A Nação em Ação

.nação crew.
.Nação.
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joao xavi · São João de Meriti, RJ
10/8/2007 · 99 · 4
 

“Nação não é bandeira / Nação é união / Família não é sangue / Família é sintonia”. Os versos da canção “R.A.M”, presente no disco de estréia d´O Rappa, explicam bem o sentimento que corre nas veias dos grafiteiros que compõem a Nação Crew. Atuando juntos desde 2000, o grupo de jovens oriundos do subúrbio carioca utiliza a linguagem artística do grafitti para dar novos sentidos à paisagem do Rio.

Ment, Bragga, Preás, Chico, Gais, Stile, Ocrespo e Machintal. Talvez eles não sejam conhecidos pelos nomes ou apelidos. Mas se você circula pelo Rio de Janeiro com certeza já se deparou com algum grafitti desses caras. Os trabalhos da Nação estão espalhados pela cidade de ponta a ponta. Da Zona Oeste a Zona Sul, passando também pela Baixada Fluminense. Atualmente a crew ocupa espaço de destaque na cena do grafitti nacional, chegando até mesmo a realizar incursões artísticas na Holanda e Espanha. Tudo isso é fruto de um trabalho intenso, concretizado com ações que ao longo dos anos visam fortalecer o grafitti na cidade.

A história da Nação começa em meados dos anos noventa e gira em torno da cultura Hip-hop, do Skate e das festas de Rap que aconteciam no Rio. Os grafiteiros circulavam nesses espaços, se encontravam e trocavam idéias. A aproximação aconteceu de forma mais intensa nas oficinas de grafitti que desde aquela época já rolavam em algumas comunidades cariocas. Foram nessas oficinas que os integrantes do que futuramente se tornaria a Nação perceberam que existia uma série de afinidades entre seus trabalhos.

No início, a marca “Nação” já era visualmente trabalhada pelo Chico que estampava camisetas usadas pelo pessoal do skate no bairro do Méier. Conforme a rapaziada passou a pintar junto a marca começou a ser utilizada para assinar os graffitis, “A gente saia pra pintar e colocava o símbolo lá do lado, meio que no automático mesmo. A gente se identificava com a parada. Mas não tinha a pretensão de ser uma empresa, um grupo”, explica Ment.

A partir daí as coisas foram acontecendo de forma natural, o grupo continuou pintando e conquistando cada vez mais espaço. O que mudou foi a percepção de como o grafitti poderia ser utilizado para construir um canal de comunicação que ajudasse a costurar alguns rasgos dessa cidade partida. “Eu já fazia alguns trabalhos educacionais em escolas, mas não tinha essa noção da força que o grafitti tem como ferramenta de levar a arte para pessoas que não tem acesso. É uma ferramenta muito direta, você fala diretamente pras pessoas de igual para igual, sem diferenciação de classe”.

Através das palavras de Ment percebemos que a Nação conjuga sua produção artística com engajamento social e político de uma forma leve, sem ranços e rancores, porém bastante efetiva. A proposta do grupo minimiza as fervorosas discussões que acontecem em torno de questões como: grafitti das ruas X trabalhos comerciais. A polêmica é posta pelos que acreditam que o grafitti se define estritamente como arte da rua, que só pode ser realizado de maneira informal, nunca pode ser comercializado, encomendado, ou receber qualquer tipo de incentivo financeiro. Na contra-mão desta postura a rapaziada da Nação, muitas vezes, encontra nos trabalhos comerciais o caminho para viabilizar as ações na rua. Ment nos explica como o esquema funciona: “A gente faz um trabalho, pede uma quantidade X de tinta, a gente já sabe que vai sobrar. Então nada mais justo que a gente reverta aquelas tintas que ganhamos comercialmente pra rua. Que é de onde a gente veio e onde a gente sempre vai estar”.

Galeria Severo 172
Um passo importante na caminhada da Nação foi a criação da galeria Severo 172, o espaço é o primeiro local no Rio de Janeiro totalmente dedicado a arte de rua. A idéia principal é fazer da Severo 172 um ponto de referência para arte de rua na cidade. Em um ano de atividades a galeria já abrigou exposições de grafitti (em diversos suportes) de artistas de outros estados e países, o lançamento de um livro sobre grafitti, já foi palco de algumas festas de Hip-hop, entre outras ações. Estes eventos contribuem para a manutenção do espaço que é totalmente gerenciado pelo pessoal da Nação.

Grafite + RAP + Poesia = GRAP
Em novembro de 2006 a galeria Severo 172 recebeu o projeto GRAP, uma parceria entre a Nação e a poetisa Claudia Roquette-Pinto. A proposta foi a abertura de um diálogo artístico entre a linguagem visual do grafitti e a linguagem literária da poesia. Aproximadamente quinze poetas foram convidados por Claudia, cada poeta teve uma de suas obras reconstruídas pelos grafiteiros da Nação. O resultado do projeto pôde ser visto em uma noite na Severo 172, além da exposição das telas, o evento contou com a participação do rapper João Xavi e projeções de vídeo. O DJ, e grafitteiro, Machintal produziu uma música com trechos da leitura de algumas das poesias. O resultado você pode conferir aqui. O próximo passo do projeto é realizar uma resposta no sentido inverso: os poetas irão escrever tendo os grafittis como base.

Dos muros às telas de cinema
Ment nos conta que a trajetória da Nação começou nas ruas, “Todo mundo do grupo se identifica com a rua, vem da rua, aprendeu o que sabe na rua. Ninguém tem formação acadêmica, todo mundo é autodidata.”. Este tipo de atuação rapidamente chamou atenção dos olhares mais atentos. Em 2004 as atividades da crew foram registradas por Erick Maximiliano Oliveira, que dirigiu o vídeo “Nação”. O documentário de 16 minutos ganhou alguns prêmios em festivais de cinema por todo Brasil.

No meio de um mar de informações que criam a chamada poluição visual, a arte urbana insiste em trazer propostas diferenciadas para cobrir os espaços da cidade. A rapaziada da Nação vai deixando suas marcas por ai, embelezando o mundo entre a tentativa de viver do grafitti e viver para o grafitti. Quando perguntado sobre a importância do grafitti em sua vida, Ment responde: “Eu, hoje em dia, tomo café, almoço e janto grafitti. É a minha vida mesmo e não sei o que eu faria se não fosse isso”.

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dudavalle
 

Quando rola o próximo GRAP ? Infelizmente não pude comparecer ao primeiro.
Pois ... paz sem voz paz sem voz não é paz é medo !

dudavalle · Rio de Janeiro, RJ 7/8/2007 01:15
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Cicero de Bethân
 

Parabéns, pela matéria e pelos excelentes trabalhos. Uma das melhores coisas que já vi. Quem me dera ter visto uma sequer quando passei por ai.
Abraço!

Cicero de Bethân · Vitória, ES 9/8/2007 09:46
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mariobands
 

Parabéns pela trajetória galera do Nação!

mariobands · Rio de Janeiro, RJ 20/8/2007 09:58
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Cacau Amaral
 

Valeu Xavi. Coloquei minha homenagem ao Nação:
http://www.overmundo.com.br/banco/nacao

Cacau Amaral · Duque de Caxias, RJ 29/8/2009 12:49
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.bezerra da silva pelas mãos da nação. zoom
.bezerra da silva pelas mãos da nação.
.Pintura na rua. zoom
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.pintura na galeria severo 172. zoom
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