A missão de uma bailarina especial

Marcos Paulo
A Bailarina da Praça em plena atividade
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Marcos Paulo · Rio de Janeiro, RJ
24/5/2007 · 337 · 32
 

Elielza Bailarina Ramos Freire, 37 anos, aprendeu a viver de uma forma diferente. Ela descobriu na dança uma maneira de levar sempre consigo um sorriso no rosto, uma alegria no olhar e uma missão a cumprir: tornar as pessoas, no seu dia-a-dia, mais felizes. Uma missão, segundo ela divina, que a tornou uma das figuras mais conhecidas na cidade de Porto Velho. A simples Elielza deu espaço à ‘Bailarina da Praça’. Há 14 anos é assim que ela prefere ser chamada.

“Sempre fui muito religiosa, mas, naquele tempo, quando ainda trabalhava na prefeitura do município de Candeias, fiz uma visita à praça Marechal Cândido Rondon, localizada no centro de Porto Velho, e percebi que faltava alguma coisa – o cenário era basicamente de pessoas sujas, bêbadas e perturbadasâ€, relembra Elielza, que, após feita a visita, começou a estudar a bíblia. “Foi quando Deus falou comigo e disse que eu descobriria quem realmente era através do povoâ€, afirma. Em 93, no dia 17 de outubro, Elielza participa de um show de dança em plena praça Jonathas Pedrosa e descobre, pouco tempo depois, que sua missão era apenas dançar para um público completamente transeunte. Verdade ou não, ela continua com esta saga até hoje.

Quando começou a dançar na praça Marechal Rondon – hoje seu principal local de referência - Elielza conta que sofreu com ações de engraxates, menores abandonados e gangues, mas ela não desanimou e com o tempo quem a perturbava começou a respeitá-la. “Chegava bem cedinho, dançava o dia inteiro e só ia embora pra casa após varrer a praça inteira, geralmente lá pelas 3 horas da madrugadaâ€, diz. “As pessoas me viam como uma coitadinha, mas diziam que a ‘Bailarina da Praça’ era legalâ€, completa.

Todos os dias, a ‘Bailarina da Praça’ segue rumo ao mesmo lugar de sempre com uma motocicleta, um gravador e uma caixa de som amplificada. Não ganha nada pra isso. O figurino é de sua autoria, sempre em tons fortes e chamativos. Para ela, cores da alegria. “Me visto assim porque as pessoas me vêem com um olhar diferente, geralmente de críticas ou pensam que sou maluca, mas elas não sabem que eu adoro críticas e que de maluca eu não tenho nadaâ€, diz a ‘Bailarina’ com um sorriso estampado no rosto. E dá o recado: “eu sou uma pessoa feliz porque tenho muita gente pra olharâ€. No som da caixa, o ritmo é o dance music e não é escolhido à toa. “As batidas fazem mexer o corpo inteiro e eu apenas deixo a música sair de dentro de mimâ€. Trata-se de uma dança completamente inusitada sem qualquer padrão característico a ser seguido por uma bailarina profissional.

Mas as opiniões em torno desta figura dançante são diversas. O estudante Fábio Cruz, 24 anos, vê a ‘Bailarina’ como um ícone de coragem e demonstração de força de vontade. “O que me chama atenção é que ela não se sente envergonhada de ser o que é, apenas uma dançarina de praça pública sem qualquer intento lucrativoâ€, observa o estudante. Já a vendedora Jasmim Silva, 31 anos, não entende bem o real objetivo da ‘Bailarina’. “Dá até pra sentir a alegria que ela transmite, mas o que ela ganha com isso?â€, questiona.

Divorciada e mãe de três filhos, Elielza não tem emprego fixo e transmite um segredo no olhar quando indagada sobre o que ela faz para garantir o seu e o próprio sustento da família. Os filhos, por sua vez, respeitam o que a ‘Bailarina da Praça’ faz, mas não querem seguir o mesmo caminho da mãe.

Patrimônio Cultural?

Embora seja tradicionalmente conhecida na cidade, a ‘Bailarina da Praça’ não se considera um patrimônio cultural, como já foi taxada várias vezes por pessoas que, segundo ela, querem “aparecerâ€. “Realmente inventaram essa história, mas te digo uma coisa: não existe nenhum documento – eu pelo menos nunca vi – que comprove que sou essa coisa de patrimônio culturalâ€, esclarece. E completa: “é o público que avalia se eu faço ou não parte da cultura regionalâ€.

Elielza diz que nunca foi convidada para uma festa cultural, mas, mesmo assim, nunca deixou de ir. “Geralmente me querem longe de qualquer evento relacionado à cultura e eu acabo participando da festa como se fosse um penetraâ€, reclama. Para ela, “cultura é valorizar o talento que cada um tem para oferecer, não julgar pela aparênciaâ€.

Mesmo sem a devida valorização, ela se sente feliz. Diz que, através da dança, transmite a paz e ajuda as pessoas a buscarem ânimo e realizar seus objetivos.

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Higor Assis
 

Marcos Paulo!

Mais uma Jóia rara do nosso querido Brasil, parabéns pela matéria.

Pensou se você conseguisse colocar uma sonora da "Nossa Bailarina", seria bacan hein.

Higor Assis · São Paulo, SP 22/5/2007 08:50
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Marcos Paulo
 

Pronto, Higor!

:)

Marcos Paulo · Rio de Janeiro, RJ 22/5/2007 18:11
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Helena Aragão
 

Marcos, quando li seu texto bem fiquei pensando que seria o máximo ter um vídeo dela. Agora vi que você postou, que máximo! Só fiquei com pena de não ver ela dançando (apesar de ter achado lindinha a declaração dela). Admiro essas pessoas que conseguem abrir um sorriso desses por achar que fazem bem às outras. Abraço

Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 22/5/2007 19:41
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Marcos Paulo
 

Pois é, Helena. A Bailarina distribui esse sorrisão pra todo mundo, sem excessão. É um "bom dia" pra lá...ou um "oi gatinha(o)" pra cá. Uns param para olhar mais de perto, outros passam direto...

Valeu pelo comentário!

Marcos Paulo · Rio de Janeiro, RJ 23/5/2007 08:28
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maramarina
 

que linda! adoro conhecer estas figuras que têm em todo canto, mas que sãotão particulas e interessantes. sempre tem algo pra ensinar a nós, pobres "normais".

bjo e valeu mesmo.

maramarina · Aracaju, SE 23/5/2007 17:16
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Andre Pessego
 

Mascos, só queria dizer, feliz iniciativa, vou além..
- Eu não consigo entender a conceituação de arte nao popular. Se é arte ogrigatoriamene é popular. Infelizmene ou não as Américas sem querer cortar o umbigo europeu, esbanjou nas conceituações das coisas das novas terras. um abraço

Andre Pessego · São Paulo, SP 23/5/2007 22:05
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Tati MOTTA
 

Adorei!

Tati MOTTA · Belo Horizonte, MG 24/5/2007 13:11
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Natacha Maranhão
 

Quando eu for em Porto Velho quero dançar com ela...
adorei!!!

Natacha Maranhão · Teresina, PI 24/5/2007 14:04
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Marcelo V.
 

Chama mesmo a atenção, nos dias de hoje, alguém que "trabalha" sem ganhar dinheiro. A pergunta continua: como ela se sustenta?

Marcelo V. · São Paulo, SP 24/5/2007 14:43
1 pessoa achou útil · sua opinião: subir
Gisele Colombo
 

Aqui em Campo Grande tem um cara que faz um trabalho bem parecido com o dela, é o Paulo do Radinho. Ele carrega um radio nos ombros e sai dançando pelas avenidas da cidade! O astral dele alegra qualquer um! Abraços

Gisele Colombo · Campo Grande, MS 24/5/2007 15:10
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Marcos Paulo
 

A. Pessego: obrigado pelo comentário.

Tatiana: eu também!

Natacha Maranhão: Me chama que eu quero ver isso. rsrs...

Marcelo V: Não é bem um trabalho, mas uma forma que ela encontrou de levar a vida. Se sustenta de trabalhos afora da dança, que preferiu não especificar bem o que era.

Gisele: fiquei com vontade de saber um pouco mais sobre o Paulo do Radinho. Por que vc não escreve algo sobre ele?

Um abraço à todos!

Marcos Paulo · Rio de Janeiro, RJ 24/5/2007 17:03
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Poeta Jorge Henrique
 

Fabuloso!
Êita povo brasileiro! Que consegue transfigurar tudo em arte! Em vida!
Adorei a matéria, as fotos e estou tentando baixar o vídeo.
Parabéns, Marcos!

Poeta Jorge Henrique · Nossa Senhora da Glória, SE 24/5/2007 18:12
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Ronye Pires
 

Muito boa a matéria...
Por isso o Brasil é o melhor país do mundo...
As pessoas fazem o que bem entendem!
Dão a cara a tapa sem e importar com o que vão pensar...
Querem mais é ser feliz!
Muito boa a matéria, digna de um bom tablóide!
Abraço

Ronye Pires · Campinas, SP 24/5/2007 18:14
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Thiago Perpétuo
 

Putz... PRECISO ir à Porto Velho!!!(rs) Muito boa esta matéria, e que figura rica essa bailarina. Dia após dia, o Overmundo põe no chinelo os "grandes canais de comunicação". Quando ees mulher teria voz??? Muito bom mesmo...

Thiago Perpétuo · Brasília, DF 24/5/2007 20:14
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Henrique Araújo - Grupo TR.E.M.A
 

ótimo texto. muito sincero e honesto. por incrível que pareça, a figura da bailarina dançando e sorrindo pra todos que passam na praça me deixou triste. uma melancolia sem explicação ou, quem sabe, estimulada por algum elemento presente no texto.

abraços!

Henrique Araújo - Grupo TR.E.M.A · Fortaleza, CE 24/5/2007 21:56
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Tomás
 

Muito legal marcos!
Desde quando eu era moleque sempre me deparei com essa figura pela cidade, e sempre fui cumprimentado com um sorriso.
Ela é uma figura folclórica da cidade. Já ouvi várias histórias, até me permito chamar de 'lendas': "que ela está pagando uma promessa de um filho era muito doente", "que o marido à abandonou e ela não consegue ficar em casa", e entre outras a mais comum de "que ela simplesmente é louca."
Mas não, basta você trocar algumas palavras com ela pra perceber q é uma pessoa muito lúcida e super de bem com a vida. E o mais impressionante é que ela dedica a sua vida a felicidade, e celebra todos os dias.
Abraços

Tomás · Porto Velho, RO 24/5/2007 22:09
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Labes, Marcelo
 

É incrível que exista gente dedicada a nos fazer sorrir. Imagino o impacto que seria se ela dançasse aqui em Blumenau, onde tu é austero e duro! Será que consigo trazê-la pra dançar por aqui?
Excelente texto, Marcos. É muito importante, pra mim, conhecer essas várias facetas do povo brasileiro. Muito obrigado!

Labes, Marcelo · Blumenau, SC 24/5/2007 22:31
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José
 

Emocionado fiquei...
Agradecido!!

José · Criciúma, SC 25/5/2007 07:56
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FILIPE MAMEDE
 

Parabéns pelo post. " É a vida, é a vida e é bonita"... uma verdadeira aula de alegria. Um abraço.

FILIPE MAMEDE · Natal, RN 25/5/2007 09:14
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Marcos Paulo
 

Poeta José Henrique: valeu!!!

Ronye: ela é assim mesmo, feliz da vida!

Thiago: venha quando puder. :)

Henrique: :)

Tomás: isso mesmo! É uma felicidade vinda não sei de onde. Legal ver teu comentário por aqui. Vc bem podia colaborar mais com o Overmundo, né? Bem queria ver um texto teu por aqui.

Labes: Ela dançar aí, em Blumenau? Que maneiro! Abraços.

José: Eu que agradeço. :)

Marcos Paulo · Rio de Janeiro, RJ 25/5/2007 09:16
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cesar caranguejo
 

Cara fiquei muito bem com essa matéria
As pessoas estão realmente precisando dessa injeção de ânimo da Bailarina. Porque a vida aqui no Brasil não é fácil não!
Acho que se eu morasse em Porto Velho, dava um jeito de passar nessa praça todos dias. Pra começar o dia alegre e com muito jogo de cintura

cesar caranguejo · Aracaju, SE 25/5/2007 09:33
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João Rafael
 

Se toda praça contasse com uma Elielza, sem dúvida, as pipocas, os sorvetes, os balões e os passeios em família seriam mais felizes!

João Rafael · Sabará, MG 25/5/2007 10:12
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dj yuga
 

Salve Marcos Paulo!

Obrigado por nos apresentar a Elielza, o Brasil que o Brasil não conhece.

Abraços

Yuga

dj yuga · Belo Horizonte, MG 25/5/2007 10:41
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Marcos Paulo
 

Cesar: que bom saber que vc gostou; da matéria e da 'Bailarina'.

João Rafael: com certeza.

dj yuga: abração!

Marcos Paulo · Rio de Janeiro, RJ 25/5/2007 11:29
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Guilherme Mattoso
 

demais a história, parece uma fábula, mas é real. adorei!

Guilherme Mattoso · Niterói, RJ 25/5/2007 20:10
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Tânia Brito
 

Gisele, como não seria promover um encontro entre a bailarina e o Paulinho do radinho...?!
É o Brasil da diversidade mesmoooooooo

Tânia Brito · Campo Grande, MS 25/5/2007 20:33
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Helena Aragão
 

Marcos, tomara que você consiga imprimir esses comentários todos para ela poder sentir que pessoas de várias partes do Brasil estão retribuindo tamanho sorriso!

Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 25/5/2007 21:19
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Marcos Paulo
 

Guilherme: Real mesmo. Obrigado pelo comentário!

Tânia: ótima idéia. Eu bem quis saber mais do Paulinho.

Helena: com certeza. Ela me fez assumir o compromisso de levar a matéria quando ficasse prontar. Quero ver a reação dela ao ver comentários de gente espalhada por esse Brasil afora.

Marcos Paulo · Rio de Janeiro, RJ 25/5/2007 23:10
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siroit
 

interessante

siroit · Rio de Janeiro, RJ 26/5/2007 10:53
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dj yuga
 

Salve, salve...

Outro texto muito bom, que vale a pena dar uma conferida "O FANTASMA VIVO DE ONDINA"

No mais...


dj yuga · Belo Horizonte, MG 29/5/2007 15:57
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Higor Assis
 

Marcos Paulo.

Primeiramente lhe agradeço pelo outra colaboração o video é simplesmente maravilhoso. Outra coisa, desculpe por todo este atraso, pois estava com problemas e não tive tanto tempo para o overmundo.

Parabéns mais uma vez, um abraço.

Higor Assis · São Paulo, SP 30/5/2007 16:34
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MakacoKósmico
 

Muito bom artigo! Pegou a essência da coisa mesmo. É uma artista que semeia uma indagação. Hesito em pensar se melhor seria se houvesse mais pessoas do tipo para se comentar...
Em extremo modo teríamos uma massa de "indivíduos semeadores de felicidade" por ai, e a essência de perderia.
Creio que é por isso que seu papel é tão importante. De outro modo seu trabalho não seria tão bem feito, pois os maiores gênios sempre foram e serão taxados de loucos, mas seu trabalho fica pela eternidade dos terrenos alheios às limitações humanas.

MakacoKósmico · Porto Velho, RO 13/11/2007 01:54
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