A magia do circo está morrendo

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Luiz Gustavo Pacete · Osasco, SP
19/1/2007 · 112 · 7
 

A arte circense é uma das mais antigas da história da humanidade, teve origem em povos viajantes, e existe nas mais variadas categorias, circo de rua, circo tradicional, circo chinês, circo russo e diversos outros. O circo consegue agrupar vários tipos de arte, como o malabarismo, o palhaço, a acrobacia, o adestramento de animais, equilibrismo, magia e muitas outras atrações.Fatos históricos também evidenciam o surgimento do circo, como os espetáculos feitos pelos romanos nos grandes estádios, onde os cristãos eram jogados na arena para serem devorados por leões, os bobos da corte que no circo acabaram assumindo o papel do palhaço, e outras coisas mais que foram se juntando com o passar do tempo como peculiaridades de culturas locais, como a mulher barbuda, o homem pássaro, os números de magia, entre outros.

A grande maioria dos artistas moravam em confortáveis traillers, e desenvolviam sua rotina diária juntamente com sua família, o que já não é tão fácil realizar atualmente, as crianças vão ao colégio brincam e iniciam seus ensaios para sua futura profissão circense, as mães costumam cuidar dos afazeres domésticos e dos ensaios no picadeiro. Os homens têm a rotina dos ensaios, cuidam da manutenção dos carros e dos trailler bem como de outras atividades domésticas e do circo.

A alegria e fascinação que o circo proporciona tem sido comprometida, e caso não venhamos a fazer algo para o incentivo desta arte ela pode desaparecer. Nas grandes cidades muitas vezes o circo não consegue mais atrair aquele público de antigamente, geralmente ele concorre com os shoppings, que se tornaram o programa principal de muitos cosmopolitas. As crianças fascinadas pela tecnologia encontrada em video-games e lan-houses não vêem tanto atrativo assim no circo, como na época de nossos pais e avós. O incentivo por parte do governo também é um fator relevante nos problemas enfrentados pelo circo, na maioria das vezes o circo arca com toda os custeios desde o aluguel de espaço, a manutenção, a divulgação e outras coisas mais que poderiam ser patrocinadas ou incentivadas pela iniciativa pública.

Atualmente o circo brasileiro passa por uma crise, as produções estão sendo ameaçadas devido ao custo de manutenção de animais de grande porte que acaba desestimulando sua presença nos picadeiros. Além do custo de manutenção dos animais serem altos, o IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e as ONGs, sempre que podem, dão um jeito de aplicar multas. Os equipamentos estruturais do circo como as lonas também são uma dificuldade, cada vez mais sofisticadas em sua confecção elas estão com preços extremamente altos, devido a baixa procura muitas vezes não existe forma de baratear afirma grande maioria de circenses. Isso demanda a necessidade do aumento do ingresso, afirma Dalva Maffi, dona do Circo Moscou, porém com a alta dos ingressos que já se mantêm o mesmo valor por três anos ocorre o afastamento do público. Segundo Dalva, o público do circo em grandes cidades como Belo Horizonte costuma ser de 3.500 pessoas por semana, um número cada vez mais minguante, o circo se tornou uma atividade com retorno arriscado e inseguro.

Existem algumas iniciativas no país que persistem em manter a arte circense, como a Academia Brasileira de Circo que vem tentado mudar a realidade, incentivando os jovens a se interessar pelo circo, inclusive com aulas e apresentações realizadas pelos próprios alunos.

O Festival Mundial de Circo do Brasil, realizado anualmente, que surgiu com a constatação de que a arte circense se mantém viva e intensa em nosso país e que, fazia-se necessário um evento que reunisse todas as tendências dessa importante manifestação cultural. O desafio é estimular as novas gerações e o aprendizado dessa arte como possibilidade real de inclusão social e de geração de emprego e renda.

O Movimento Rua do Circo de Brasília é um outro exemplo de iniciativa, conta com uma equipe de oito profissionais dentre artistas, organizadores e psicólogos. Uma vez por semana, o grupo se reúne para fazer exercícios de aquecimento, alongamento e começar as aulas debaixo da lona no Clube da Imprensa, onde uma área está em reforma para essa finalidade.

Os moradores de rua almoçam no projeto e depois partem para uma conversa em grupo, quando fazem uma grande roda e discutem as principais novidades e anseios de todos. Mas o grupo ainda não conta com patrocínio fixo para as atividades. Mesmo com todas as dificuldades de reunir o grupo e trabalhar na busca de um futuro melhor para os moradores de rua, os artistas do movimento continuam tentando se mobilizar para conquistar novos alunos e manter o projeto de pé. Em 2007, eles pretendem aumentar o número de aulas e buscar novos financiamentos.

A vinda do Cirque de Soleil para o Brasil contribuiu para chamar atenção dos governantes. Com sua moderna estrutura tecnológica, figurino luxuoso e ótimos efeitos, nada mais é do que um circo que começou como qualquer outro, com estruturas simples, porém que recebeu investimento e crédito por parte do governo, e agora é referência mundial.

Quem nunca se encantou com o globo da morte, o homem bala, o mistério dos grandes mágicos, o talento das contorcionistas e o dom de fazer palhaçadas e aquela famos frase "Respeitável público". Que tal se trocássemos uma ida ao shopping para dar um pulinho no circo e ver espetáculos únicos que nos dão uma grande lição de superação e capacidade humana? O espetáculo não pode parar, o circo precisa continuar e isso também está em nossas mãos, dê você também um incentivo ao circo, leve seus filhos, faça-os conhecer este mundo que já encantou e fez muito feliz a vida de nosso pais e avós.


Texto: Luiz Gustavo Pacete de Lima - gustavo.pacete@revistanucleo.com.br

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Tetê Oliveira
 

Oi, Luiz Gustavo. Estive em Xapuri há um mês e lembro que havia um circo pequeno na cidade. Era uma grande atração pra criançada e suas famílias. Muito interessante ver que a magia do circo, apesar de tudo, ainda persiste.
Quanto ao seu texto, não entendi por que vc usa o depoimento da ex-trapezista em off. Acredito que o texto ganharia muito mais com a identificação dela e tb se vc incluísse falas de alguns outros artistas e alunos desses cursos de artes circenses que citou.
No 3º parágrafo, vc diz que "uma das maiores dificuldades encontradas pelo circo é a falta de incentivo por parte do governo - é o desinteresse do público, que com os atrativos tecnológicos..." Vc quis destacar uma ou duas?
Acho que vale dar uma relida, principalmente se vc tiver mais informações/dados/números sobre a situação do circo no país.
Do jeito que está, parece-me que vc optou por escrever um artigo (opinião) e não um texto factual, né?
Abs e até.

Tetê Oliveira · Nova Iguaçu, RJ 16/1/2007 22:03
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Carlos ETC
 

Aprovo totalmente este incentivo, Gustavo!
Parabéns pelo texto!

Carlos ETC · Salvador, BA 16/1/2007 23:07
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Luiz Gustavo Pacete
 

Tetê muito obrigado pelas dicas e pelo olhar crítico em relação ao texto, sem dúvida contribui para sua melhoria, tentei alterar algumas coisas e melhorar outras, valeu!

Luiz Gustavo Pacete · Osasco, SP 17/1/2007 09:30
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Tetê Oliveira
 

Que bom que deu tempo de vc incluir mais informações, Gustavo. Parece ser bem interessante esse trabalho da turma de Brasília. Viva o circo!

Tetê Oliveira · Nova Iguaçu, RJ 17/1/2007 19:19
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Marcelo Rangel
 

Muito bom ver a magia do circo por aqui, Gustavo!! Aqui no nordeste a coisa também é triste, decadente, mas a resistência dos artistas e o interesse do público nos bairros periféricos, nas cidades e povoados do interior não morre nunca! Parabéns pelo texto e pela escolha do tema!

Marcelo Rangel · Aracaju, SE 19/1/2007 16:54
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Rynaldo Papoy
 

Oi, eu também sou de Osasco. Abraço!

Rynaldo Papoy · Guarulhos, SP 28/4/2007 22:21
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Giovane_Ambiental
 

eu sei que o circo faz e fez parte da vida de muitas pessoas, mas porque antes não se tinha idéia de que há crueldade atrás do riso. Animais são surrados e torturados dias após dia e chegam a ficar neuróticos...até chegar á morte.
Nenhum se escapa das chicotadas, pauladas e etc... para serem condicionados através da dor.
Isso realmente me indiguina e não é culpa do "IBAMA", de que o encanto dos circos esteja morrendo, é mais do que merecido!!! Já gostei muito de circos até descobrir isso...
caso não acreditem olhem os videos no you tube...ajudem a denunciar...ABRAÇOS

Giovane_Ambiental · Rio Grande, RS 12/6/2011 20:30
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