandes "soluções" oferecidas pela net (podemos chamá-la assim, com intimidade), os programas de mensagem instantânea deixaram de ser mania e passaram a ser hábito. Hoje é comum que dois vizinhos conversem via "chat", mesmo que morem lado a lado. Além do hábito, há também a facilidade de conversar com alguém do outro lado do mundo numa agilidade absurdamente maior que a carta e com um custo muito mais barato que o telefone. As possibilidades são infinitas e essa familiaridade com a escrita no mundo virtual quebra paradigmas.
Percebe-se que a rapidez na troca de informações pela internet é muito grande. Mesmo que o internauta seja ágil aos teclados, há sempre uma possibilidade e uma necessidade de ser mais prático, mais veloz. Nos chats, observamos que essa eficiência é alcançada com a mudança na forma de escrever as palavras. Também há de se considerar que nossa forma de grafar as palavras nasceu numa época em que nem se cogitava em sonhos a atual realidade, o que serve para analisar a necessidade de sua evolução. Não servem as palavras para facilitarmos nossa comunicação? e se essa "facilidade" dificultar o processo, ao invés de honrar seu nome? Aí se encontra a problemática do assunto: A linguagem utilizada nas "salas de bate-papo" deturpa o português universal, compreendido por quem sabe o idioma? ou ela é apenas uma demonstração de que a evolução de nossa língua se faz necessária e acontece de uma maneira livre, ou seja: cada um cria sua regra e pronto, basta sair apertando as letrinhas das teclas e ir montando os fonemas da maneira que bem convir a cada um?
Minha tendência é acreditar na facilidade, e a padronização me parece ser a maneira mais fácil de se estabelecer códigos para a comunicação. Imagine uma criança aprendendo a escrever: um dia ela aprende a escrever CASA, outro dia KASA, num terceiro KAZA... se ela morar num edifício, coitada... e pior: que tal deixarmos livre a grafia de “sorvete de coco”? Percebeu o problema? Um simples e negligenciado acento gráfico faz diferença. E que diferença! Por isso, acredito que o livre uso do português, ao invés de facilitar, dificulta a comunicação. Mas sou a favor de um uso mais flexível da nossa língua, que acolhe abreviações para dar mais agilidade, que traz a liberdade poética para o texto comum, no intuito de dar ritmo às frases, que descarta o português arcaico em favor da simplicidade para ser mais inteligível.
Tudo bem, reconheço que a questão da escrita em dias de Internet camufla vários problemas. A praticidade e evolução da língua são, muitas vezes, usadas como desculpas de um ensino básico sem qualidade e da preguiça mesmo. A sofisticação e a evolução são as justificativas para assassinarmos a nossa gramática, quando, na verdade, erra-se, muitas vezes, por desconhecimento ou preguiça. Diga-me se o argumento de abreviar ou dar agilidade à comunicação explica o fato de se escrever “fexada” ao invés de “fechada”... Na primeira palavra temos 6 teclas, na segunda temos 7. Ora, que abreviação é essa? Eis a preguiça que prejudica.
O interessante é notar que, com o passar dos anos, as pessoas navegam cada vez mais cedo nesse mar de informações. É claro que a influência da internet e sua linguagem é maior nas mais novas gerações, o que torna a discussão mais pertinente ainda com o passar do tempo. Como vamos lidar com as palavras daqui para frente? Não dá para voltar a escrever “farmácia” com “PH”, muito menos passar a escrever “fechada” com “X”.
Querido Diogo
A Cíntia (CCorrales), uma antropóloga de São Paulo e também "overmana" fez uma matéria maravilhosa sobre o Orkut, um verdadeiro estudo. Clica nela e você verá!
Bjs
Cris
Corrigindo, a Cíntia é socióloga e tem um blog chamado para-choque de Orkut! Vale a pena ver...
bjs
Cris
Valeu Cris, vi o blog e achei muito interessante. Valeu a indicação! Bjo
Diogo Braz · Maceió, AL 23/5/2007 08:57
Como nos disse um overmano debatendo um postado similar, Diogo:
Escrever, escrever,
ler, ler, ler, ler, ler,
aprender, aprender...
em português.
Diogo, te digo... e esta "criatividade" toda está se transformando em hábito... uma pena.
Tati MOTTA · Belo Horizonte, MG 24/5/2007 07:08
Mandou bem,Diogo!
Parabéns!
Cris
Outro dia soube que havia sido lançado um filme em "internetês". Uma professora (doutora em letras) viu e saiu sem entender quase nada.
Geralmente vê-se na norma culta uma maneira de separar culturalmente grupos, diminuir intelectualmente quem dela não faz bom uso. Isso é uma forma de discriminação, quando o aprendizado da gramática passa por diversas outras questões socio-político-econômicas - claro que isso tem pouco a ver com o foco do seu texto, é somente uma outra reflexão.
Concordo muito com sua argumentação. Penso que a evolução da língua se dá de forma ininterrupta, mas o que está havendo é a criação de uma barreira, que, como você diz, só tem a dificultar a comunicação entre gerações, entre pessoas.
Daqui a pouco, se a gente quiser se fazer entender por alguém que não é adepto dos msns da vida, vai ter que contradizer essa prática: só ao vivo.
Parabéns!
Valeu, Tati! Falou tudo e ainda acrescentou uma ótima reflexão! Ah, esse filme deve ser muito interessante. Não sei como alguém ainda não lançou um dicionário de "internetês", né? ou já existe?
Valeu, Cris!
É isso mesmo Adroaldo, acho que no processo de aprendizagem as proporções são essas mesmas. É lendo que a gente vai aprendendo (até rimou)...
Abraço para todos
Ótimo texto meu caro! Minha irmã de 15 anos fala um internetês incompreensível, além disso, a desculpa da contração não cabe, o pessoal por vezes usa uma palavra com mais dígitos em internetês que em português.
Entretanto a língua é uma coisa viva e livre, bicho criado solto, muda mesmo. Os processos estão aí, não são nem certos nem errados, mas pensá-los, como você propõe, é sem dúvida uma boa idéia.
No mais, acho português difícil demais :)
Abraço
Valeu Marcelo! Também acho português complicado, cara! e ainda por cima complicam, com a desculpa de facilitar :) mas enfim...
Legal ver o senhor lá no show :) pena que não viu a eek, né? mas valeu ter ido lá prestigiar o evento! Abração!
Diogo. Muito sério o que você traz à tona... O fenômeno, em si, por se tratar de mecanismo vivo, sobre o qual é difícil estabelecer uma fórmula, não chega a representar possibilidade de colapso, embora mereça, por coerência, compreender, acompanhar e discutir. Mas há algo muito mais “pesado” ocorrendo e você, de certa forma, toca sem aprofundar, ainda, que é a questão para a qual, já no início dos anos 90, eu chamava a atenção de meus pares em Estudos da Linguagem na UFRN, indagando se não era chegada a hora de tratarmos, pensadores e educadores, do impacto que a substituição da arquitetura de base sintagmática, por uma referenciação sintética e condensada de famílias de sentido, agravada pela sobrecarga de decisão simbólica que o verbo “clicar “ passa a concentrar, numa forma similar a de um útero, onde passam a residir os infinitivos de todos os verbos, em todas as Línguas ! Mais: de discutirmos que reflexos poderiam estar sendo operados na modelagem teórica de qualquer ser pensante, quando o modelo de base sintagmática de formação da fala e, portanto, da redação do pensamento, deixa, abruptamente, de fazer a complexa seleção de fonemas, letras, sílabas, palavras, frases, períodos, acentuações, inflexões, pseudo-dialetos, etc., para “estampar” as famílias de sentido com sobrecarga visual, quase que independente da estrutura profunda da Linguagem. Isso tudo, não apenas como conseqüência da introdução da prática universal do Windows, mas primordialmente em função da sistemática formação de uma nova simbologia produzida aos milhaes, a cada novo dia de exercício verbal, muito provavelmente como conseqüência da revolução tecnológica e da necessidade de representação do sentido ordinário das coisas. De qualquer forma, parabéns por despertar esse monstro.
Abraços, Márcio.
Para comentar é preciso estar logado no site. Faa primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
Voc conhece a Revista Overmundo? Baixe j no seu iPad ou em formato PDF -- grtis!
+conhea agora
No Overmixter voc encontra samples, vocais e remixes em licenas livres. Confira os mais votados, ou envie seu prprio remix!