Elielza Bailarina Ramos Freire, 37 anos, aprendeu a viver de uma forma diferente. Ela descobriu na dança uma maneira de levar sempre consigo um sorriso no rosto, uma alegria no olhar e uma missão a cumprir: tornar as pessoas, no seu dia-a-dia, mais felizes. Uma missão, segundo ela divina, que a tornou uma das figuras mais conhecidas na cidade de Porto Velho. A simples Elielza deu espaço à ‘Bailarina da Praça’. Há 14 anos é assim que ela prefere ser chamada.
“Sempre fui muito religiosa, mas, naquele tempo, quando ainda trabalhava na prefeitura do municÃpio de Candeias, fiz uma visita à praça Marechal Cândido Rondon, localizada no centro de Porto Velho, e percebi que faltava alguma coisa – o cenário era basicamente de pessoas sujas, bêbadas e perturbadasâ€, relembra Elielza, que, após feita a visita, começou a estudar a bÃblia. “Foi quando Deus falou comigo e disse que eu descobriria quem realmente era através do povoâ€, afirma. Em 93, no dia 17 de outubro, Elielza participa de um show de dança em plena praça Jonathas Pedrosa e descobre, pouco tempo depois, que sua missão era apenas dançar para um público completamente transeunte. Verdade ou não, ela continua com esta saga até hoje.
Quando começou a dançar na praça Marechal Rondon – hoje seu principal local de referência - Elielza conta que sofreu com ações de engraxates, menores abandonados e gangues, mas ela não desanimou e com o tempo quem a perturbava começou a respeitá-la. “Chegava bem cedinho, dançava o dia inteiro e só ia embora pra casa após varrer a praça inteira, geralmente lá pelas 3 horas da madrugadaâ€, diz. “As pessoas me viam como uma coitadinha, mas diziam que a ‘Bailarina da Praça’ era legalâ€, completa.
Todos os dias, a ‘Bailarina da Praça’ segue rumo ao mesmo lugar de sempre com uma motocicleta, um gravador e uma caixa de som amplificada. Não ganha nada pra isso. O figurino é de sua autoria, sempre em tons fortes e chamativos. Para ela, cores da alegria. “Me visto assim porque as pessoas me vêem com um olhar diferente, geralmente de crÃticas ou pensam que sou maluca, mas elas não sabem que eu adoro crÃticas e que de maluca eu não tenho nadaâ€, diz a ‘Bailarina’ com um sorriso estampado no rosto. E dá o recado: “eu sou uma pessoa feliz porque tenho muita gente pra olharâ€. No som da caixa, o ritmo é o dance music e não é escolhido à toa. “As batidas fazem mexer o corpo inteiro e eu apenas deixo a música sair de dentro de mimâ€. Trata-se de uma dança completamente inusitada sem qualquer padrão caracterÃstico a ser seguido por uma bailarina profissional.
Mas as opiniões em torno desta figura dançante são diversas. O estudante Fábio Cruz, 24 anos, vê a ‘Bailarina’ como um Ãcone de coragem e demonstração de força de vontade. “O que me chama atenção é que ela não se sente envergonhada de ser o que é, apenas uma dançarina de praça pública sem qualquer intento lucrativoâ€, observa o estudante. Já a vendedora Jasmim Silva, 31 anos, não entende bem o real objetivo da ‘Bailarina’. “Dá até pra sentir a alegria que ela transmite, mas o que ela ganha com isso?â€, questiona.
Divorciada e mãe de três filhos, Elielza não tem emprego fixo e transmite um segredo no olhar quando indagada sobre o que ela faz para garantir o seu e o próprio sustento da famÃlia. Os filhos, por sua vez, respeitam o que a ‘Bailarina da Praça’ faz, mas não querem seguir o mesmo caminho da mãe.
Patrimônio Cultural?
Embora seja tradicionalmente conhecida na cidade, a ‘Bailarina da Praça’ não se considera um patrimônio cultural, como já foi taxada várias vezes por pessoas que, segundo ela, querem “aparecerâ€. “Realmente inventaram essa história, mas te digo uma coisa: não existe nenhum documento – eu pelo menos nunca vi – que comprove que sou essa coisa de patrimônio culturalâ€, esclarece. E completa: “é o público que avalia se eu faço ou não parte da cultura regionalâ€.
Elielza diz que nunca foi convidada para uma festa cultural, mas, mesmo assim, nunca deixou de ir. “Geralmente me querem longe de qualquer evento relacionado à cultura e eu acabo participando da festa como se fosse um penetraâ€, reclama. Para ela, “cultura é valorizar o talento que cada um tem para oferecer, não julgar pela aparênciaâ€.
Mesmo sem a devida valorização, ela se sente feliz. Diz que, através da dança, transmite a paz e ajuda as pessoas a buscarem ânimo e realizar seus objetivos.
Marcos Paulo!
Mais uma Jóia rara do nosso querido Brasil, parabéns pela matéria.
Pensou se você conseguisse colocar uma sonora da "Nossa Bailarina", seria bacan hein.
Marcos, quando li seu texto bem fiquei pensando que seria o máximo ter um vÃdeo dela. Agora vi que você postou, que máximo! Só fiquei com pena de não ver ela dançando (apesar de ter achado lindinha a declaração dela). Admiro essas pessoas que conseguem abrir um sorriso desses por achar que fazem bem à s outras. Abraço
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 22/5/2007 19:41
Pois é, Helena. A Bailarina distribui esse sorrisão pra todo mundo, sem excessão. É um "bom dia" pra lá...ou um "oi gatinha(o)" pra cá. Uns param para olhar mais de perto, outros passam direto...
Valeu pelo comentário!
que linda! adoro conhecer estas figuras que têm em todo canto, mas que sãotão particulas e interessantes. sempre tem algo pra ensinar a nós, pobres "normais".
bjo e valeu mesmo.
Mascos, só queria dizer, feliz iniciativa, vou além..
- Eu não consigo entender a conceituação de arte nao popular. Se é arte ogrigatoriamene é popular. Infelizmene ou não as Américas sem querer cortar o umbigo europeu, esbanjou nas conceituações das coisas das novas terras. um abraço
Quando eu for em Porto Velho quero dançar com ela...
adorei!!!
Chama mesmo a atenção, nos dias de hoje, alguém que "trabalha" sem ganhar dinheiro. A pergunta continua: como ela se sustenta?
Marcelo V. · São Paulo, SP 24/5/2007 14:43Aqui em Campo Grande tem um cara que faz um trabalho bem parecido com o dela, é o Paulo do Radinho. Ele carrega um radio nos ombros e sai dançando pelas avenidas da cidade! O astral dele alegra qualquer um! Abraços
Gisele Colombo · Campo Grande, MS 24/5/2007 15:10
A. Pessego: obrigado pelo comentário.
Tatiana: eu também!
Natacha Maranhão: Me chama que eu quero ver isso. rsrs...
Marcelo V: Não é bem um trabalho, mas uma forma que ela encontrou de levar a vida. Se sustenta de trabalhos afora da dança, que preferiu não especificar bem o que era.
Gisele: fiquei com vontade de saber um pouco mais sobre o Paulo do Radinho. Por que vc não escreve algo sobre ele?
Um abraço à todos!
Fabuloso!
Êita povo brasileiro! Que consegue transfigurar tudo em arte! Em vida!
Adorei a matéria, as fotos e estou tentando baixar o vÃdeo.
Parabéns, Marcos!
Muito boa a matéria...
Por isso o Brasil é o melhor paÃs do mundo...
As pessoas fazem o que bem entendem!
Dão a cara a tapa sem e importar com o que vão pensar...
Querem mais é ser feliz!
Muito boa a matéria, digna de um bom tablóide!
Abraço
Putz... PRECISO ir à Porto Velho!!!(rs) Muito boa esta matéria, e que figura rica essa bailarina. Dia após dia, o Overmundo põe no chinelo os "grandes canais de comunicação". Quando ees mulher teria voz??? Muito bom mesmo...
Thiago Perpétuo · BrasÃlia, DF 24/5/2007 20:14
ótimo texto. muito sincero e honesto. por incrÃvel que pareça, a figura da bailarina dançando e sorrindo pra todos que passam na praça me deixou triste. uma melancolia sem explicação ou, quem sabe, estimulada por algum elemento presente no texto.
abraços!
Muito legal marcos!
Desde quando eu era moleque sempre me deparei com essa figura pela cidade, e sempre fui cumprimentado com um sorriso.
Ela é uma figura folclórica da cidade. Já ouvi várias histórias, até me permito chamar de 'lendas': "que ela está pagando uma promessa de um filho era muito doente", "que o marido à abandonou e ela não consegue ficar em casa", e entre outras a mais comum de "que ela simplesmente é louca."
Mas não, basta você trocar algumas palavras com ela pra perceber q é uma pessoa muito lúcida e super de bem com a vida. E o mais impressionante é que ela dedica a sua vida a felicidade, e celebra todos os dias.
Abraços
É incrÃvel que exista gente dedicada a nos fazer sorrir. Imagino o impacto que seria se ela dançasse aqui em Blumenau, onde tu é austero e duro! Será que consigo trazê-la pra dançar por aqui?
Excelente texto, Marcos. É muito importante, pra mim, conhecer essas várias facetas do povo brasileiro. Muito obrigado!
Parabéns pelo post. " É a vida, é a vida e é bonita"... uma verdadeira aula de alegria. Um abraço.
FILIPE MAMEDE · Natal, RN 25/5/2007 09:14
Poeta José Henrique: valeu!!!
Ronye: ela é assim mesmo, feliz da vida!
Thiago: venha quando puder. :)
Henrique: :)
Tomás: isso mesmo! É uma felicidade vinda não sei de onde. Legal ver teu comentário por aqui. Vc bem podia colaborar mais com o Overmundo, né? Bem queria ver um texto teu por aqui.
Labes: Ela dançar aÃ, em Blumenau? Que maneiro! Abraços.
José: Eu que agradeço. :)
Cara fiquei muito bem com essa matéria
As pessoas estão realmente precisando dessa injeção de ânimo da Bailarina. Porque a vida aqui no Brasil não é fácil não!
Acho que se eu morasse em Porto Velho, dava um jeito de passar nessa praça todos dias. Pra começar o dia alegre e com muito jogo de cintura
Se toda praça contasse com uma Elielza, sem dúvida, as pipocas, os sorvetes, os balões e os passeios em famÃlia seriam mais felizes!
João Rafael · Sabará, MG 25/5/2007 10:12
Salve Marcos Paulo!
Obrigado por nos apresentar a Elielza, o Brasil que o Brasil não conhece.
Abraços
Yuga
Cesar: que bom saber que vc gostou; da matéria e da 'Bailarina'.
João Rafael: com certeza.
dj yuga: abração!
demais a história, parece uma fábula, mas é real. adorei!
Guilherme Mattoso · Niterói, RJ 25/5/2007 20:10
Gisele, como não seria promover um encontro entre a bailarina e o Paulinho do radinho...?!
É o Brasil da diversidade mesmoooooooo
Marcos, tomara que você consiga imprimir esses comentários todos para ela poder sentir que pessoas de várias partes do Brasil estão retribuindo tamanho sorriso!
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 25/5/2007 21:19
Guilherme: Real mesmo. Obrigado pelo comentário!
Tânia: ótima idéia. Eu bem quis saber mais do Paulinho.
Helena: com certeza. Ela me fez assumir o compromisso de levar a matéria quando ficasse prontar. Quero ver a reação dela ao ver comentários de gente espalhada por esse Brasil afora.
Salve, salve...
Outro texto muito bom, que vale a pena dar uma conferida "O FANTASMA VIVO DE ONDINA"
No mais...
Marcos Paulo.
Primeiramente lhe agradeço pelo outra colaboração o video é simplesmente maravilhoso. Outra coisa, desculpe por todo este atraso, pois estava com problemas e não tive tanto tempo para o overmundo.
Parabéns mais uma vez, um abraço.
Muito bom artigo! Pegou a essência da coisa mesmo. É uma artista que semeia uma indagação. Hesito em pensar se melhor seria se houvesse mais pessoas do tipo para se comentar...
Em extremo modo terÃamos uma massa de "indivÃduos semeadores de felicidade" por ai, e a essência de perderia.
Creio que é por isso que seu papel é tão importante. De outro modo seu trabalho não seria tão bem feito, pois os maiores gênios sempre foram e serão taxados de loucos, mas seu trabalho fica pela eternidade dos terrenos alheios às limitações humanas.
Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
Você conhece a Revista Overmundo? Baixe já no seu iPad ou em formato PDF -- é grátis!
+conheça agora
No Overmixter você encontra samples, vocais e remixes em licenças livres. Confira os mais votados, ou envie seu próprio remix!