“Vivendo o som virar poemaâ€
uma leitura de A letra do poema, de André Gardel
Nonato Gurgel*
I
Sem aura nem precipÃcios, a letra sonoriza uma trilha para o “Tempo†pretérito que parece gritar no presente poético de André Gardel: "Foi como se o passado gritasse/ do fundo do poço pedindo luz". Como todo os deuses, o passado é eterno, não se pensa mas sabe pedir. Pediu ao poeta outros suportes, cenários, roteiros e atos. Após os Poemas de Nova York (2002), ele serve aos ouvintes e leitores A letra do poema – um banquete sonoro de palavras, formas e epifanias, onde DionÃsio e máquinas de morrer, dentre outros mitos e signos, dialogam sem subordinação.
I I
Uma música sai da página e via corpo adentra o espaço, beija o mundo sentindo quando "...o cheiro de carne/ queimada neblina o ar" ("A ferro"). Ela segue, essa música, o poder escultural da lÃngua – me esculpia com seu discurso (“Bambuâ€) –, e em vários ritmos sinaliza as figurações do poeta no palco. Sinaliza também o tácito roteiro do músico e o "Vôo da cidade", e os ensaios do ator e do ensaÃsta. Esses eus estéticos dialogam com as formas urbanas de um tempo cujo discurso incorpora o desvio da sedução e o cinismo para desembocar no reino dos afetos: "....onde o discurso segue/ o curso das naus/ recurvas..." (“Cemitério Tróiaâ€) na busca da mulher"...Vento que melhora a minha travessia" (“Brindeâ€).
I I I
Uma imagem pousa no ombro antigo do corpo de praia – brasa que alumia e queima em qualquer estação –, entortando o prumo e remarcando a ferro a alma de quem escreve e lê, de quem vê e ouve. Como quem brinda procurando "um parto, um pranto, um crime", lendo na vitalidade do cenário que não pára e no ritmo da respiração que celebra ávida de ar o anúncio da fome que retoma o seu lugar no palco da letra. Viver é gastar a vida ou velocidade e memória serão minhas armas (“Da modernidadeâ€).
I V
Um corpo passeia na asa do vento e na brisa da água aguçando o ritmo da canção que atravessa olhos, ouvidos, narinas e cabelos. "Tudo é tato", mãe. Quando o passado pede luz é porque há uma lucidez impressa no corpo que lê: "a claridade beijava o mundo" ("Tempo").
V
Uma tradição sonora e verbal aviva a memória e avisa que quanto mais Ãntimo do mito ou do demo, menos discernimos neles o quanto de ficção e sabedoria onÃrica e corpórea os compõem. O excesso de riso do demo gasteja o seu golpe – é o que lecionam os demônios “Da modernidadeâ€. E se eles não tivessem o que (e como) dizer – seja no palco ou seja na página – é claro que, desde a BÃblia, eles não teriam tanto espaço.
* Nonato Gurgel é graduado e Ms em Letras pela UFRN e Dr. em Ciência da Literatura pela UFRJ.
Para ler alguns poemas do livro consulte o Banco de Cultura
Sugiro que seja editado. É um ótimo livro de poesia. Vi a peça sobre o poema do livro, a Da Modernidade, li o livro e recomendo.
Valeu,
Andrea.
Achei ótimo encontrar tanto o livro quanto o cd sendo dilulgados nesse site , acho que se houvesse mais divulgação na mÃdia ambos fariam mais sucesso.
Também assisti a peça e acho que poderia ser levada para outras salas de teatro, afim de proporcionar aos outros a oportunidade de assistir à uma peça criativa e bem feita.
A peça já é um espetáculo literalmente! Voto na edição do livro também.
iuriaraujo · Rio de Janeiro, RJ 5/9/2006 11:46
Muito bom trabalho, meu caro André! Parabéns e boa sorte!
Abraços do Verde.
Esse homen é o artista!!!!Tudo que ele faz é bom!!!Seus livros,cds e etc...O Brasil só tem a ganhar,boa literatura,boa musica!Boa sorte meu mestre!!!
Renata Felipe · Rio de Janeiro, RJ 5/9/2006 15:04Muito bom mestre, se o Brasil tivesse maior interesse pela cultura, serÃamos sem dúvida, um paÃs melhor.Parabéns por seu talento tão refinado.
Deb · São João de Meriti, RJ 5/9/2006 15:19
Eu fiquei curioso, Deb, sobre qual é esse Brasil que não tem interesse na cultura. Estive durante o final de semana inteiro em um festival de cultura tradicional em BrasÃlia onde várias vertentes da cultura nordestina estavam presentes, e muito presentes... e todo mundo lá estava curtindo. Tinha gente de todos os tipos, todas as roupas...
E, mais do que isso, pra todo lugar que vc vai (tirando aqueles que foram totalmente "esterilizados" pela sizudez que importamos de sabe-se lá onde...) há música, há cores e trejeitos e festas. Eu conheço um Brasil que se interessa sim, e MUITO, pela cultura (a própria e a alheia). O que nos falta, muitas vezes, é a capacidade de articular, produzir, potencializar, difundir, possibilitar... viabilizar nossas expressões culturais e transformá-las em, quem sabe, algo de que se possa viver.
O Brasil, seja ele qual for, tem muito a aprender sobre como tratar sua cultura, mas não nos falta interesse não. Falta articulação e know-how...
E este é um dos muitos motivos pelos quais sou apaixonado pelo Overmundo, que possibilita, entre outras coisas, que o André possa falar sobre seus projetos e trabalhos.
Abraços do verde, e vamos articulando e aprendendo a fazer...
O livro tem poemas muito interessantes e o poeta, neste quarto livro, demonstra um evidente amadurecimento de sua produção poética
alvaro marins · Rio de Janeiro, RJ 6/9/2006 11:21
Debate, crÃtica, afetividade, interação: valeu pela força!
abraços e beijos
Overmundo é isso aÃ, meu amigo. :)
E os elogios que vc recebeu são merecidos.
Abraços do verde.
Me sinto até envergonhada em tecer algum comentário.
Voto sepre com meu coração.dei meus 3 votos com grande carinho.Beijos em seu coração.
Continuo envergonhada,porém agora meu voto aumentou,já vale 4 pontos.
Valeu, Clara, pelos comentários carinhosos. Dá uma olhado em minha página no myspace, tem mais música, poesia, vÃdeos e fotos lá: www.myspace.com/andregardel
Beijos
André Gardel
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