Quem já assistiu a uma apresentação de Bumba-meu-boi, dança folclórica que se originou no Maranhão e tornou-se tradicionalÃssima nas regiões Norte e Nordeste, sabe bem a história. A moça Catirina está grávida e tem desejos de comer a lÃngua do boi preferido do dono da fazenda. Tanto pede e implora que consegue convencer o marido a arrancar o pedaço de carne. O boi não resiste ao ferimento e morre. Com medo que o dono da fazenda fique bravo, o pobre homem chama um pajé para ressuscitar o animal. Ele dança e canta para que o boi viva novamente. Quando isso acontece, começa uma grande festa.
Bull Dancing – Urro de Omi Boi, antes de ser uma adaptação do Bumba-meu-Boi, é uma desconstrução. Em mais de uma hora de apresentação, seis artistas são bois, são homens, morrem e matam. Assisti ao espetáculo e vi que os artistas ali no palco não queriam apenas os aplausos da platéia quando tudo findasse. Os elementos tradicionais estão lá: o boi, o pajé, a moça, o homem com o facão. Mas o roteiro vai além, e busca desnudar confrontos individuais e sociais do ser humano. O corpo é usado para mostrar desejo, dor e dúvida. Mas também para mostrar alegria e força.
Para o jornalista Eugênio Rego, bailarino de formação, Bull Dancing faz uma analogia entre o corpo do boi, vendido aos pedaços para muitas pessoas, e o corpo do homem ou mulher que se prostitui, também vendendo seus pedaços a preços diferenciados. “Quando a Monika entrou no palco perguntando quanto custa cada pedaço do seu corpo, me veio à mente um balcão de açougueâ€. O esquartejamento que o boi sofre na dança tem seu paralelo nos esquartejamentos que o ser humano se impõe na vida real: de caráter, de personalidade, de sonhos.
Também há música – criada e tocada por três músicos piauienses que fazem parte do elenco: Josh S. (do Lado 2 Estereo), Fábio Crazy da Silva (do Eletrosilva) e Sérgio Mattos (da Orquestra Filarmônica do PiauÃ). Em diversos momentos do espetáculo, a batida folclórica do boi se funde com beats eletrônicos, ritmos tradicionais eslovacos e arranjos eruditos – também um renascimento, só que metamorfoseado. É uma novÃssima personalidade para uma conhecida criatura.
Essa busca por novas roupagens é explicada pelo diretor geral do espetáculo, Marcelo Evelin: “Bull Dancing tem o bumba-meu-boi como ponto de partida, reconhece elos comuns entre povos, inspirando-se no imaginário popular brasileiro e deflagrando nosso papel no mundo atualâ€, comenta.
Bull Dancing é uma co-produção entre o Teatro João Paulo II e o Teatro Hetveem, de Amsterdam, Holanda. O elenco inclui ainda os mÃmicos Monika Haasova, da Eslováquia e Fabian Santarciel, do Uruguai. A assistência de direção e dramaturgia é da holandesa Loes van der Pligt. O artista maranhense Urias foi convidado para criar os adereços e a produção é de Klayton Amorim e Regina Veloso. O espetáculo estréia dia 02 de setembro em São LuÃs, e deve seguir para outras capitais brasileiras ainda este ano. No inÃcio de 2007, será apresentado na Holanda. Mas o elenco está mesmo ansioso é para sentir a receptividade dos maranhenses. Que, afinal de contas, são os verdadeiros donos do boi que eles desconstruÃram.
Conheço de perto o trabalho do Marcelo Evelin e posso dizer que esse não é o seu melhor espetáculo. Por outro lado, é o mais abertamente polÃtico, crÃtico e com uma denúncia clara. O bumba-meu-boi é uma metáfora para falar sobre violência urbana, suas razões (como a pobreza, a bebida como fuga), agressão contra a mulher e outros temas que podem ser captados - e que se fazem presentes pela intenção ou ausência dela por parte do diretor.
Como toda a obra de Evelin, este não é um espetáculo fácil de de ser entendido. Isso é uma marca sua: o coreógrafo sempre disse que a arte não pode ser vista como algo para "digerir o jantar". Por isso, suas montagens são acusadas de herméticas, vanguardistas demais, até beirando o surrealismo. Já houve quem dissesse que ele nem sabia o que estava fazendo ou não conhecia, de fato, a dança.
Para entendê-lo a fundo, se é que isso é possÃvel, participei da montagem da sua versão da Sagração da Primavera, batizada de Sacre. Pude compreender que nada na sua dança + teatro + música é estático, pronto, embalado e despachado para o consumo do público. Ao contrário: é um desafio primeiro para o artista encontrar-se dentro da obra e só depois tentar - e essa é palavra - conduzir o espectador ao que ele encontrou.
Bull Dancing não é fácil de ser digerido, mas, pelo menos, tem uma proposta bem mais clara que os demais espetáculos de Marcelo Evelin.
A reação ensimesmada mostrando até um certo desconforto da platéia continua a refletir que o modelo de criação do coreógrafo ainda não é entendido em sua totalidade. Para nós dança ainda é dança, teatro é teatro, a música tem papel secundário em espetáculos contemporâneos em alguns casos e pronto. Se sair desse modelo, fica difÃcil entender.
Sem querer levantar bandeiras, o que o Marcelo Evelin propõe é uma leitura um pouco mais sofisticada nas artes cênicas. É preciso usar de um bom repertório para conectar-se a Bull Dancing. Não é difÃcil.
O que o espetáculo mostra faz parte de nossa realidade, seja artista ou pessoa comum. Basta apenas abrir o canais e usar um pouco de sensibilidade para entender a criação que tem sotaque estrangeiro mas fala a nossa lÃngua de forma muito, muito interessante.
Eugênio, isso é o que eu chamo de "auxÃlio luxuoso".
bjos e obrigada!
Querida Natacha:
Tem quem jure, gente séria, que o Bumba meu Boi nasceu mesmo foi no Piauà que é, afinal, um espaço cultural que surgiu a partir da pecuaria extensiva que adentrou o Estado, a partir da Bahia, seguindo o curso dos rios Piauà e Canindé principalmente. Em palestra proferida na Câmara Municipal da ParnaÃba, para uma platéia que incluia os integrantes de cerca de 20 conjuntos folclóricos de bois da ParnaÃba, o premiado dramaturgo Benjamim Santos reclamou, de forma veemente. para o PiauÃ, a paternidade do Bumba-meu-boi.
Sem patriotada, a gente deve, no entanto, anotar as diversas versões a respeito da bela e empolgante tradição.
Achei também muito interessantes as opiniões emitidas pelo Eugenio Rego.
beijos e abraços
do Joca Oeiras, o anjo andarilho
Só mais uma coisinha, tem outro "maranhense" participando do Bull Dancing, o iluminador Wagner Heineck, paulista que se encantou com a Ilha do Amor e hoje trabalha no Teatro Alcione Nazaré.
Natacha Maranhão · Teresina, PI 30/8/2006 12:11Acho que Marcelo Evelin é sempre ousado e adota uma linguagem para poucos. Torço para que o seu espetáculo percorra o paÃs e apresente a sua postura interpretativa diante da manifestação cultural. Porém, o bumba-meu-boi emana do povo e cheira a cultura sertaneja. Prefiro a leitura simples que sai das entranhas do sertão à linguagem de pequenos grupos que não identificam a cultura popular. Entre a leitura inteligente de Marcelo Evelin e a interpretação ingênua dos legÃtimos representantes de nossa cultura, fico com a segunda. Não quero refletir sobre a encenação popular repetida há tantos anos sem pretensões, muito menos traçar paralelos com realidades suburbanas. Reconheço o bumba-meu-boi e desprezo o Bull Dancing
Giordani · Teresina, PI 30/8/2006 18:15
Querido Giordano:
Sem querer polemizar, e reconhecendo o seu pleno direito de expressão, não posso concordar com o termo "desprezo" que você reservou para Bull Dancing. Porque, meu amigo, há tantas ações abolutamente desprezÃveis (embora também abomináveis) como a a guerra do LÃbano, só para ficar num único exemplo, que não acho justo "desprezar" um espetáculo artÃstico, mormente em se tratando de uma criação do Marcelo Evelin.
Por outro lado, não vejo qualquer destrato à tradição popular refletir sobre ela de forma criativa, isto é, o espetáculo Bull Dancing, ao referenciar-se ao "Bumba meu Boi" presta sim uma homenagem a esta manifestação folclórica, fazendo, como diria o meu amigo parnaibano Zé de Maria, uma releitura.
Resumindo, entre o bumba-meu-boi e Bull Dancing não vejo nenhuma contrafacção e creio, sinceramente, meu caro Giordano, que você se movimenta sobre um falso problema.
Explicando melhor, proponho que você goste ou desgoste de Bull Dancing pelos seus próprios méritos ou deméritos e não por que "prefere" o Bumba meu boi.
beijos e abraços
do Joca Oeiras,o anjo andarilho
Gostei do texto. Na verdade, já tinha visto apresentações de Boi, inclusive no Maranhão, que é a coisa mais linda, mas a história contadinha assim nos detalhes você que me contou no seu primeiro parágrafo, obrigado.
E agora fiquei curioso, será que foi no PiauÃ, ou no Maranhão, que apareceu o Boi?
...as vezes me pergunto porque é mesmo que (eu/nós) temos que fazer escolhas claras e precisas que determinem e definam com exatidão o meu discurso sobre O QUE QUER QUE SEJA. Entender? Não enteder? Gostar não gostar? Prefirir? (o cárater espontâneo e "legÃtimo" da manifestação folclórica "DO" (?) Maranhão) Desprezar?. Se pro artista não existe o pronto o acabado o definitivo o inalterado...porque pra mim enquanto individuo que assisto e que penso com todas( ou grande parte) das estruturas cognitivas de quem está no palco, sobra apenas, dizer SIM ou NÃO? Me pergunto muito, e quando acontece de dizer algo sobre um espetáculo ou acontecimento, tenho na maioria das vezes mais perguntas do que respostas. Por que pra mim o start da fruição ou o "como aquilo me altera" não cabe num comentário...
E veja bem É importante pensar sobre O QUE DIABOS É MESMO AQUILO. SEja diante de um boi ou da banda Calcinha Preta. Mas penso (e isso é pessoal pra caralho) que ´"abrir os canais", como diz o Eugênio no primeiro comentário, não pode ter como consequência uma apreciação/julgamento que se encerre em: o espetáculo é dificil! Mas eu gostei!
... Bacana mesmo é ver uma coisa que parece o quarto da minha casa, é sentir vontade de comer lÃngua de boi e pensar (fodendo-se as metafóras) fisiologicamente como é ter fome (de tudo), é pensar no corpo (meu, e de um bocado de gente do curral metrópole) cru e nú a caminho do abate porque viver ás vezes tem tamanha inutilidade....Bacana mesmo é ver o sÃmbólico e o lúdico que se conecta com minhas entranhas (saiba eu ou não o que é do boi do piaà ou do maranhão)....viche é tanta coisa mas aà teria de ser um outro comentário.
Marcelo, essa é uma discussão eterna, rsrsrs. Os maranhenses juram de pés juntos que são os donos do boi, e essa é a história mais aceita oficialmente, até mesmo pelo pessoal de Parintins (que faz outro boi, diferentão e talz). Mas os piauienses também querem afirmam que são os donos...e entre os dois estados existe essa rivalidadezinha há muuuuuuito tempo.
Natacha Maranhão · Teresina, PI 1/9/2006 13:14
Layane, sua participação aqui é sempre muito interessante! Venha mais vezes!
beijo pra vc
Nat, convite aceito. Espero vir mais vezes por aqui. Vou tentar conhecer um pouco mais a fundo o universo cultural. Assisti Bul-dancing e confesso... Ao sair, nenhuma mensagem comigo... Não gostei do que vi. Embora, não seja um especialista em dança, lhe digo com todas as letra NÃO RECOMENDO NEM PARA OS INIMIGOS. Para mim, outra coisa tão chocante quanto o "espetáculo" foi a manifestação das pessoas na platéia... Atônitas diante do que viam. E, ao final, de pé... Aplaudindo, como se tivessem compreendido tudo. Algo, que rende uma boa crônica. Até a próxima!
Alisson Dias Gomes · Teresina, PI 1/9/2006 16:55Nat, convite aceito. Espero vir mais vezes por aqui. Vou tentar conhecer um pouco mais a fundo o universo cultural. Assisti Bul-dancing e confesso... Ao sair, nenhuma mensagem comigo... Não gostei do que vi. Embora, não seja um especialista em dança, lhe digo com todas as letras: NÃO RECOMENDO NEM AOS INIMIGOS. Para mim, outra coisa tão chocante quanto o "espetáculo" foi a manifestação das pessoas na platéia... Atônitas diante do que viam. E, ao final, de pé... Aplaudindo, como se tivessem compreendido realmente a mensagem. Algo, que rende uma boa crônica. Até a próxima!
Alisson Dias Gomes · Teresina, PI 1/9/2006 16:57
Afff...que discussão boa que deu essa postagem!
Adorei seu texto Natacha! Fiquei com vontade de ver o espetáculo...curiosa e intrigada...
Na época dos estertores da União Soviética presenciei, no Salão Nobre da Faculdade de Direito do Largo São Francisco uma cena realmente patética quando um "Camarada" soviético discursou em russo, sem tradução simultânea, para uma platéia razoavelmente repleta que, ao final, aplaudiu de pé o palestrante, antes de ouvir a tradução da sua fala. Uma coisa triste!
Agora não entender uma obra de arte e, mesmo assim, aplaudÃ-la, até extasiado, não me parece um despropósito. As manifestações artÃsticas mexem com outras partes do cérebro, e do próprio corpo do que a pura ordem das razões. Você já ouviu falar de "obra aberta", multiplicidade de interpretações de uma obra de arte, que é, inclusive,aquilo que mais a enriquece, hein Allison?
beijos e abraços
do Joca Oeiras,o anjo andarilho
Natye,
Teu texto deu uma vontade bonita danada de ver o espetáculo.
Mas tu escreve tão preciso que deu também uma dor, e um sentimento assim, de se sentir "vaca", sabe ?
(e não somo todos gados com seus números de identidade e marcas digitais, e cadastros e fichas e etc ?)
concordo com voce joca!
Marcelo Cabral · Maceió, AL 2/9/2006 12:10
Puxa, que legal que está sendo esta discussão, não só em si mesma como para mim. Obrigado, Marcelo, não por concordar comigo , mas por fazê-lo publicamente, comigo: é muito raro acontecer e é muito bom quando me acontece. Também, através dela, eu descobri (mais) uma amiga daquelas que, tenho a certeza, serão especiais para o resto da minha vida, uma pessoa linda! Isto Sem desdouro algum para a discussão em curso.
Agradeço por isto a todos, em especial à Natacha, amiga tão querida e jornalista cuja competência chega a me comover, ao Marcelo Evelin amigo que, quanto mais conheço, mais admiro, e ao Eugênio, a quem não conheço pessoalmente mas que me foi muito bem recomendado pela sua madrinha, a minha comovente amiga Oda Mae.
beijos e abraços
do Joca Oeiras, o anjo andarilho
PS Sem embargo de tudo o que disse, esperto que a discussão contunue!
Para mim o Bull Dancing trata-se de um espetáculo folclórico, pois não só é sobre uma dança dramática, mas sobre os q fazem essa dança, q pode ser eu ou qualquer um, até os q lá não estavam e não participaram do ato violento de matar ou mesmo de morrer. Você já deve ter visto isso em casa?
Sempre tive medo dessa violência de “chico-homemâ€, nunca quis saber o q tem por baixo do boi ou por dentro. Percebo q meu medo de menino não era do boi ou da morte dele e sim q eu morresse com ou sem ele, vejo nisso a minha ignorância em temer o boi quando criança sem saber q coisa mais perigosa existe em baixo.
Eu, o homem a bumbar.
O mais bacana da obra é quando ela reverbera e de alguma forma provoca o debate trazendo a tona posições, opiniões, reações tão distintas....muita gente apaludiu de pé, muita gente quer ver novamente e muita gente diante do "outro" boi e de uma espécie de estranhamento prefere em letras garrafais "NÃO RECOMENDO NEM PROS INIMIGOS"!. (rsrsrsrss desculpa mas é cômico)
E o que dizer? VIVA! VIVA!... e vamos mais ao teatro seja espetáculo do marcelo, seja boi, seja dança ou não, seja lá o que for...
Natascha, obrigada!beijo retribuido.
Ao Joca: multiplicidade, obra aberta,corpo...hum..hum...hum....coisa boa hein discutir? Penso parecido.Parabéns!
Gente, mas isso tá é rendendo, hein? E eu to a-do-ran-do!
Joca, meu amor, você é que é um doce...e concordo sobre a arte mexer com partes nao-lógicas da gente. Por isso reconheço o aplauso mesmo quando não está tudo absolutamente claro.
Alisson, venha sempre. E traga seus textos!!
Aninha, o Bull Dancing vai viajar pelo Brasil ano que vem.Quem sabe não passa por a� beijos, minha amore!
Luciano, bom te ver aqui! Temos um banco de cultura esperando contribuições suas!
Querida Natacha:
Tem uma amiga minha que reclamou, com razão, que você não informou o local nem o horário do espetáculo em São LuÃs. Tem jeito de suprir esta falha? Alguém tem notÃcias de como foi a estréia na capital maranhense?
beijos e abraços
do Joca Oeiras, o anjo andarilho
Natacha,
Eu realmente gostaria de saber local e horário das apresentações em São LuÃs (obrigada pela forcinha, Joca!) Até quando o espetáculo fica por lá?
Abraços,
Rosa Magalhães
www.odamae.zip.net
Joca e Rosa, não coloquei data e horário da apresentação em São LuÃs porque essa informação foi colocada pelo overmano maranhense, em uma nota na Agenda do Maranhão. Tá aqui
Passei a nota pro Zema Ribeiro, porque ele que é responsável pela agenda do Maranhão.
Sobre a apresentação na Ilha do Amor, ainda não tive nenhuma informação.
beijos
Acabo de voltar do Bull Dancing. Estou com a alma lavada: o espetáculo resume tudo o que quis dizer no texto sobre a Missão de Pesquisas Folclóricas: transforma as palavras em ação. Sabia que era coisa boa: afinal o Josh não se mete em besteira, a Natacha já tinha falado bem aqui, e sempre escuto os melhores elogios para o trabalho do Marcelo Evelin. Mas gostei muito mais do que poderia imaginar. Marcelo tira o "folclore" daquele lugar fofinho e bonitinho no qual muita gente boa teima em o aprisionar. "Cultura popular", nessa prisão, vira aquele negócio intocável, naïf, desconectado, passado, flácido. Quando não vira lojas de artesanato no aeroporto (das quais gosto mais) ou grupo coitadinho pedindo o dinheirinho das fantasias para o secretário da cultura que aprendeu que deve fingir que gosta do "autêntico" (ou gosta do "autêntico" pelas razões furadas). Todas as vezes que fui numa festa "folclórica", quando a brincadeira ficava boa mesmo era porque não era nada disso, era porque não era nada fofa. Brincadeira boa está ligada com o mundo de hoje, reflete sobre as grandes questões que toda grande arte tem que refletir: o lado sublime e o lado terrÃvel da experiência humana. Pense no boi: Catirina é a marca da maldade, e também da beleza produzida pelo excesso de vontade. Ela quer comer a lÃngua do boi de qualquer maneira: e aà começa a pancadaria sanguinária, nada ecologicamente correta, que produz a morte e a ressurreição do boi. Festa que é boa pode sair de controle a qualquer momento. Festa boa fica testando limites o tempo todo (como tentei mostrar na minha dissertação sobre o baile funk - ver principalmente o CapÃtulo I), testa a possibilidade de que os limites sejam ultrapassados e que não sobre ninguém para dizer como era do "outro lado". Em festa bem popular, então (como algumas que vi, onde a cachaça era servida em baldes), muitas vezes o outro lado é o lado de dentro. Bull Dancing sabe que o "folclore", como a vida, é também trash metal, punk, peixeira amolada, porrada - tudo ao lado de momentos de beleza e alegria fulminantes. Bull Dancing é um grande acontecimento. Não perca esse boi, quando ele passar por sua cidade. Nesta semana agora, ele vai estar dançando em São Paulo (Dias 02/02 e 03/02, sexta-feira e sábado, 21h, SESC Ipiranga). Depois em Curitiba. Tomara que dance muito mais. É uma lição de bom uso - cosmopolita, contemporâneo, experimental - da cultura "nacional".
PS: Josh: não quer colocar trecho da trilha sonora aqui no Overmundo, pro povo sentir o peso?
Eu passei lá na porta mas não entrei. Mas enquanto seguia direto para casa, cansado e meio tostado de sol, em um taxi, senti uma pontada de arrependimento por não ter ficado.
Por tudo que a apresentação já parecia ser, e por tudo que o Hermano falou, o espetáculo deve mesmo ter sido um portal para "o outro lado" sublime e selvagem. Portais como só a arte, arte de verdade, sanguÃnea, consegue abrir/rasgar no cotidiano.
Abraços do Verde.
Será que dança aqui em BrasÃlia? Agora mais vontade ainda...
Não deu para ir quando estive no rio, muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo...
Abraços!
Assistir o Bull Dancing trouxe-me uma série de inquietações, não foi muito fácil digerir a mistura de emoções e sentimentos presentes no conteúdo do todo... os atores e a atriz são fantásticos, a obra de Marcelo, obra-prima. Se voltarem para Curitiba, quero revê-la, me emocionar mesmo que me traga incômodo. É deste incômodo que algo se produz e é desta arte que precisamos. Um abraço caloroso a todos.
Adriana Tie · Curitiba, PR 12/2/2007 13:02A cabeça de boi dentro de um balde ficou super interessante! Nós aqui no Acre temos o jabuti-Bumbá ,é uma iniciativa inovadora que tem como referência os folguedos dos Brasis. Estamos trabalhando para irmos ao Festival de Folguedos no PiauÃ, em junho.
Silene Farais · Rio Branco, AC 2/4/2007 23:57Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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