A Festa do Tchibum

Luiz Doroneto
Preparando pro Tchibum
1
Fabrício Muriana · São Paulo, SP
8/6/2007 · 114 · 3
 

A entrada é por um túnel que nos remete a qualquer coisa menos o nosso mundo. Chega a frustrar um pouco adentrar a sala do espetáculo e encontrar exatamente o que se espera: um poço. Mas enfim, ele está lá, escondido no cofre do Centro Cultural Banco do Brasil, feito especialmente para a montagem, com ambiente climatizado e duas atrizes muito bem vestidas de negro para nele caírem. E começa a Festa do Tchibum.

Os semblantes muito semelhantes fazem parecer que há apenas um personagem em cena, apesar da peça contar com elenco de duas pessoas. E tchibum! Levantam as atrizes da água pela primeira vez e dá-lhe coreografia no público. O texto se vale de repetição. Palavras desconexas. Posições circenses dos atores. Tudo bem desarticulado, para dar ainda mais sentido pro Tchibum. E tchibum!

É notável que ali houve um trabalho físico como centro de tudo, antes mesmo da incorporação do texto. Não falo como elogio, falo mais é com inveja mesmo, pois imagino o diálogo entre uma das atrizes e o segurança do CCBB:

- Bom dia
- Bom dia, pra onde a senhora vai?
- Eu vou pro ensaio da peça que vai estrear aqui. Chama "O Poço".
- Ah tá! Por isso a toalha?
- Isso.
- Mas tem peça mesmo ou é só você nadando?
- Não, tem peça mesmo.
- Deve ser difícil, né? Fazer uma peça dentro da água.
- Nada, a gente tá adorando, nossa próxima peça deve chamar ofurô!

Ok, a última linha pode ser um delírio um pouco distante. Mas dá uma invejinha, né? Imagine você podendo montar uma peça em que, além de atuar (convenhamos, algo que está entre as coisas mais deliciosamente humanas do próprio ser humano) você também pode nadar. Tchibum!

E elas foram fundo. Parecem mesmo estar no lugar certo. Quase como anfíbias, vão e vêm de dentro da água. Encontram espaço para sorrir e para sofrer. Mas parecem que ainda não estão no ponto. Tchibum!

Há uma certa convicção ou impostação exagerada nas falas que faz crer que o corpo de ambas ainda não está no personagem. O texto entra meio atravessado nessa história. Mais uma vez senti falta da tecla mute em alguns momentos. Talvez uma edição já resolvesse.

Fica, pelo menos pra mim, a sensação de que uma barreira foi superada. Até mesmo o Centro Cultural Banco do Brasil, cujas ressalvas para o apoio à cultura valeriam outro texto, consegue dar margem para que se construa dentro das suas instalações um espaço realmente alternativo de apresentação. Pra não dizer um meio alternativo. Mas sabe aquele quê? Aquela coisa que te intriga pra além das imagens do espetáculo? Aquilo meio indelével que a gente procura pra cacete e de vez em quando até acha? Pois é, foi isso que faltou. Tchibum!

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Fabrício Muriana
 

Originalmente publicado na Revista Bacante.

Fabrício Muriana · São Paulo, SP 4/6/2007 15:35
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Inagaki
 

Bem, ao menos as fotos ficaram muito boas. Podia rolar uma trilogia: O Poço, O Ofurô e A Hidro.

Inagaki · São Paulo, SP 13/6/2007 14:11
1 pessoa achou útil · sua opinião: subir
Fabrício Muriana
 

Hahaha.
Você tinha que ter comentado isso lá na Bacante. Apareceu um cara que ficou putíssimo com a piada. Particularmente me sinto muito mais à vontade escrevendo com humor, qdo cabe.
Mas enfim, outra piada do sempre atento Inagaki. Abraço.

Fabrício Muriana · São Paulo, SP 13/6/2007 14:15
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