Eis-me aqui descortinando este meu espÃrito lendário, completamente envolvida pelo passado que só trará o seu contrário.
Sinto saudade da infância quase feliz, das realizações, dos fracassos e da juventude fragmentada. Lembro o amor mal argumentado, consolidado apenas no filho nascido em terra de soldados, que também é valente e vence por vontade.
Netos? Ainda não chegaram, mas já os amo como filhos duas vezes interiorizados.
Aqui estou eu deslizando os dedos pelas fibras do futuro, acariciando o ainda não concretizado. É neste momento dilatado que todas as dores parecem nada. Confrontadas com as alegrias, são reflexos de uma vida realizada.
Descobri há pouco que amar é mais sublime que ser amada, pois o anjo que me habita é superior ao demônio que me assaltava.
O porquê do devaneio? É pelo futuro que chegou antecipado, com sua dança antiga embrulhada para presente, sem a qual eu poderia ter passado.
Trouxe consigo toda a certeza de que a história grava. Algumas vezes, ela manda recado; outras, vem como visita inesperada.
Hoje sei que sou gigante em carne pálida, esqueci que, vestida de noite, ela espreitava; sedutora, vagava pela casa instalando-se na sala.
Eis-nos aqui frente a frente, cara a cara, como presas inseparáveis numa mesma escala. É o fim... e ainda assim estou plena, como quando meu cachorro chega e abana o rabo, sorri e inventa a própria fala.
É o sim da nave mãe oferecendo a passagem. Estamos inteiras sem presente ou passado, sem medo ou coragem. A morte é assim, não tem futuro, não se prende a nada.
Estou feliz mesmo sem conhecer os mistérios da nova estrada.
Nercy Luiza Barbosa
Uma vez pensei que fosse morrer durante um assalto, mas estava tranqüila nesse ponto. Por mim, se tivesse que ir, estava em boa hora... Engraçado porque muita gente tem medo da morte!
Eu tenho mais medo de sofrer aqui do que de mudar de plano... Tipo ficar um "tempão" em um hospital, em uma cama, ... Nem ...
OLA NERCY
QUERIDA AMIGA
VAMOS CAMINHAR .
BJS
NORA
Parabéns!!! gostei do texto. No geral poucos querem falar sobre assuntos como esse. Seu texto faz isso de uma forma legal..........
Marcelo Uchoa · Aracaju, SE 1/11/2006 22:24
Obrigada pela votação, Marcelo, Nora e Cris. por terem gostado do que leram. Valeu mesmo.
Beijos a vocês
Legal Nercy. "Deslizando os dedos pelas fibras do futuro". Só quem tem a poesia na alma faz prosa com essa beleza toda.
um abração.
Tipicamente Nercy Lispector. RSRS
Amei, amiga.
Pablo... eu aqui, emocionada com seu comentário. "poesia na alma", essa é a beleza da coisa toda.
Abraços, querido
Ju, minha linda... Ser comparada à Clarice é de uma beleza e responsabilidade incalculável. Dá até medo! rrrsss
Nercy Luiza · Rio Branco, AC 2/11/2006 23:35
Cris, tambáem não tenho medo da morte, mas tenho medo da dor que nos devora quando pessoas que amamos morrem. É simplesmente indizÃvel.
Esse encontro acontecerá, inevitavelmente, como o tÃtulo do filme: "Encontro Marcado".
Beijos, menina querida
Penso que estou na fase três, ainda, ou seja, de depressão. É incrÃvel como a aceitaçao demora a a chegar. Realmente ficamos doentes, há a dor, a tristeza, a raiva (essa, penso que se dá para manter nossa sanidade mental, deve ser).
Mas continuamos, não há outra saÃda.
Beijos, Cris querida
Assisti um programa televisivo sobre esse tema ontem. Passou devido ao dia de Finados, logicamente...
Falaram que os genitores são os "pilares" de uma pessoa... que essa perda é muito representativa. Também acho que será para mim...será uma perda incalculável. Nem sei o quê acontecerá... Será intenso, profundo demais! Nem sei se poderei sobreviver a isso... Deverei sobreviver porque a vida segue, né? Ainda assim será excessivamente marcante!
Falaram também que a pessoa passa por 5 fases de luto após a morte de um ente querido. Não lembro quais. Serão as mesmas que um doente sente durante o curso da sua doença?
Achei na Internet as fases que um doente passa:
- Negação;
-Raiva;
-Negociação;
-Depressão;
-Aceitação.
Nercy,
Sem dúvida, a influência Clariceana está presente. O texto é muito bonito. Não querendo repetir o comentário dos outros sobre os trechos que chamama a atenção, vou falar da "nave mãe"... eu gostaria de vê-la... sempre sonhei com isso... rsrsrs. Seu sentimento de encarara morte com tranqüilidade me faz lembrar uma pergunta: por que a tememos tanto? Por que não vê-la com curiosidade... afinal, é a maior de todas as aventuras.
Grande beijo. Obrigada pela dica do overmundo...
Luna, quando criança, e até mesmo adulta, não só sonhei com a poderosa "nave mãe", como a desejei ardentemente. Hoje sei que ela virá ao seu próprio tempo, e não há como fugir, ou me esconder. Então a acaricio em tempo futuro. Claro que consciente, ou inconscientemete, tento seduzÃ-la para que ela (a nave) me trate com carinho. rrrssss. Pobre inocente que sou, querendo manipular o imponderável.
Beijos carinhosos, querida
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